Hong Kong, China, 18 ago 2019
(Lusa) -- A porta-voz do movimento que lidera os protestos pró-democracia em
Hong Kong disse hoje à Lusa que o derradeiro objetivo dos manifestantes é
garantir o sufrágio universal na Região Administrativa Especial chinesa.
Bonnie Leung, também
vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), explicou que os
protestos que duram há nove semanas focaram-se inicialmente na rejeição das
emendas propostas pelo governo local à lei da extradição, mas que as
reivindicações dos manifestantes contemplam hoje a exigência do sufrágio
universal, tanto para a eleição do chefe do Governo, como para o Conselho
Legislativo.
Com o som de fundo de palavras de
ordem como "Hong Kong livre" e "democracia agora" entoadas
por manifestantes concentrados no parque Vitória, a ativista sublinhou que os
problemas em Hong Kong não se resolverão enquanto não existir sufrágio
universal na antiga colónia britânica que regressou à soberania chinesa em 1997
com o estatuto de Região Administrativa Especial, que formalmente garante um
elevado grau de autonomia.
Desde 09 de junho que a lista de
reivindicações tem sido alvo de ajustes. Primeiro somaram-se exigências, mas o
habitual pedido de demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, foi agora
aparentemente substituído pela reivindicação do sufrágio universal.
Os manifestantes exigem a
retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos
manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como
motins, um inquérito independente à violência policial e sufrágio universal nas
eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de
Hong Kong.
Dezenas de milhares de
manifestantes enchem hoje o parque Vitória, no centro da cidade, numa
iniciativa da FCDH que previa inicialmente uma marcha de protesto, que está
proibida pela polícia.
Depois das manifestações de
junho, que juntaram milhões nas ruas, depois de uma greve geral que paralisou a
cidade, de contestações marcadas por violentos confrontos e de dias de caos
vividos no aeroporto, a FCDH volta a promover um protesto pacífico para
aumentar a pressão sobre o Governo de Hong Kong, num momento em que o governo
central chinês mobilizou milhares de tropas na cidade vizinha de Shenzhen,
fazendo crescer os receios de uma intervenção na Região Administrativa
Especial.
Há mais de dois meses que Hong
Kong é palco de protestos em grande escala, marcados por violentos confrontos
entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e
gás lacrimogéneo.
Em 01 de julho, alguns
manifestantes invadiram mesmo o Conselho Legislativo de Hong Kong.
Mais recentemente, o aeroporto de
Hong Kong, um dos mais movimentados do mundo, foi palco de manifestações, com
as autoridades a serem obrigadas a cancelar centenas de voos na segunda e na
terça-feira.
Os defensores da lei da
extradição que esteve na origem do movimento de protesto argumentam que, caso
se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países
como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para
criminosos internacionais".
Os organizadores dos protestos
contrapõem que a lei deixaria Hong Kong à mercê do sistema judicial chinês como
qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não
garante a salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e
Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente,
decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que
os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões
administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com
elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o
Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
JMC // JMR
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