quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O Curto com uma espécie de bicos de papagaio real… e mais


Sem pôr mais na escrita, porque o tempo escasseia, deixamos aqui o habitual Curto do Expresso. A vantagem é que podemos ler numa penada informação que nos escapou ou nos escapa mesmo que a tenhamos à frente dos olhos. É um pouco como aquela de “quanto mais perto menos se vê”. 

Além disso há como que uma espécie de agenda que nos recorda “águas futuras” – porque as "águas passadas" já assimilámos… ou talvez não. Pule para o Curto, com lavra de Cristina Figueiredo, do burgo Impresa - Balsemão & Ilhargas. Bom dia e boas festas… aos animais quadrúpedes e aos outros. Socialize, neste Portugal socialista de faz-de-conta. A atestar tal afirmação basta reparar no rosa de cor que o enfeita. Isso e algumas patranhas, aliás, como a maioria dos outros chamados e ditos partidos, quebrados na decência e nas promessas eleitorais, além de em muito mais.

Oh, louro, dá cá o pé e o que prometes mas não cumpres.

Redação PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Campanhas e bicos de papagaio

Cristina Figueiredo | Expresso

Afinal, a acusação de Tancos não traz qualquer referência ao que o Presidente da República sabia ou não sobre o encobrimento do furto das armas daquele paiol, no verão de 2017. Depois de ontem o país ter despertado ao som da garantia de Marcelo Rebelo de Sousa (que falava a partir de Nova Iorque, onde se encontrava a participar na Assembleia Geral da ONU) de que "o Presidente da República não é um criminoso", sabe-se agora que a escuta telefónica divulgada na terça-feira pela TVI - onde Vasco Brazão, um dos arguidos, se refere ao "papagaio-mor do reino" que tudo saberia sobre a operação de alegado encobrimento de Tancos por parte de militares - não consta da acusação, nem o Ministério Público a considerou prova do envolvimento do chefe de Estado. E, no entanto, durante cerca de 24 horas a ideia que ficou foi exatamente a contrária.

O Presidente não escondeu o desagrado com a situação, ao ponto de quebrar a regra protocolar de não falar de assuntos internos quando está no estrangeiro. "Espero que seja a última vez que falo sobre a matéria". Mas ontem, no Expresso Diário (conteúdo exclusivo para assinantes), a Ângela Silva e o Hugo Franco utilizavam mesmo o adjetivo "furioso", para descrever o estado de espírito de Marcelo e davam-nos conta de mais uma mensagem (de fonte não identificada) de Belém para ler com todas as letras: “Isto é uma maneira de fazer uma pré-acusação ao PR antes de haver uma acusação. Nas vésperas da acusação ser conhecida, tentar montar uma pré-acusação é um clássico, mas politicamente é uma grande estupidez política”.

Por uma daquelas coincidências ("que las hay", como dizia o outro), Rui Rio tinha previsto na terça-feira, antes ainda da notícia da TVI, estar para rebentar mais uma "encenação" por parte do Governo - como, no seu entender, tinham sido a crise dos professores, em abril, e a greve dos motoristas de matérias perigosas, em agosto. Ontem assegurou que não era de Tancos que estava a falar, recusando-se a tirar partido da "teoria da conspiração" que outros no seu lugar certamente cavalgariam. Mas sempre foi dizendo ficar preocupado "quando o nome do presidente da República é envolvido em polémicas. Portugal precisa de uma proteção do órgão que é a Presidência da República. Não podemos brincar com noticias sobre a Presidência da República". Na memória de quem já acompanhou outras campanhas eleitorais não pode deixar de passar uma sensação de deja vu, a reminiscência do verão de 2009, quando se soube que teria sido um assessor da Presidência da República (então ocupada por Cavaco Silva) a divulgar a um jornal as suspeitas de que o Governo (de Sócrates) teria mandado instalar escutas em Belém. Seria a isso que se referia Rio? Ou, também aqui, não? Voltando ao presente, "quem é, afinal, o papagaio-mor do reino?" é a pergunta a que o espaço de streaming do Expresso e da SIC, Ao Vivo Na Redação, procurou ontem dar resposta.

O que efetivamente consta da acusação é uma troca de SMS entre o então ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e o deputado do PS (e líder da concelhia portuense) Tiago Barbosa Ribeiro. Na conversa, que será uma das provas mais fortes do Ministério Público contra o antigo governante, Azeredo terá escrito "Eu sabia (…) Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje", no que parece ser uma confissão do seu conhecimento sobre a alegada investigação paralela da Polícia Judiciária Militar para descobrir (e forjar o reaparecimento) as armas roubadas.

Sobre tudo isto, António Costa foi lacónico: "É um assunto da justiça".

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

A campanha eleitoral prossegue, rumo a 6 de outubro. O Expresso e a SIC seguem as caravanas com atualizações ao longo do dia sobre o que fazem, o que dizem e por onde andam os candidatos dos principais partidos. Costa e Rio podem cruzar-se algures no distrito de Santarém, mas o líder do PSD termina o dia em Leiria. Onde também vai estar, sensivelmente à mesma hora, Assunção Cristas, vinda de Lamego. Os demais partidos com assento parlamentar andam todos para lá do Tejo: Catarina Martins passa a manhã em trânsito, a bordo de um comboio de Faro para Lisboa, com 'paragem' em Almada para o comício noturno. Jerónimo começa o dia ali ao lado, no Seixal, mas prossegue para o Alentejo profundo (Vidigueira e Serpa). André Silva, do PAN, chega finalmente ao Algarve (Lagoa e Monchique), depois de ontem ter descido a costa alentejana.

É impossível prever o que se vai passar na noite eleitoral, mas já se percebeu que a expressão "maioria absoluta" está para António Costa como Voldemort para Harry Potter: em menos de três minutos (2:59, para ser precisa) David Dinis esclarece quantos votos são precisos para chegar... aquela "cujo nome não pode ser pronunciado".

Saíram esta madrugada os resultados da 2ª fase das candidaturas ao ensino superior. Explica a Isabel Leiria que entraram nesta fase 9274 alunos e o número de estudantes a frequentar o ensino superior já superou o de 2018. Ainda assim, ficaram 4500 vagas por preencher e metade dos candidatos a esta fase não conseguiu colocação. As médias, como sempre, subiram e há mesmo oito cursos com nota mínima de entrada acima dos 19.

E se uma espécie de polícia do Estado apreende um livro de conteúdo erótico de uma biblioteca pública isso é... censura? A pergunta é legítima quando sabemos que a ASAE apreendeu ontem, na Biblioteca Municipal dos Olivais, o que seria o exemplar único (na rede de bibliotecas públicas de Lisboa) do livro "As gémeas marotas". A Marta Gonçalves foi investigar a história e percebeu que em causa está um processo por "usurpação de direitos de autor".

Na estreia da Taça da Liga, o Benfica empatou ontem a zeros com o Vitória de Guimarães,e o Porto venceu o Santa Clara por 1-0. Hoje é a vez do Sporting. O jogo contra o Rio Ave começa às 20h, em Alvalade.

...E LÁ FORA

A caminho do processo de destituição de Donald Trump, anunciado anteontem por Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, adensam-se as suspeitas sobre o presidente norte-americano. A meio da tarde de ontem, a transcrição tornada pública de uma chamada telefónica entre Trump e seu homólogo ucraniano confirmava que o POTUS pediu mesmo a Volodymyr Zelensky que investigasse os negócios do filho do candidato presidencial democrata Joe Biden com uma empresa de gás ucraniana. Ao final do dia, Trump deu uma conferência de imprensa desmentindo cabalmente as acusações, reafirmou que não se demite e que está a ser vítima de uma "caça às bruxas". Prevê-se que o 'pingue-pongue' continue. Até porque, como escreve aqui o Pedro Cordeiro, editor de Internacional do Expresso, "há uma longa distância entre o anúncio de um processo de impeachment de um Presidente dos Estados Unidos da América e a sua destituição".

No regresso ao Parlamento, depois do Supremo Tribunal britânico ter declarado ilegal a sua suspensão,e numa sessão particularmente indisciplinada, Boris Johnson desafiou a oposição a apresentar uma moção de censura ao seu Governo. Os Trabalhistas contrapuseram estar disponíveis para eleições gerais se o Governo aprovar a extensão do Brexit para janeiro.

Depois do empate técnico nas eleições legislativas de 17 de setembro, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, encarregou o atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, de formar Governo. Este convidou o adversário, Benny Gantz, para formar uma coligação mas este já recusou. O impasse continua, portanto.

Aos 66 anos, a búlgara Kristalina Georgieva foi nomeada esta quarta-feira diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI). Era a única candidata ao cargo que teve, não sei se se recorda, Mário Centeno como um dos pretendentes. O mandato de Georgieva começa a 1 de outubro e terá uma duração de cinco anos.

A Boeing chegou a acordo com 11 famílias de vítimas do voo 610 da Lyon Air, o 737 MAX que se despenhou no mar de Java em outubro de 2018 provocando a morte de 198 passageiros e tripulantes. A construtora aeronáutica aceitou pagar 1 milhão de euros por cada uma daquelas vítimas.

A Mattel, a empresa norte-americana de brinquedos criadora da Barbie e dos Hot Wheels, entre outros, anunciou o lançamento de uma linha de bonecas(os) gender neutral (sem género definido). O objetivo deste "Creatable world", assim se chama a linha, é adequar os brinquedos aos valores da tolerância, da diversidade, da inclusão que a sociedade atual exige.

FRASES

"É um assunto da justiça"
António Costa, secretário-geral do PS, sem dizer mais uma palavra sobre as notícias de que o Presidente saberia do encobrimento do furto das armas de Tancos

"Ainda Centeno não era nascido para a política já eu defendia o rigor nas contas"
Rui Rio, presidente do PSD, sobre quem tem mais medalhas na lapela relativas a contas certas

"Posso cair, mas quando caio, caio de pé"
ainda Rui Rio, sobre 7 de outubro (ou 6 depois das 20h)

"O voto útil não tem qualquer sentido nestas eleições"
Pedro Santana Lopes, presidente do Aliança, um dos 21 partidos no boletim de voto das legislativas

"Têm até ao fim do dia para apresentar uma moção de censura ao meu Governo. Vamos lá!"
Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, desafiando a oposição no dia em que o Parlamento reabriu depois da sua suspensão (proposta pelo líder conservador) ter sido declarada ilegal pelo Supremo Tribunal

“É justo dizer que o Boris é o Pep Guardiola da política britânica"
Michael Gove, nº2 do Governo britânico, usando a comparação com o técnico do Manchester City para dizer que também o primeiro-ministro é "um vencedor nato"

"No push, no pressure, no nothing"
Donald Trump, presidente do EUA, desmentindo ter pedido ao seu homólogo ucraniano que investigasse alegados negócios da família Biden na Ucrânia

O QUE ANDO A LER E A VER

Nos últimos dias de férias terminei "O tempo entre costuras", de Maria Dueñas, a que fiz referência no último Curto que assinei (no início de agosto). Não tem a densidade de outros romances históricos que li, mas a trama, sem ser muito original (uma ingénua modista que se transforma em sofisticada espia dos Aliados), tem alguns pormenores bastante criativos. E, por essa magia que só alguma escrita consegue, é uma eficaz máquina do tempo que nos transporta sem dificuldade para o período que mediou entre o deflagrar da Guerra Civil Espanhola e os primeiros anos da II Guerra Mundial. O enredo passa por Madrid, Tânger, Tetuan e Lisboa, numa sequência bastante cinematográfica, o que ajuda a explicar por que é que rapidamente a obra deu em série televisiva (da espanhola Antena 3), 17 episódios que foram para o ar entre 2013 e 1014 e que podem ser vistos no canal de streaming Netflix. Para mim, o livro é melhor que 'o filme', mas esta é uma conclusão a que costumo chegar com frequência (nem sempre uma imagem vale por mil palavras, é o que é) por isso não deixe que a minha opinião o influencie: a verdade é que ambos, livro e série, valem o tempo.

Em setembro, as minhas leituras têm sido outras. "A temperança", outro livro de Maria Dueñas (este com ação no continente americano em finais do século XIX), está em stand-by, soterrado nos programas eleitorais dos principais partidos que disputam as legislativas. Mas esta não é leitura a merecer crítica literária, ainda que seja altamente recomendável a quem queira tomar uma decisão a 6 de outubro baseada em algo um pouco mais consistente do que as impressões que se vão coleccionando ao longo do tempo.

Também de políticas, mas das que definiram a traço grosso a Humanidade, reza outra série a não perder, esta no Canal História: "A primeira volta ao mundo" conta, em seis episódios, a viagem de circum-navegação de Fernão Magalhães, agora que se cumpriram (no dia 20) 500 anos sobre o dia em que o português, apoiado por Carlos I de Espanha, zarpou de Cádis rumo ao horizonte.

Já a modesta volta ao mundo deste Expresso Curto fica por aqui. A janela para o horizonte, contudo, está sempre aberta nos sites do Expresso, da Tribuna, do Blitz ou do Vida Extra. Tenha um dia bom.

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