Trump (de costas) e Kim em
encontro "histórico" na zona desmilitarizada da Coreia do Norte
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Se, do seu jeito
anticonvencional, Donald Trump tiver obtido com sua visita um avanço real no
conflito da Península Coreana, então vai merecer o reconhecimento do mundo,
opina Alexander Freund.
Alexander Freund* | opinião
"Não há nada de bom, além
daquilo que se faz", diz o ditado alemão. É mesmo fascinante a facilidade
com que o presidente americano ultrapassa barreiras que pareciam totalmente
instransponíveis e, de repente, volta a colocar movimento no conflito da
Coreia.
Antes Donald Trump tuitara que,
se Kim Jong-un tivesse vontade, ambos poderiam se encontrar: ele estava bem na
região, na cúpula do G20 no Japão, então, se calhasse, por que não?
E é claro que Kim aceitou grato
esse convite. Afinal, a supostamente tão amistosa relação entre os dois
esfriara sensivelmente desde a cúpula fracassada em Hanói. O líder da Coreia do
Norte até mesmo lançara alguns mísseis para o céu, a fim de se fazer notar
novamente.
Portanto eles se encontraram em
Panmunjom, aquele absurdo lugar onde tropas norte-coreanas e aliadas se
observam, desconfiadas, simbolizando todo o absurdo do conflito congelado. E da
mesma forma descompromissada, Trump perguntou se não poderia dar um pulinho na
Coreia do Norte. Visivelmente espantado, Kim disse que seria uma grande honra,
e assim pela primeira vez um presidente americano pisou o solo norte-coreano.
Simples assim. Sem grande alarde.
Dá para fazer sim, foi a simples mensagem: não refletir longamente, fazer. Se
se tratasse de um presidente democrata, ele seria linchado em casa pelos
conservadores: como é possível valorizar um regime desses sem concessões
prévias? Traidor!
Mas Trump simplesmente o faz,
surpreende a todos e, após décadas de confrontação, finalmente coloca o
conflito em movimento. Da mesma forma descomprometida, já ao assumir a
presidência ele anunciara sua disposição básica para dialogar com Kim. Por que
não?
Claro que, ao que tudo indica,
Trump exagerou na cúpula de Cingapura com o papo de camaradagem. Seu
"amigo Kim" continua sendo um déspota imprevisível, mas pelo menos
abriu-se uma promissora plataforma de diálogo.
Igualmente bem correram as
conversas subsequentes do lado sul-coreano. Lá, por sorte, entrou novamente em
cena o presidente Moon Jae-in, que, de forma decisiva, procurara, nos
bastidores, nunca deixar se romper a tênue linha de diálogo.
Os três acordaram em desenvolver
em breve um modo de trabalho para voltar a avançar as conversas paralisadas e
solver as questões controvertidas. A meta anunciada continua sendo a
desnuclearização total da Península Coreana, assim como, finalmente, um acordo
de paz entre a Coreia do Norte e o lado aliado.
Para que o nível necessário de
pressão permaneça e a Coreia do Norte se mostre de fato disposta a negociar,
inicialmente serão mantidas em toda sua extensão as rigorosas sanções. Trump
pode parecer desastrado, mas ele sabe como acordos funcionam. Ah, sim, ele
informou ainda a seu surpreso amigo Kim, caso ele tenha tempo e vontade, que
pode também vir a Washington.
A coisa soa muito tranquila: os
garotões primeiro se encontram, marcam seu território, e depois de terem se
conhecido e apreciado, os probleminhas são resolvidos.
Só que não é tão fácil assim,
pois também o visivelmente surpreso Kim estabeleceu sua posição de negociação
de forma extremamente habilidosa nos últimos meses. Ele sabe que o
presidente da Coreia do Sul está honestamente interessado numa solução de paz,
e disposto a fazer-lhe grandes concessões.
Além disso, obteve importante
cobertura estratégica, não só do presidente russo, Vladimir Putin, mas
sobretudo da potência protetora China. Após ter visitado o presidente Xi
Jinping diversas vezes em Pequim, conseguiu de fato que aquele que hoje é o
segundo mais importante protagonista da política mundial fizesse uma visita
oficial à Coreia do Norte, logo antes da cúpula do G20.
Com essa demonstração de
solidariedade, Xi não só concedeu seu apoio ao abalado país comunista, mas
simultaneamente instou Trump a retomar o diálogo com Kim. O conflito comercial
entre os EUA e a China já cria problemas suficientes a ambos os lados e à
economia mundial, não há por que mais ter um conflito na vizinhança.
Por mais que a instabilidade ou
imprevisibilidade de Donald Trump tantas vezes tenha deixado o mundo em
suspense, no conflito da Coreia seu procedimento anticonvencional alcançou mais
em poucos meses do que em todas as décadas anteriores.
Se no fim se chegar a um tratado
sustentável que leve a paz a toda a região, então esse tão criticado presidente
mereceu reconhecimento internacional, pelo menos por esse feito. Se é para
melhorar o mundo, às vezes é preciso justamente trilhar caminhos
anticonvencionais. "Não há nada de bom, além daquilo que se faz."
*Deutsche Welle
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