Em depoimento divulgado pela
GloboNews, suspeito diz que chegou a Glenn Greenwald através da ex-deputada
Manuela d’Ávila e afirma não ter recebido pagamento pelas mensagens.
Um dos detidos sob suspeita
de hackear celulares de autoridades contou à Polícia Federal (PF) como
invadiu as contas do aplicativo de mensagens Telegram e como chegou ao
jornalista Glenn Greenwald, além de negar ter manipulado as mensagens que teria
enviado. O depoimento de Walter Delgatti Filho foi revelado nesta sexta-feira
(26/07) pela emissora de televisão GloboNews.
Em depoimento, Delgatti disse que
decidiu repassar as mensagens a Greenwald devido ao papel do jornalista na
divulgação de documentos secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos
Estados Unidos obtidos pelo ex-analista de sistemas Edward Snowden. Ele afirmou
que se manteve anónimo e não recebeu nenhum pagamento pelo compartilhamento do
conteúdo.
Delgatti negou ainda ter
manipulado as mensagens e disse que acredita não ser possível alterar o conteúdo
devido ao formato utilizado pelo Telegram. Ele afirmou que se comunicou com
Greenwald de maneira virtual e repassou os arquivos ao jornalista pelo Dropbox,
um serviço para armazenamento e compartilhamento de arquivos.
O suspeito contou que conseguiu o
contato de Greenwald através da ex-deputada Manuela d'Ávila (PCdoB). Segundo o
depoimento, ele teria conseguido o telefone da política na lista de conatos do
Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele ligou para Manuela no Dia das
Mães, em 12 de maio, pedindo o número do jornalista.
"A princípio Manuela d'Ávila
não estava acreditando no declarante, motivo pelo qual fez o envio para ela de
uma gravação de áudio entre os procuradores da República Orlando [Martello
Júnior] e Januário Paludo", diz o depoimento. Depois disso, Delgatti teria
recebido uma mensagem de Greenwald, que disse ter interesse público no
material.
Manuela não cometeu nenhuma
irregularidade no caso. Segundo a Folha de S. Paulo, pela legislação
brasileira, a omissão sobre um ato ilícito não é crime. Mesmo que soubesse que
o hacker tivesse cometido um crime, ela não precisava denunciar o caso às
autoridades. Manuela também não cometeu nenhum ato ilícito ao intermediar o
contato entre Delgatti e Greenwald.
No depoimento, Delgatti disse que
a invasão de celulares de autoridades teria começado com o do promotor Marcel
Zanin Bombardi, de Araraquara (SP), que o denunciou por tráfico de drogas. No
aparelho, encontrou um grupo no Telegram chamado Valoriza MPF, onde acabou
conseguindo o acesso ao celular do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).
Da agenda de Kataguiri, obteve o
número do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos
contatos de Moraes, o suspeito chegou ao número do ex-procurador-geral Rodrigo
Janot e, pela agenda dele, descobriu os telefones dos procuradores da
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, entre eles Deltan Dallagnol, Orlando
Martello Júnior e Januário Paludo.
As invasões aos celulares teriam
ocorrido entre março e maio deste ano. Delgatti admitiu ter acessado ainda a
conta do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, porém, afirmou
não ter obtido nenhum conteúdo no aplicativo.
Segundo Delgatti, houve ainda a
invasão dos aparelhos de juízes do Tribunal Regional Federal da 2ª Região
(TRF-2), com sede do Rio de Janeiro, de procuradores da operação Greenfield,
que atuam em Brasília, nos quais "não encontrou nada ilícito", de
Dilma, do ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (MDB) e do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Delgatti, porém, negou ter
acessado os celulares do ministro da Economia, Paulo Guedes, da deputada Joice
Hasselmann (PSL-SP), e "de qualquer
outra autoridade do atual governo federal".
O vazamento
O Intercept Brasil, fundado por
Greenwald, vem publicando desde 9 de junho uma série
de diálogos de procuradores da Lava Jato e de Moro que levantaram
questionamentos sobre a conduta ética e legal da operação e do ex-magistrado. O
site afirmou ter obtido o material de uma fonte anónima.
Desde a revelação das mensagens,
Moro adotou a estratégia de negar ter cometido irregularidades e diz não
reconhecer a autenticidade das mensagens.
A Constituição determina que não
haja vínculos entre juiz e as partes em um processo judicial. Para que haja
isenção, o juiz e a parte acusadora – neste caso, o Ministério Público – não
devem trocar informações nem atuar fora de audiências.
Nos diálogos divulgados até
agora, Moro aparece cobrando a realização de novas operações, num diálogo com
um procurador, oferece uma dica sobre uma testemunha e chega a propor aos
procuradores uma ação contra a defesa do ex-presidente Lula.
Na véspera do comparecimento de
Moro ao Senado, o site divulgou, ainda, um diálogo no qual ele se posiciona
contra o envio de uma ação contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
uma vez que ela poderia "melindrar alguém cujo apoio é
importante".
Um dos vazamentos também reforçou
as suspeitas de estreita cooperação entre o juiz e Deltan Dallagnol para
evitar que tensões entre Moro e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
prejudicassem as investigações em 2016, durante uma fase crítica para a
força-tarefa.
Mais recentemente, o site também
divulgou mais conversas entre procuradores da Lava Jato. Num dos diálogos
revelados, membros da força-tarefa criticam a ida de Moro ao Ministério da
Justiça e manifestam temor de que a nomeação arranhasse a imagem da operação.
Outras mensagens também mostram
Moro orientando a Lava Jato para incluir provas num processo e fazendo
pressão para que o Ministério Público não aceite uma delação premiada do
ex-deputado Eduardo Cunha, além de impor
condições para aceitar o acordo de delação que estava sendo negociado
com dois executivos da empreiteira Camargo Corrêa.
Deutsche Welle | CN/ots
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