terça-feira, 20 de agosto de 2019

Vem aí nova crise? Só os muitos distraídos ignoravam essa realidade do mercado


O Curto ao pequeno almoço desta terça-fira que se prevê quente e com a deflagração de fogos. Uns pelo aumento da temperatura climática outros causados por doidos varridos que gostam de ver as chamas gigantescas que provocam, estando-se nas tintas para as vidas que podem afetar negativamente e até as mortes. Há ainda os que são pagos para incendiar aqui e ali por conveniências que só as autoridades policiais e judiciais podem provar e concluir isso mesmo na acusação. O que é muito difícil de provar. É que há os que lucram com os incêndios que provocam por encomenda ou de moto próprio. Crime, dizem eles, os da polícia e os da justiça. La Palice não diria melhor.

Agora por polícia e justiça... Os agentes da polícia andam abandonados e furiosos com o estado seu patrão – que os ignora e maltrata. Eles são a nossa segurança mas os governos estão-se borrifando. O que é que aqueles homens e mulheres têm de fazer para recuperarem as condições que lhes devemos e assim operarem sem a carteira e a dignidade desrespeitadas? Como no salazarismo, estes pseudo democratas dos poderes consideram-nos carne para canhão?

Na justiça também a indiferença alastra. Os profissionais estão carecas de alertar para as péssimas condições em que têm de trabalhar… Que não há dinheiro, alegam os que querem, podem e mandam (até um dia) nos poderes. Mas há dinheiro (nosso), dos contribuintes (até dos que compram somente arroz, feijão e batatas) para sustentar vigaristas do estilo Ricardo Salgado e trupes idênticas, ou pagar cerca de 17 mil euros mensais ao dito governador do Banco de Portugal que de regulador tem somente a classificação – porque é um adorno caríssimo, que deixa passar em pretensa ignorância operações que estão na cara pertencerem à família dos cambalachos e de desonestidades características dos tais dos "colarinhos brancos". Assim, impunemente.

Melhor seria declararem: “Não há dinheiro a não ser para uns quantos". Para os do costume, os que até fazem “doações” aos partidos e aos candidatos, e aos dos lobies, e aos que defendem as cores dos cifrões acima de qualquer outros interesses que não sejam a gula, a ganância e a exploração pura e dura que lhes permite vidas faustosas sustentadas pelos que realmente produzem e têm por estigma serem muito mal remunerados.

Uma adenda: Os GOE – polícias do grupo de operações especiais – exigem do Estado uma indemnização de 300 mil euros, processo em tribunal. Daquele grupo especial da polícia há homens que foram destacados para países que são considerados teatro de guerra e que não receberam o que a lei destina aos que se arriscam em tais cenários… Calotes inadmissíveis, pespegados por desprezíveis governantes que na realidade não o mereciam ser. Indivíduos desprovidos de consideração pelos que dignificam o país no seu trabalho, nas suas profissões. Indivíduos de papo cheio, com a designação de políticos, mas que não vão além de ações e mentalidades parasitárias, de cambalachos e ganâncias para se servirem nos seus interesses, de familiares, amigos e correlegionários. Não por acaso são esses os que conspurcam com má fama os políticos honestos e competentes. Levando as populações a medir tudo pela mesma cana naquela classe e nas de suas redondezas: uns aldrabões, vigaristas, ladrões… Uma floresta em que existem árvores sãs sem que se dê por elas ou só muito raramente tal se torne possível.

Não se queixe ou se achar por bem o desabafo faça-o. É que este arremedo de entrada ao Curto devia de conter outros tratos e ser realmente breve. Desculpe, distraímo-nos. Há tanto para abordar.

Só mais uma: reforma laboral. Numa curta frase avancemos com a apreciação adequada e comprovada de que os trabalhadores mais uma vez têm de baixar mais as calças… Nada mais prejudica os que trabalham do que aqueles que nada fazem. La Palice não diria melhor. Governos? De quem?

Se não forem os portugueses a salvarem-se mais ninguém o fará. Depende de todos os que por isto e aquilo sofrem na pele, no seu âmago, situações que nada têm que ver com uma República Democrática. Sem justiça não é possível existir democracia.

Falam de nova "crise". Já sabemos. Leia no PG: Assim arma-se a próxima crise financeira.

Só os muito distraídos ignoravam essa realidade do tal "mercado", fabricada pelos próprios interessados... E os povos que se lixem, porque prevalece a ganância dos feios, porcos e maus. Assim como dos seus servidores, nos governos, nos poderes...

Bom dia, boas férias, se as tiver. Só uma ínfima parte de portugueses podem afirmar que tiveram e gozaram férias. Mas a ilusão continua a ser propagandeada. O país real vive e sobrevive em circunstâncias bem diferentes, em más condições e/ou carências que são minimizadas ou mesmo ocultadas.

Pule para o Curto, a seguir, do Expresso. Lavrado pelo jornalista Filipe Santos Costa.

Bom dia.

Redação PG | MM

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Acabou a crise (energética). Vem aí a crise (económica)

Filipe Santos Costa | Expresso

Bom dia.

Acabou a crise - a energética. Durou uma semana. Mas há nova crise no horizonte - cheira a recessão económica. Não se sabe quando chegará, nem quanto tempo vai durar. Mas prepare-se para ela.

Vamos por partes.

Terminou à meia noite a crise energética. Esta, depende de decreto governamental. Foi decretada na segunda-feira da semana passada, por causa da greve dos motoristas de matérias perigosas, e durou uma semana. Desde a meia-noite é possível abastecer combustível sem limitações.

Esta tarde são retomadas as negociações. O Governo junta o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e a ANTRAM, que representa os patrões. Como escreve o Miguel Prado, não se vislumbra nem um passo à frente, pois os patrões querem estender ao sindicato de Pardal Henriques o mesmo acordo já feito com os restantes camionistas. Em pano de fundo permanece a ameaça de outras formas de luta, que incluirão greve às horas extraordinárias e trabalho em fim de semana. Como pode ler aqui, não é só a remuneração que divide trabalhadores e patrões.

No rescaldo da greve da semana passada, ficam as críticas dos partidos de direita. “Teatro”, “intimidação” e “circo” foram palavras usadas por PSD, CDS, Aliança e Iniciativa Liberal para criticar a forma como o Executivo lidou com o protesto dos camionistas de transporte de materiais perigosos.

Embora pareça, a direita não está afinada na análise deste caso. No Público, o empresário Alexandre Relvas dá a voz pela direita que bate palmas à atuação dos socialistas na crise da semana passada. “O que o Governo conseguiu com a política que pôs em prática merece um apoio consensual dos empresários”, diz o CEO da Logoplaste. Não é uma opinião qualquer. Ex-secretário de Estado de um Governo PSD, Alexandre Relvas é o homem que dirigiu a campanha presidencial de Cavaco Silva e a quem este apelidou de “Mourinho” (quando “Mourinho” significava “the special one”).

É a nova vaca voadora de António Costa: depois de ter assumido o slogan das contas certas, que em tempos era coisa de direita, parece também ter agarrado com as duas mãos outra bandeira da direita: o Estado-forte-que-impõe-a-lei-e-a-ordem...

Fechada uma crise, é altura de se começar a falar de outra. Cujo fim não se decreta por despacho governamental.

Os sinais há muito que andam no ar, e tudo indica que estamos a caminho de uma nova recessão na economia global. Já se sabia que oito economias da Europa, Ásia e América Latina estão em risco de entrar em recessão técnica no segundo semestre, com destaque para a Alemanha. Ontem, foi a vez de o banco central alemão confirmar os receios - a maior economia da União Europeia está mesmo a perder gás e a recessão está mesmo a caminho. Os efeitos sobre a zona euro e em particular os países periféricos, como Portugal, são só uma questão de tempo.

António Costa reconheceu esse risco, em declarações à comunicação social. O primeiro-ministro destaca que Portugal até está com um bom desempenho económico - acima da média europeia -, mas a boa notícia das exportações terem aumentado o seu peso no PIB traz consigo uma má notícia: o país fica mais exposto a choques externos.

Em todo o caso, a recessão que ainda não chegou já valeu como justificação para Marcelo Rebelo de Sousa promulgar as alterações à lei laboral. O cenário de crise económica foi uma das razões invocadas pelo Presidente da República para dar luz verde à legislação, para além do consenso que esta mereceu na Concertação Social.

O alargamento do período experimental, uma das novidades mais contestadas pelos sindicatos e pelos partidos de esquerda, e que levanta maiores dúvidas constitucionais, não mereceu críticas do chefe do Estado. O primeiro-ministro, claro, ficou “muito satisfeito”. Supõem-se que Alexandre Relvas também.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Governo parece ter tomado gosto à resposta robusta a greves incómodas. Ontem, decretou serviços mínimos na greve do pessoal de cabine da companhia aérea low cost Ryanair, que arranca hoje e se prolonga por cinco dias. Há anos que as condições de trabalho na companhia irlandesa, e o desrespeito pela legislação portuguesa, fazem correr rios de tinta - mas na hora da greve o Executivo não hesitou em decretar serviços mínimos nas ligações às regiões autónomas e a quatro destinos europeus.

Razões: a “duração relativamente longa” da paralização e a época alta de férias, que significa ainda maior procura por parte de turistas e emigrantes.

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil assinala o paradoxo: a greve visa obrigar a Ryanair a cumprir em Portugal a legislação portuguesa, e o Governo torpedeia a greve obrigando o pessoal de cabine a cumprir a legislação portuguesa… que a companhia não cumpre. Já o ministro do Trabalho defende que os serviços mínimos são isso mesmo - mínimais.

Vem aí calor a sério. O que, sendo banal em agosto, ainda não tinha acontecido neste verão português. Portugal escapou às vagas de calor que este ano já atingiram boa parte da Europa mas os próximos dias serão de temperaturas elevadas e noites “tropicais”. Nalgumas localidades as máximas poderão subir até aos 39º.

Será boa notícia para quem está de férias e a banhos, mas é razão de preocupação adicional para a Proteção Civil. Tudo indica que estarão reunidos os três trintas - temperatura superior a 30º, vento superior a 30km/h e humidade abaixo de 30%. Os “efeitos expectáveis" destas condições meteorológicas, avisa a Proteção Civil, são o “incremento do perigo de incêndio para valores muito elevados a máximos, na generalidade do território” e o “aumento das ignições”. O aviso vale para todo o território, até sexta-feira.

A regra dos três trintas ajuda a explicar o drama que se vive desde sábado na ilha espanhola de Gran Canaria. O fogo está descontrolado, as últimas notícias dão conta de que já foram retiradas de casa quase nove mil pessoas, haverá mais de dez mil hectares ardidos, incluindo o principal parque florestal da ilha. O relato do El País dá conta de um fogo que “come uma montanha inteira”.

Há três anos era a ilha da Madeira que vivia dias de pânico com fogos fora de controlo - então, Espanha ofereceu ajuda; agora, o Governo Regional da Madeira e a Câmara Municipal do Funchal disponibilizam meios para ajudar a combater os incêndios nas Canárias.

Este verão regista um acontecimento histórico: o primeiro desaparecimento de um glaciar na Islândia. Onde havia um dos 400 glaciares da região de Borgarfjörður, existe agora apenas uma placa. A imagem de satélite da Nasa, que pode ver nesta notícia da RTP, diz tudo sobre o que mudou entre 1986 e a atualidade.

No último Expresso Curto que assinei, destacava duas notícias sobre o grau de deflorestação da Amazónia desde que Jair Bolsonaro tomou posse como presidente do Brasil, e a perseguição às comunidades indígenas brasileiras, nomeadamente as que ainda vivem na maior floresta do planeta. Se há regra que nunca falha em relação a Bolsonaro é que pode sempre piorar. A destruição selvagem da Amazónia levou a Alemanha e a Noruega a cortar o financiamento ao fundo destinado a preservar aquela floresta - agora, que o financiamento secou, os governadores dos nove Estados da Amazónia brasileira apontam o dedo à política de Bolsonaro.

Hoje é o dia D em Itália. O populista Matteo Salvini puxou o tapete ao Governo de que era o nº2, e o Executivo de Giuseppe Conte pode cair já esta terça-feira. Se assim for, e se forem convocadas eleições legislativas, tudo indica que o discurso nacionalista, racista e xenófobo de Salvini pode catapultá-lo para a chefia do Governo. O Observador explica aqui o que está em jogo.

O caso do navio Open Arms, que resgatou mais de uma centena de refugiados no Mediterrâneo e está a dar gás ao discurso de Salvini, continua sem fim à vista.

O comboio do Brexit não pára e o Governo britânico ameaça acabar "imediatamente" com a livre circulação de pessoas da União Europeia, caso se verifique uma saída sem acordo. Essa será apenas uma das consequências de um “hard Brexit”. Outras serão escassez de alimentos, de medicamentos e de combustível, de acordo com estudos governamentais tornados públicos no domingo. Depois da publicação desses documentos confidenciais, um grupo de deputados britânicos pediu uma reunião extraordinária do Parlamento, fechado para férias, mas o primeiro-ministro recusou essa hipótese. Mais lenha para a fogueira, e mais argumentos para Jeremy Corbyn “fazer tudo” para travar um Brexit sem acordo.

Mesmo sem Brexit, há escassez de medicamentos em Portugal. Segundo a manchete do Correio da Manhã, há rutura de stock de fármacos para diabetes, hipertensão, ansiedade e Parkinson, e em muitos casos não há alternativas terapêuticas.

O Público conta, em manchete, que os tribunais portugueses estão a meter água. E não só: de acordo com a denúncia dos juízes, por todas as comarcas do país o estado dos tribunais é pouco mais do que um quadro de miséria.

“Tony”, sobre o cançonetista Tony Carreira, é o documentário português mais visto de sempre. Em menos de um mês, o filme de Jorge Pelicano já foi visto por mais de 36 mil espectadores nas salas de cinema.

A FIFA revelou quais são os dez golos candidatos a melhor do ano. Entre a dezena de obras de arte finalistas para o prémio Puskas 2019, três são assinadas por mulheres.

AS MANCHETES DE HOJE

Negócios: "TAP vai deixar de contar para o défice orçamental"

Jornal de Notícias: "Forças especiais da PSP processam Estado por recusar subsídio em cenário de guerra"

i: "Câmara socialista abre Museu Salazar"

Correio da Manhã: "Faltam remédios nas farmácias"

Público: "Juízes denunciam más condições de tribunais em todas as comarcas"

O QUE ANDO A OUVIR

Voltei ontem de férias e os meus últimos dias de "descanso" foram cheios de música. Voltei a reservar uns dias de férias para o Alto Minho, para assistir ao festival Vodafone Paredes de Coura, e trago ecos dos concertos a que assisti por lá.

Tudo começou num magnífico fim de tarde de quarta-feira, com a Julia Jacklin a dar-me as boas vindas e a convidar-me a estender a manta na relva para a ouvir a cantar sobre a dificuldade de continuar a amar alguém sobre quem já se sabe tudo. E depois houve uma inesperada festa com os Parcels, e a consagração (outra vez) dos The National, e os óculos amarelos da vocalista dos Alvvays, e outra festa com os Boy Pablo, e a fúria lírica dos Car Seat Head Rest, e a apoteose dos New Order, e o nacional-cançonetismo-revisitado dos Capitão Fausto, e a vibração dos Balthazar, e a trip do Jonathan Wilson, e a massa sonora dos Deerhunter, e a quase-levitação dos Spiritualized, e a boa surpresa de Father John Misty não ter sido tão aborrecido como eu temia (refiro só os concertos a que assisti).

Se o festival de Paredes de Coura fosse só o seu cartaz, isso já seria motivo que chegue para peregrinar ao Alto Minho. Ano após ano, alinha algumas das minhas bandas preferidas ao lado de boas supresas. Mas é mais do que isso: é uma experiência completa de romagem a uma das regiões mais bonitas do país, num anfiteatro inigualável, numa terra que, sem o festival, seria apenas mais uma terra esquecida no país profundo. Sim, porque é mesmo de país profundo que aqui se trata - e não conheço na Europa outro festival de música com esta dimensão num território tão distante dos principais centros urbanos.

Pelas contas da organização, foram cerca de 26 mil pessoas por dia, ao longo de quatro dias, nos 18 hectares de parque verde. Para se ter uma noção: todo o concelho de Paredes de Coura alberga nove mil almas. Dos 26 mil visitantes diários, cerca de 15 mil acampam no terreno do festival; os restantes vão e vêm todos os dias. Não conheço contas sobre o impacto económico que este movimento significa num concelho tão pequeno, nos concelhos limítrofes e no distrito de Viana do Castelo. Mas é muita gente a consumir, a estacionar os carros em parques improvisados pelos empreendedores courenses e a dormir em todo o tipo de alojamentos - pequenos hotéis e casas de turismo rural, mas também casas de habitantes locais que cada vez mais se mudam nesta época do ano para alugar a sua habitação aos festivaleiros.

Não faltam festivais de música em Portugal - no ano passado foram 311, na sua maioria de pequena dimensão. Por junto falamos de mais de dois milhões de espetadores e de um volume de negócio superior a cem milhões de euros. E já há uma mão-cheia de bons festivais, capazes de ombrear com os cartazes de outros grandes eventos internacionais. Prova disso é que são cada vez mais os turistas que vêm a Portugal de propósito para assistir a estes espetáculos musicais.

Em 2018, houve quase 60 mil espetadores estrangeiros nos sete maiores festivais de música do país. A importância da cultura e dos espetáculos enquanto argumento de atração turística é um facto que entra pelos olhos dentro. Até num festival que se realiza nas margens do Rio Taboão.

Segundo João Carvalho, diretor do Vodafone Paredes de Coura, 35% das entradas vendidas este ano foram para estrangeiros - sobretudo para Espanha, que fica ali mesmo ao lado, mas também para a generalidade dos países europeus. E para espetadores de origens menos óbvias, como EUA, México ou Israel. No ano passado, houve sete bilhetes comprados online no Irão.

Para o ano que vem, voltará a romaria. Por mim, lá estarei.

Tenha uma excelente terça-feira. E vá pela sombra.

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