Mariano Nhongo prometeu
segunda-feira (26.08) inviabilizar a realização das eleições de 15 de outubro,
via ataques armados. Para a RENAMO esta “é uma matéria de Estado que deve
garantir a defesa e tranquilidade do país”.
Vinte e quatros horas depois do
presidente da autoproclamada "Junta Militar da RENAMO”, Mariano
Nhongo ter
ameaçado em entrevista à DW África inviabilizar a realização das eleições
gerais de 15 de outubro, em Moçambique, a Resistência Nacional
Moçambicana [RENAMO], através do seu porta-voz, José Manteigas diz que esta
ameaça configura um crime.
Para Manteigas, esta "é uma
matéria de Estado (…) é o Estado que tem que garantir a defesa e tranquilidade
do país”. O político nega que o líder da RENAMO, Ossufo Momade não tenha sido
eleito pelos militares, afirmando que "estes estão representados nos
órgãos internos da RENAMO”.
O porta-voz da Perdiz apela a
autoproclamada "Junta Militar” a não recorrer à força das armas para
viabilizar as suas reivindicações.
DW África: Em entrevista
exclusiva à DW África, esta segunda-feira (26.08), o presidente da
autoproclamada "Junta Militar da RENAMO”, Mariano Nhongo prometeu
inviabilizar a realização das eleições gerais, porque o partido de que diz ser
líder "supostamente” foi excluído do processo eleitoral. Como lidar com
esta situação de ter-se um partido com dois líderes?
José Manteigas (JM): A
RENAMO reconhecida no ordenamento jurídico moçambicano como partido político é
esta liderada por Ossufo Momade. Agora, se Mariano Nhongo não vai permitir a
realização das eleições, isso não é o nosso posicionamento. Nós vamos concorrer
em todos os círculos eleitorais do país, quer nas presidenciais, assim como,
para as assembleias provinciais. Este é o desafio que temos pela frente, por
isso sempre dissemos que estamos focados nas eleições.
DW África: Mas o senhor Mariano
Nhongo ameaça emboscar a qualquer partido político que fizer campanha
eleitoral. Isso vos preocupa ou não?
JM: Preocupa. Mas atacar
pessoas indefesas, entidades públicas e personalidades isso configura um crime.
Se o senhor Mariano Nhongo tem alguma reivindicação a fazer, nós achamos que
não deve ser por via das armas, porque isso é uma afronta ao Estado de direito
democrático moçambicano.
DW-África: Qual é o
posicionamento público da RENAMO, face a estas ameaças do senhor Mariano
Nhongo?
JM: Esta matéria nos remete
à intervenção do Estado. É o Estado que tem que garantir a defesa,
segurança e tranquilidade do país. As Forças de Defesa e Segurança saberão
posicionar-se para fazer face a esta situação.
DW África: Nhongo acusou Ossufo
Momade de não ter sido eleito pelos militares. A pergunta que fazemos é: O que
é que regem os estatutos da RENAMO? Os militares elegem o presidente do
partido de forma paralela?
JM: A RENAMO é um partido
político. Portanto, a eleição dos seus órgãos é feita em Congresso. O partido
reunido na Serra da Gorongosa entre os dias 15 e 17 de janeiro deste ano, no VI
Congresso elegeu Ossufo Momade como presidente da RENAMO e os respetivos órgãos
do partido. Daí que qualquer ato praticado à margem e à revelia deste
órgãos, não é obra do partido. E os seus atores não se identificam com a
RENAMO.
DW África: Neste Congresso, que
elegeu Ossufo Momade como presidente da RENAMO, os militares tiveram direito a
voto?
JM: Há uma particularidade neste
congresso, primeiro foi realizado na Serra da Gorongosa onde estiveram os
militares do estado-maior general da RENAMO. Segundo, nos órgãos do partido
estão também presentes os militares, como são os casos do Jossefo de Sousa
(membro da Comissão Política do partido) e tantos outros (…). Portanto, os
militares estão integrados nos órgãos do partido, por isso ninguém pode dizer
que estão excluídos.
DW África: Mariano Nhongo diz
estar em conversações com deputados da RENAMO na Assembleia da República, para
criação de uma comissão que vai encarregar-se de renegociar o DDR
[Desarmamento, Desmobilização e Reintegração] com o Governo moçambicano. Afinal
quais e quem são estes deputados com estão a cumprir ordens do senhor Ossufo
Momade e ao mesmo tempo do Mariano Nhongo?
JM: Éste é um pronunciamento
que deixa muito a desejar. Não sei com que deputados ele está a lidar e o que
está a negociar. O que lhe posso dizer é que a bancada parlamentar da RENAMO é
dirigida pelo presidente do partido e recebe orientações da RENAMO. Portanto,
não tenho conhecimento desta tal negociação.
Amós Zacarias | Deutsche Welle
Fotos: 1 - José Manteigas,
porta-voz da RENAMO; 2 - Mariano
Nhongo - líder da autoproclamada "Junta Militar da RENAMO"
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