Novas tarifas da eletricidade
entram em vigor em Angola esta segunda-feira (15.07). A consultora Economist
Intelligence Unit considera que medida irá gerar descontentamento, mas sem agitação
social. Inflação deve subir.
"O aumento do
descontentamento público em resposta ao aumento dos preços é provável, mas não
antecipamos grandes perturbações sociais; a inflação abrandou, mas esperamos
que o aumento dos preços da eletricidade, o novo Imposto sobre o Valor Acrescentado
(IVA) e os novos impostos vão contribuir para taxas mais altas nos próximos 12
meses", escrevem os analisas da unidade de análise económica da revista
britânica The Economist.
Numa análise ao aumento dos
preços da eletricidade, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os
analistas da Economist dizem que "o aumento médio será de 97% e o impacto
da subida será certamente sentido" pelos consumidores.
A retirada dos subsídios era uma
das medidas defendidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que tem
acordado com Angola um programa de assistência financeira no valor de 3,7 mil
milhões de dólares desde o final do ano passado, assim como outras medidas para
corrigir os desequilíbrios macroeconómicos do país.
"Esta mudança surge num
contexto em que o país se prepara para introduzir o IVA de 14%, que tem sido
adiado várias vezes, e deverá continuar a ser adiado a curto prazo", diz a
EIU, notando que "estes fatores deverão contribuir para um aumento da
inflação, pelo menos a curto prazo" e alertando que "o aumento deverá
ser sentido pelas empresas, o que vai prejudicar os esforços de estimulação do
setor não petrolífero".
O Ministério das Finanças de
Angola anunciou num comunicado, a 02 de julho, que a implementação do Novo
Regime Tarifário da Energia Elétrica deveria vigorar desde o passado dia 24 de
junho, mas, "por razões técnicas e operacionais das instituições
responsáveis por assegurar este procedimento", a sua efetivação só
acontece a partir da segunda-feira (15.07).
De acordo com o Ministério das
Finanças, esta atualização dos tarifários dos serviços de eletricidade decorre
de uma medida estrutural de gestão macroeconómica, que passa por garantir que
os subsídios beneficiem efetivamente os segmentos mais vulneráveis da
população, contrariamente ao que vinha sucedendo até agora.
"Neste sentido, as novas
tarifas introduzem mecanismos de proteção dos consumidores com menores
rendimentos, para além de outras medidas de proteção social, que estão a ser
adotadas pelo executivo", lê-se na nota.
Em janeiro de 2018 que o Governo
angolano pretendia cortar em 25%, o equivalente a 275 milhões de euros, nos
subsídios que atribui às empresas públicas para manutenção dos preços aos
consumidores em serviços como água, energia e transportes, que deveriam
aumentar naquele ano.
No final de junho, o
representante residente do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Angola, Max
Alier, defendeu a eliminação dos subsídios à água e energia, argumentando que
os mesmos apenas beneficiam as pessoas com rendimentos altos: os subsídios aos
serviços públicos e aos preços dos combustíveis "são ineficientes, levam
ao consumo excessivo e beneficiam desproporcionalmente os ricos que os consomem
mais", disse, citado pelo Jornal de Angola.
"Por estes motivos
aconselhamos a sua eliminação. Ao mesmo tempo, sabemos que a parte do
rendimento gasto com serviços públicos, combustíveis e transporte pelas
famílias pobres é grande. Assim, em termos relativos, os pobres são mais
afetados pelo aumento do preço do combustível", adiantou.
As novas tarifas
O novo tarifário de energia para
consumidores de categoria social - clientes com capacidade reduzida em termos
de consumo - vai manter-se. Já para os clientes com consumo abaixo de 200
quilowatts o valor irá mais do que dobrar.
O reajuste foi feito igualmente
na "categoria doméstica geral", atualmente designada "categoria
doméstica monofásica", onde se encontram integrados a maioria dos
consumidores de eletricidade do país, cujo aumento será de 66%.
Já os clientes de "categoria
doméstica especial", agora designados por "categoria doméstica
trifásica" - grupo de maior capacidade e consumo - cujo preço cobrado
integra a produção e transporte, também pagarão mais do que o dobro.
Para a categoria indústria, o
preço sobre em torno de 82%, enquanto as categorias de comércio e serviços,
passam agora a integrar a categoria doméstica trifásica.
Segundo o presidente do conselho
de administração do Instituto Regulador dos Serviços de Eletricidade e de Águas
(IRSEA), Luís Mourão, citado pela agência noticiosa angolana, Angop, o cliente
final pagava em média 6,05 kwanzas (0,01557 euros) o quilowatt e agora vai
pagar 12,82 kwanzas (0,03299 euros), um incremento em todas as categorias de
97%.
Deutsche Welle
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