"Brexit" ou não
"Brexit" a 31 de outubro, eis a questão que inquieta os políticos
europeus. Ninguém sabe em concreto. Primeiro-ministro britânico Boris Johnson
garante que sim, mas Parlamento Europeu admite adiamento.
Boris
Johnson está determinado: a 31 de outubro, o Reino Unido deverá sair
da União Europeia, com ou sem acordo com o bloco dos 27.
É uma promessa que o
primeiro-ministro britânico tem repetido vezes sem conta, desde que tomou
posse. "Come what may", aconteça o que acontecer, a 1 de novembro, o
Reino Unido já não pertencerá à União.
O presidente da Comissão
Europeia, Jean-Claude Juncker, diz que Johnson lhe voltou a garantir isso mesmo
numa reunião esta semana. Isto, apesar de o Parlamento britânico ter obrigado o
Executivo a solicitar um novo adiamento do "Brexit" caso Londres e
Bruxelas não cheguem a acordo até 19 de outubro.
O Parlamento Europeu alertou na
quarta-feira (18.09) para a necessidade de uma saída "ordenada" do
Reino Unido e admitiu a hipótese de um novo adiamento do "Brexit".
Por isso, adensam-se as dúvidas: afinal, que caminho será seguido?
O que um "Brexit" sem
acordo pode trazer
Segundo o Parlamento Europeu, é
do "interesse superior" do Reino Unido e da União Europeia que o
"Brexit" seja feito com um acordo "justo e equilibrado". E
não são só os eurodeputados a dizê-lo: o próprio Governo britânico estima que
um "Brexit" sem acordo poderia levar a distúrbios civis e ruturas nas
provisões de comida e medicamentos. São revelações de um documento
secreto chamado "Yellowhammer", que só foi divulgado pelo
Executivo depois de ter sido forçado pelo Parlamento.
Parceiros como a Alemanha também
seriam fortemente prejudicados.
A Câmara Alemã de Indústria e
Comércio (DIHK, na sigla em alemão) avisou, na semana passada, que, se o Reino
Unido sair da União Europeia sem acordo, muitos negócios poderão ter uma forte
quebra.
"Mesmo antes do Natal,
muitas empresas, dos dois lados, consideram que este é um grande desafio, ou
até um choque, não só na Grã-Bretanha como também na Alemanha", afirmou o
presidente da DIHK, Eric Schweitzer.
A chanceler alemã Angela Merkel
acredita que "ainda é possível uma saída ordeira". Mas, pela via das
dúvidas, o país já está preparado para uma saída sem acordo, acrescentou a
chanceler.
O que fazer?
Os discursos dos políticos
europeus oscilam precisamente entre a esperança e o pragmatismo.
"O risco de um 'no deal'
continua a ser muito real", afirmou o presidente da Comissão Europeia,
Jean-Claude Juncker. "Talvez seja essa a escolha do Governo do Reino
Unido, mas nunca será a escolha da União Europeia. É por isso que prefiro
concentrar-me no que podemos fazer para chegar a um acordo, um acordo que eu
penso ser desejável e possível".
A 17 e 18 de outubro haverá uma
reunião do Conselho Europeu, e espera-se para essa altura uma decisão final
sobre o que fazer em relação ao dossier "Brexit".
Para a UE, só uma saída sem
acordo parece estar fora de questão - todos os outros cenários continuam a ser
possíveis. Segundo o Parlamento Europeu, o "Brexit" poderia ser
adiado com uma justificação forte, como "evitar uma saída sem acordo,
realizar uma eleição geral ou um referendo, revogar o artigo 50.º [a base
jurídica para a saída de um país da UE] ou aprovar um acordo de saída".
Assim, a bola parece estar do
lado do Reino Unido.
O primeiro-ministro Boris Johnson
mostra-se irredutível na sua posição. Mas poderá ainda sofrer um revés se o
Tribunal Supremo do Reino Unido invalidar a suspensão do Parlamento britânico,
imposta por Johnson até meados de outubro, mas que os críticos classificaram de
"ilegal".
Se isso acontecer, o Parlamento
poderá voltar a entrar em funções já na próxima semana. E muitos deputados
estão desapontados:
"Ninguém olharia para a
situação atual e diria que é um sucesso democrático", afirmou a
ex-ministra do Trabalho Amber Rudd, que renunciou ao cargo, face à expulsão de
21 deputados do Partido Conservador, que se juntaram à oposição para votar
contra um "Brexit" sem acordo.
Entretanto, o Governo britânico
publicou na Internet um manual sobre
"o que fazer" antes da saída do Reino Unido da União Europeia a 31 de
outubro.
Governo de Johnson cairá antes da
data do Brexit?
Boris Johnson perdeu todas as
votações importantes no Parlamento, já não tem maioria. A maior parte dos
deputados não quer que o Reino Unido saia da União Europeia sem um acordo - os
riscos são demasiado grandes.
Face a este caos, aumenta a
probalidade de novas eleições.
O líder do Partido Trabalhista,
Jeremy Corbyn, prometeu na quarta-feira (18.09) que, se for eleito num novo
escrutínio, lutará por um acordo "credível" com a UE ou então
cancelará o "Brexit" por completo. Corbyn não referiu, no entanto,
qual das opções prefere. A oposição está bastante dividida quanto a este ponto.
A bola pode estar do lado do
Reino Unido, mas nem o Governo nem a oposição conseguem rematar.
Guilherme Correia da Silva, com
agências | Deutsche Welle
Na imagem: Boris "Hulk"
Johnson e o líder europeu Jean-Claude Juncker. Johnson comparou-se recentemente
ao super-herói: "Quanto mais zangado o Hulk fica, mais forte fica"
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