Membros da Junta Militar da
RENAMO na Gorongosa
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Braço armado do partido acusa o
atual líder, Ossufo Momade, de estar a serviço da FRELIMO e promete usar
violência se não houver acordo com o Governo. Grupo também ameaça
impossibilitar as eleições de 15 de outubro.
A autoproclamada Junta Militar da
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) considerou nulo este sábado (17.08) o
Acordo de Paz e Reconciliação assinado entre o Governo moçambicano e o
principal partido de oposição no país.
O braço armado da RENAMO liderado
pelo major-general Mariano Nhongo acusa Ossufo Momade de estar ao serviço do
Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e de violar o espírito
dos acordos de paz celebrados pelo líder histórico do partido opositor Afonso
Dhlakama, falecido em 2018.
"A Junta Militar da RENAMO
determina e manda publicar oficialmente a partir de hoje a destituição imediata
do atual presidente da RENAMO, Ossufo Momade, e anuncia a nulidade de todos os
acordos que Momade assinou com o Governo da FRELIMO", lê-se numa nota do
grupo, que está reunido na Gorongosa, no centro de Moçambique, para eleger um
novo líder.
Na nota, o grupo que se descreve
como uma estrutura militar da RENAMO "entrincheirada nas matas" com
11 unidades militares provinciais reitera que não vai entregar as armas no
quadro do acordo de paz assinado com o Governo sob a liderança de Ossufo
Momade, acrescentando que vai assumir oficialmente todos os poderes de decisão
e administração ligados à Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração (DDR)
da RENAMO.
O general Mariano Nhongo, que
lidera a auto-proclamada junta militar, diz que o grupo vai decidir se há
condições ou não para a realização das eleições de 15 de outubro, e garantiu
que o grupo é capaz de impossibilitar o escrutínio.
Traição e subornos
João Machava, porta-voz da facção
armada, diz que da parte militar ninguém foi consultado pelo líder do partido
sobre o acordo de paz, por isso, consideram-no inútil. Machava acusou
Ossufo Momade de "traidor e corrupto" e disse que o líder da RENAMO
aceitou "o suborno da FRELIMO". O braço armado anunciou que vai
partir para a violência, caso não haja uma negociação com o Governo.
"O Governo deve negociar com
a RENAMO, porque a RENAMO somos nós, os militares que temos as armas. As
consequências e os problemas serão do Governo, já não serão de Ossufo, porque
nós que estamos nas matas com as armas", afirmou.
Questionado sobre o número de
armas em sua posse, o porta-voz da junta militar frisou: "Temos muitas
armas em todo o território nacional". O grupo exige a renúncia de Ossufo
Momade, acusando-o de estar a "raptar e isolar" oficiais da
RENAMO que estiveram sempre ao lado do antigo líder do partido Afonso
Dhlakama, que morreu a 03 de maio do ano passado.
"Ossufo Momade não foi
eleito para vender a RENAMO e destruir o seu Estado Maior General à preço de
banana, mas sim foi eleito para dar continuidade e proteger os interesses
superiores da nação, pelas quais a RENAMO lutou desde 1977", diz ainda o
texto que acusa Ossufo Momade de ter raptado oficiais que eram leais a
Dhlakama.
"Grupo de desertores"
A conferência da junta militar da
RENAMO arrancou este sábado na Gorongosa e junta comandantes de cinco
províncias. O objetivo é escolher o novo presidente da RENAMO que vai
renegociar o processo de DDR com o Governo antes da entrega das armas. O
nome deve ser escolhido na próxima segunda-feira (19.08).
O porta-voz da Junta Militar,
João Machava, disse que o novo presidente "vai ter a responsabilidade
total e completa para negociar com o Governo a desmilitarização. Todo o
processo de DDR".
Na semana passada, o atual
presidente da RENAMO considerou que as contestações à sua liderança resultam da
ação de um "grupo de desertores indisciplinados", destacando a
importância do acordo de paz para pôr fim aos confrontos. "Quando fomos ao
congresso, abrimos espaço para que todos se candidatassem. O congresso elegeu
Ossufo Momade. Não é através de um grupo de desertores indisciplinados que
vamos definir a nossa linha", disse Momade.
O Acordo de Paz e Reconciliação
Nacional foi assinado em 06 de agosto em Maputo pelo Presidente moçambicano,
Filipe Nyusi, e Ossufo Momade. O Governo moçambicano e a RENAMO já assinaram em
1992 um Acordo Geral de Paz, que pôs termo a 16 anos de guerra civil, mas que
foi violado entre 2013 e 2014 por confrontos armados entre as duas partes,
devido a diferendos relacionados com as eleições gerais.
Em 2014, as duas partes assinaram
um outro acordo de cessação das hostilidades militares, que também voltou a ser
violado até à declaração de tréguas por tempo indeterminado em 2016, mas sem um
acordo formal.
Arcénio Sebastião, Agência Lusa,
kg | Deutsche Welle
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