No Expresso a divulgação
referente ao livro de Edward Snowden, o dissidente da secreta dos EUA, “polícia”
dos cidadãos do mundo, juiz e carrasco de inúmeros de várias nacionalidades.
Edward foi visto pela última vez em Hong Kong, depois o rasto foi perdido. Está
na Rússia, que lhe proporcionou proteção? Onde está? Resta o livro. Naquele
aglomerado de letras podemos avaliar quanto é ativa a violação dos nossos
direitos de cidadãos a pretexto de terrorismo e defesa da sociedade global.
Basta usarmos um computador para estarmos ao alcance dessa violação. Como se não
baste as violações praticadas pelos EUA sem o suporte da informática. Quantos
inocentes já assassinaram? Centenas? Milhares? Milhões? E afirma-se aquele país,
aquela poderosa associação de criminosos globais, líder da democracia ocidental… Afinal,
os EUA – comparativamente a Portugal do fascismo salazarista – é detentora de uma gigantesca PIDE. Ou de uma descomunal Gestapo hitleriana,
criminosa e, consequentemente, nazi. Práticas secretas que de vez em quando são descuidadas e nos permitem vislumbrar horrores através da névoa que as encobre. (PG)
“Tinha acesso às comunicações de
quase todos os seres humanos que já tinham tocado num computador”
O que revela Snowden no seu
livro?
Quem já leu o livro de memórias
de Edward Snowden, que será publicado em 22 países simultaneamente a 17 de
setembro, incluindo em Portugal, não se surpreendeu com revelações estrondosas,
mas há pequenas novidades, como o convite que os russos que o interpelaram no
aeroporto de Moscovo fizeram, depois de ter divulgado milhares de documentos
classificados sobre a vigilância secreta nos EUA.
O livro ainda não foi publicado —
sê-lo-á a 17 de setembro, em 20 países simultaneamente, incluindo Portugal, com
o título “Vigilância Massiva, Registo Permanente” — mas já há quem o tenha lido
e desvende parte do que Edward Snowden, que denunciou a vigilância massiva nos
EUA e foi acusado de espionagem e apropriação de segredos do Estado, ali conta.
E ele conta, por exemplo, como “participou na mais significativa mudança na
história da espionagem norte-americana”, que fez com que se começasse a
controlar e a vigiar “populações inteiras”, ao invés de alvos específicos, como
acontecia até ali.
“Ajudei a desenvolver tecnologia
para permitir que um único governo fosse capaz de recolher todas as
comunicações do mundo digital e armazená-las durante anos, investigando-as
sempre que quisesse”, conta Snowden, segundo a NPR, referindo-se ao seu
trabalho enquanto funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), onde
trabalhou em 2013, antes de voar para Hong Kong, em maio daquele ano, e
reunir-se ali com uma série de jornalistas para partilhar milhares de
documentos altamente classificados tanto da agência de segurança, como do GCHQ
(Government Communication Headquarters).
Um mês mais tarde, e temendo ser
detido ou extraditado para os EUA — o governo norte-americano já o tinha
acusado de violar a Lei de Espionagem de 1917 — Snowden haveria de tentar
viajar para o Equador, na esperança de lhe ser concedido asilo político, tendo,
no entanto, ficado retido no aeroporto de Moscovo. Os guardas que o
interpelaram levaram-no para uma sala, informaram-no de que o seu passaporte
tinha sido revogado pelo Governo norte-americano e arriscaram fazer-lhe uma
espécie de convite: “A vida para uma pessoa na tua situação pode tornar-se
muito difícil se não tiveres amigos. Tens alguma informação, mesmo que pequena,
que possas partilhar connosco?”, perguntaram-lhe.
DO EXÉRCITO PARA UM TÚNEL DEBAIXO
DE UM CAMPO DE CULTIVO DE ABACAXIS
Edward Joseph Snowden nasceu em
1983, na Carolina do Norte, numa família cujo historial profissional já quase deixava
antecipar o seu. O avô trabalhava para o FBI, o pai na Guarda Costeira e a mãe
na NSA. No livro, conta que a primeira vez que “pirateou” alguma coisa foi o
sistema dos relógios que havia em casa para poder ficar a dormir até mais tarde
no dia do seu sexto aniversário. Mais tarde, na adolescência, Snowden invadiu
os computadores da escola para analisar os programas de cada disciplina com o
objetivo de tentar perceber como podia estudar o mínimo possível e ainda assim
não reprovar. A escola era, na melhor das hipóteses, uma “distração”, e, na
pior das hipóteses, “um sistema ilegítimo que não reconheceria qualquer
dissidência legítima”. O tempo que tinha preferia gastá-lo “numa coisa nova
chamada Internet”, “um milagre do caraças”, que ainda era, naquela altura,
década de 1990, “um espaço de libertação” que permitia a qualquer um
expressar-se de forma autêntica.
Snowden alistou-se no Exército
mas saiu meses depois, na sequência de um treino em que ficara com ambas as
pernas fraturadas. Começou a trabalhar para a CIA, mas desiludiu-se porque,
embora “sempre tenha apoiado a vigilância defensiva e a alvos concretos, o que
o governo estava a fazer era recolher massivamente dados através das
comunicações dos americanos pela Internet e guardá-los para eventualmente usar
mais tarde”, e em 2002 foi contratado para trabalhar na NSA, em específico
numas instalações subterrâneas no Havai, debaixo de um campo de cultivo de
abacaxis, construídas por altura da Guerra do Pacífico (1941-1945).
Apesar de ocupar um posto
modesto, foi-lhe dado um grande acesso à informação, como descreve no livro.
“Eu sentava-me junto a um terminal que me dava acesso praticamente ilimitado às
comunicações de quase todos os homens, mulheres e crianças que, em algum
momento das suas vidas, já tinham discado números num telefone ou tocado num
computador”. Sabia-se que, se não evitado, o 11 de Setembro podia ter sido
menos devastador, e portanto havia que corrigir os erros e prevenir tragédias
semelhantes, daí o enorme dispositivo de segurança, controlo e vigilância
engendrado.
Mas Snowden não se sentia
confortável com isso. Preocupava-o a privacidade de todos aqueles de quem eram
recolhidos dados e, secretamente, fez cópias da informação que provava a
existência destes programas e viajou para Hong Kong para se encontrar, então,
com jornalistas em quem confiava. “Estava decidido a partilhar e denunciar um simples
facto: o de que o meu governo tinha desenvolvido e continuava a desenvolver um
sistema global de vigilância massiva sem o conhecimento ou consentimentos dos
cidadãos.”
ACUSADO DE ESPIONAGEM E
CONSIDERADO, POR MUITOS, UM TRAIDOR DA PÁTRIA
Snowden foi acusado pelo Governo
norte-americano de espionagem e apropriação de segredos do Estado e considerado
um traidor por muitos dos que trabalham na área da segurança nacional. Barack
Obama criticou-o, afirmando que “o debate que se gerou em torno das questões da
privacidade não compensou os danos causados pela divulgação dos documentos
secretos” e que “havia outra forma” de colocar o país a discutir o tema da
vigilância. O atual Presidente norte-americano, Donald Trump, publicou uma
mensagem no Twitter, em 2014,
a acusar Snowden de ser um “espião que causou grandes
danos aos EUA” e sugerindo que este deveria ser “executado, tal como se fazia
aos espiões nos tempos antigos, quando os EUA eram um país forte e respeitado”.
Snowden negou o convite que os
russos que o interpelaram no aeroporto de Moscovo fizeram, mas acabaria por
ficar no país, depois de Putin lhe ter oferecido asilo político (agora tem
residência permanente). Mas sobre a Rússia pouco se fala neste livro, nota Greg
Myre, editor da NPR que assina o texto sobre o livro, excepto isto: “Passo
muito tempo em frente ao computador — a ler, a escrever e a interagir. Continuo
a falar sobre a proteção das liberdades civis na era digital para audiências de
estudantes, académicos, deputados parlamentares e tecnólogos”. Numa entrevista
recente, Edward Snowden afirmou que “não foi escolha sua” ficar na Rússia e
que, “na verdade, até tem sido muito crítico do governo de Moscovo por causa
das violações de direitos humanos”. “Tenho sido especialmente crítico das suas políticas
de vigilância e também tenho criticado o Presidente russo.”
Diz Greg Myre, mas também
Jennifer Szalai, crítica de livros de não-ficção no “New York Times”, que o
livro não contém qualquer revelação estrondosa, mas ajuda não só a conhecê-lo
melhor, e à sua infância e adolescência e chegada à idade adulta na era da
Internet, como à evolução dos sistemas de vigilância dos EUA, diz a NPR. “É
bastante improvável que este livro mude a opinião seja de quem for sobre Edward
Snowden, mas, e no que trata da privacidade e da Constituição, a sua história
ajuda a clarificar os riscos”, escreve Jennifer Szalai, para quem o livro acaba
por “obrigar o leitor a refletir em tudo aquilo que qualquer americano já
deveria ter questionado”. “O que significa isso de haver informação sobre nós
guardada e que pode vir a ser acedida por qualquer administração
norte-americana?”
Helena Bento | Expresso | Fotos: Edward Snowden. 1 - EPA; 2 - SEAN GALLUP/GETTY
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