Mais de 1,7 milhões de pessoas
manifestaram-se hoje, em Hong Kong, informou o movimento pró-democracia que tem
liderado os grandes protestos contra a lei da extradição.
Em conferência de imprensa, a
Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) sublinhou, contudo, que devido às
restrições impostas da polícia, muitos acabaram por não conseguir chegar ao
local da manifestação, que foi autorizada, apesar da marcha agendada ter sido
proibida.
Este é o segundo maior protesto desde
que as manifestações começaram em junho.
Em 09 de junho, a organização
contabilizou um milhão de pessoas, em 12 de junho meio milhão e em 16 de junho
dois milhões, praticamente um terço da população de Hong Kong.
A grande adesão lançou o caos no
centro de Hong Kong, com estradas cortadas e os transportes na cidade
seriamente afetados, em especial o metro e os autocarros.
Com o cair da noite alguns
milhares de manifestantes ‘acamparam’ à porta do parlamento, muito perto do
quartel general da polícia que tinha autorizado a manifestação, mas não a
marcha.
Os jovens, a esmagadora maioria
dos manifestantes, protestam à frente da sede do parlamento de Hong Kong,
gritando palavras de ordem e apontando ‘lasers’ às forças de segurança.
Vários elementos das forças de
segurança posicionarem-se em zonas-chave no centro da cidade, como foi o caso
do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong e do parlamento: o primeiro foi
um dos alvos dos manifestantes, o segundo chegou mesmo a ser invadido e parcialmente
vandalizado.
A porta-voz do movimento que tem
liderado os protestos pró-democracia em Hong Kong disse hoje à Lusa que o
derradeiro objetivo dos manifestantes é garantir o sufrágio universal no
território.
A também vice-coordenadora da
FFCDH, Bonnie Leung, explicou que os protestos que duram há nove semanas
focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da
extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.
Contudo, hoje as reivindicações
dos manifestantes contemplam a exigência do sufrágio universal, tanto para a
eleição do chefe do Governo, como para o Conselho Legislativo.
A lista de reivindicações tem
sido alvo de ajustes. Primeiro somaram-se exigências, mas hoje o habitual
pedido de demissão da chefe do Governo foi aparentemente substituído pela
reivindicação pelo sufrágio universal.
Os manifestantes exigem a
retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes
detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito
independente à violência policial e sufrágio universal nas eleições para chefe
do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
Depois das manifestações de junho
que juntaram milhões nas ruas, após uma greve geral que paralisou a cidade, de
contestações marcadas por violentos confrontos e de dias de caos vividos no
aeroporto, a FCDH volta a promover um protesto pacífico para aumentar a pressão
sobre o Governo de Hong Kong, num momento em que Pequim mobilizou milhares de
tropas na cidade vizinha de Schenzen, fazendo crescer os receios de uma
intervenção chinesa.
Há mais de dois meses que Hong
Kong é palco de protestos, marcados por violentos confrontos entre
manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás
lacrimogéneo.
Em 01 de julho, alguns
manifestantes invadiram mesmo o parlamento de Hong Kong.
Mais recentemente, o aeroporto de
Hong Kong foi palco de manifestações, com as autoridades a serem obrigadas a
cancelar centenas de voos numa das infraestruturas aeroportuárias mais
movimentada do mundo.
A transferência de Hong Kong para
a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois
sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição
garantem estar agora em causa.
Para aquela região administrativa
especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de
autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central
chinês responsável pelas relações externas e defesa.
Observador | Lusa | Foto: Jerome
Favre
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