Paulo Baldaia* | Jornal
de Notícias | opinião
A ideia que o PSD tem inscrita no
programa eleitoral de um "Erasmus do Interior" e que o PS acha tão
fantástica que resolveu trazer para a campanha é quase ofensiva para todas as
pessoas que ainda habitam esse território.
Na verdade, esse Erasmus que iria
desviar estudantes portugueses para Vila Real, Viseu e Castelo Branco seria
muito bom para os jovens que vieram de Vila Real, Viseu e Castelo Branco para
Lisboa, Porto e Coimbra, onde continua a estar a principal oferta universitária.
Para esses estudantes seria fantástico, porque sempre conseguiriam poupar seis
meses de renda de casa e restantes despesas.
Digo que a ideia é quase ofensiva
porque o que resulta dessa proposta é que os dois principais partidos
portugueses parecem querer organizar excursões para levar jovens universitários
a visitar uma espécie em vias de extinção (portugueses que vivem longe das
grandes cidades do litoral) no seu habitat natural. Percebe-se, a maioria dos
eleitores nesta altura só ouve falar dessas regiões por causa dos fogos ou de
uns estudos que garantem que dentro de duas ou três décadas será o grande
deserto de Portugal.
Enquanto chutam para canto a
discussão sobre a verdadeira descentralização, já que a que fizeram deu em
pouco mais que nada, ou se recusam a voltar a discutir a regionalização, o
Bloco Central quer impor-nos o circo, enquanto não nos voltam a cortar no pão.
É impossível que no PS e no PSD não exista gente séria e competente, capaz de
saber que o problema do despovoamento e desertificação do interior do país
precisa de ambição. Décadas de má política, de centralismo feroz, não se
resolve com paliativos do tipo "vão lá ver como eles vivem".
Fixar pessoas no interior exige
uma política fiscal que incentive de verdade o investimento, sem o qual não se
produzem empregos. Exige que se refaça o parque escolar e a rede do Serviço
Nacional de Saúde, sem os quais ninguém constrói uma família. Exige que se
desconcentrem os serviços públicos e se dê utilidade a todo o território, razão
essencial para que o aumento de qualidade de vida no interior seja também um
caminho para uma maior qualidade de vida nas grandes cidades do litoral.
Bem sei que os programas
eleitorais têm de estar carregados de medidas, parecendo que os partidos
pensaram no país de lés a lés, mas eu julgo que não seria pedir muito se os
partidos pudessem respeitar as pessoas a quem estão a pedir o voto.
*Jornalista
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