Ministro francês do Exterior quer
que britânicos assumam responsabilidade por suas decisões. Renúncia de ministra
do Trabalho aumenta pressão sobre premiê Boris Johnson, mas ele garante que seu
governo vai até o fim.
O ministro do Exterior da França,
Jean-Yves Le Drian, afirmou neste domingo (08/09) que seu país deverá rejeitar
qualquer adiamento do prazo dado ao Reino Unido para formalizar a saída da
União Europeia (UE), que se encerra no dia 31 de outubro.
A declaração de Le Drian surge
após a renúncia da ministra britânica do Trabalho Amber Rudd, que acusou
primeiro-ministro Boris Johnson de não realizar esforços suficientes para
buscar um acordo com a UE a fim de evitar um cenário caótico após o Brexit.
Ao ser questionado por
jornalistas se a França concordaria com um possível adiamento do prazo final do
divórcio, Le Drian, respondeu que "nas circunstancias atuais, digo que
não". "Não vamos passar por essa situação a cada três meses",
acrescentou, se referindo aos pedidos anteriores feitos pelos britânicos.
Inicialmente, o Reino Unido iria
deixar a UE no dia 29 de março, mas com a rejeição do Parlamento britânico ao
acordo fechado entre a ex-primeira-ministra Theresa May e Bruxelas, Londres já
teve de renegociar dois adiamentos, sendo que no último deles, o prazo foi ampliado
até o final de outubro. A França foi um dos países que mais se opuseram aos
pedidos.
"Eles dizem que querem
propor outras soluções, fórmulas alternativas", disse o Le Drian, em
referência aos esforços de Johnson para encontrar um meio de remover o mecanismo
do chamado backstop irlandês – uma solução encontrada para evitar uma
fronteira dura entre o território britânico da Irlanda do Norte e a República
da Irlanda, que integra o bloco europeu.
Com a adoção do backstop, o
Reino Unido integraria um território alfandegário comum com a UE, mantendo, de
fato, a Irlanda do Norte no mercado único, o que, para Jonhson, seria algo
inaceitável.
Le Drian disse que, até agora, os
europeus não viram as tais soluções alternativas, o que justificaria o
"não" a um provável pedido de extensão. "Deixemos que as
autoridades britânicas nos mostrem o caminho a seguir", afirmou.
"Deixemos que eles assumam a responsabilidade pela situação. Eles têm que
nos dizer o que eles querem."
A falta de ações concretas por
parte do governo de Boris Johnson resultou em baixas significativas na equipe
de governo e no Partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro.
Jo
Johnson, irmão do primeiro-ministro, renunciou ao cargo de
ministro das Universidades e da Ciência na semana passada e anunciou que
deixará também seu assento no Parlamento, alegando conflitos pessoais entre a
vida familiar e política.
A renúncia de Amber Rudd também
foi um golpe bastante duro para o premiê, que enfrenta pesadas críticas após
tomar decisões controversas como suspender as atividades do Parlamento,
expulsar parlamentares do seu próprio partido e tentar forçar a convocação de
novas eleições.
Rudd também criticou a falta de
esforços concretos por parte do governo para de evitar a falta de um acordo
negociado com Bruxelas. "Não vi trabalhos suficientes sendo feitos para
tentar realmente um acordo. Quando pedi um resumo sobre qual seria o plano para
se chegar de fato a um acordo, me enviaram um resumo de uma página", disse
a ex-ministra à emissora britânica BBC.
"Acredito que [Johnson] está
tentando um acordo com a UE. Estou dizendo apenas que o que vi no governo é que
há uma enorme máquina de preparação para o no deal", afirmou.
O primeiro-ministro acredita que
a ameaça de um não acordo é algo necessário para pressionar Bruxelas a aceitar
um pacto mais benéfico ao Reino Unido na cúpula dos líderes europeus, nos dias
17 e 18 de outubro.
Ele ainda não desistiu de
convocar eleições gerais para o dia 15 de outubro, que poderiam lhe render um
mandato para manter o prazo final para o Brexit e forçar uma saída a qualquer
custo.
Mas, esses planos foram
frustrados pelo Parlamento, que aprovaram uma lei obrigando o primeiro-ministro
a pedir uma extensão do prazo caso um acordo não seja atingido até o dia 19 de
outubro. Nesta segunda-feira, os parlamentares deverão bloquear um novo pedido
de Johnson pela convocação de eleições gerais.
Analistas afirmam que isso
deixaria Johnson com poucas opções, a não ser renunciar ao cargo, algo que o
governo nega que possa ocorrer.
Em carta publicada em dois
jornais britânicos neste domingo, Johnson afirma que continuará no governo
mesmo que o pedido por novas eleições seja negado. "Vamos superar todos os
obstáculos em nosso caminho", escreveu.
"Aconteça o que acontecer,
estaremos prontos para sair [da UE] no dia 31 de outubro e trabalharemos para
esse país e seu povo com a energia e o comprometimento que eles merecem",
ressaltou o premiê.
Sua mensagem parece encontrar
apoio entre os eleitores britânicos. Uma pesquisa de opinião publicada neste
domingo coloca o Partido Conservador à frente dos opositores do Partido
Trabalhista por uma margem de 10%.
Na última sexta-feira, a lei para
evitar que o Reino Unido deixe a UE sem um acordo recebeu a aprovação
da Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento britânico. Dessa forma, o
projeto está pronto para receber o consentimento da rainha Elizabeth 2ª, o que
está previsto para ocorrer nesta segunda-feira.
Deutsche Welle | RC/afp/dpa
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