Análise
A presença de armas nucleares dos
EUA na Europa, inclusive na Itália, não é uma notícia. Especialista comentou
qual é o sentido de haver hoje em dia armas nucleares e bases americanas na
Europa e quando as autoridades italianas prestarão aos cidadãos as informações
sobre as que estão posicionadas no país.
Em entrevista à Sputnik Itália, Fabrizio Di Ernesto, autor do livro
"Porta-aviões Itália. Sessenta anos da OTAN no nosso país", apontou
que o relatório sobre a presença de armas nucleares dos EUA na Itália, cuja maior parte se
encontra nas bases de Ghedi e Aviano, é um segredo que todo mundo conhece.
"Há vários anos que vem se
falando da presença de ogivas nucleares americanas na Itália e na Europa, só
que desta vez à notícia foi dado um enfoque significativo, já que, se você ler
mais atentamente, irá ler 'presença de armas nucleares na Itália foi revelada
por engano', em vez de 'na Itália há bombas nucleares'. Sendo assim, trata-se
de uma tentativa de afastar para segundo plano o fato da presença de armas
nucleares", apontou.
O analista disse que na Itália
tal fato nunca chegou a ser confirmado por ser um segredo militar. Até mesmo o
nome do tratado assinado por Roma e Washington, Stone AX, foi revelado pelos
EUA em 2005, mas até agora a data exata da assinatura do tratado continua
desconhecida.
"Até mesmo os tratados
segundo os quais na Itália servem militares dos EUA e da OTAN são secretos,
praticamente não se sabe nada deles. Os detalhes desses tratados são divulgados
apenas em casos especiais. Podemos recordar, por exemplo, a catástrofe com o
teleférico de Cavalese [em 1998, quando um avião militar dos EUA chocou com
cabos de um teleférico que transportava esquiadores, matando 20 pessoas],
quando o governo liderado por Massimo D'Alema precisou explicar por que os
pilotos americanos, culpados pelo incidente, não podiam ser julgados na
Itália", sublinhou Di Ernesto.
"Podemos supor que, quando
se trata de tratados desvantajosos para a Itália, o nosso
país simplesmente não quer mostrar até que ponto estamos submetidos aos
EUA", frisou.
O analista apontou também que a
posição geográfica e a forma alongada da Itália a tornam um importante
“porta-aviões” no mar Mediterrâneo, por isso o país sempre foi fundamental para
os interesses estratégicos dos EUA.
"Hoje em dia, apesar de
haver os países do Leste Europeu que oferecem seus serviços ao Pentágono, nós
somos fundamentais para as operações na região do Oriente Médio e África do
Norte. Não é por acaso que, em 2011, os bombardeiros que atacaram a Líbia
decolaram do aeroporto de Gioia del Colle", disse à Sputnik Di Ernesto.
O especialista salientou que a
presença militar dos EUA na Itália e na Europa, que começou ainda nos anos 50
como contrapeso à União Soviética, hoje em dia se transformou "em uma
força que se opõe à ameaça do terrorismo e às ameaças à segurança dos EUA,
entre as quais está a alegada 'ameaça russa', mas […] é Washington que se aproxima de forma perigosa das fronteiras
russas".
"A presença de bases e
bombas na Europa serve para Washington controlar os aliados e frisar sua
supremacia. A meu ver, a presença de bases com armas nucleares na Itália não
tem sentido, mas o Pentágono precisa delas para manter tensas as relações com
Moscou", ressaltou o analista.
Fabrizio Di Ernesto concluiu
dizendo esperar que um dia os cidadãos italianos possam obter acesso às
informações concretas sobre as bases no seu próprio território, porém,
"enquanto a nossa classe política depender tanto dos EUA, a população vai
saber apenas o mínimo necessário".
Sputnik | Foto: Reuters / Força Aérea
dos EUA
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