A um mês das presidenciais na
Guiné-Bissau, é tema de debate no país o alegado aproveitamento das religiões
para fins eleitorais. E questiona-se qual deve ser o papel da religião no
processo eleitoral de um estado laico.
A religião islâmica está no
centro do debate aberto na Guiné-Bissau. Em junho deste ano, num encontro no
Palácio da República, um líder islâmico tinha garantido o apoio dos muçulmanos
guineenses ao atual Presidente José Mário Vaz.
A 13 de outubro, foram recitados
versículos corânicos numa ação política de Domingos Simões Pereira, líder e
candidato presidencial do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo
Verde (PAIGC).
E também se tem questionado o uso
de turbantes por parte de Umaro Sissocó Embaló, candidato presidencial do
Movimento para Alternância Democrática (MADEM G-15) - uso que é extensivo aos
seus apoiantes.
Recentemente, a juventude
islâmica apelou à comunidade para se distanciar de manipulações para fins
políticos.
Em entrevista à DW África,
Ibraima Fati, imã de uma das mesquitas de Bissau, reprova qualquer envolvimento
de elementos da religião em ações políticas. "É feio mesmo um imã ou um
professor islâmico a apelar as pessoas para atos políticos e mostrar que pertence
a um determinado partido. Isso mostra que pertence a um partido. A política
separa. Por causa dela, vê-se ódio entre duas pessoas, as vezes irmãos. Por
isso, um imã ou um cheick não deve ser apoiante deste ato".
Estado laico
Relativamente ao papel da religião
num estado laico, o imã, que é licenciado em teologia islâmica, fala na
neutralidade. Para Fati, os líderes "têm que ser neutros, como árbitro,
sem defender ninguém".
"Política é um campo e a
religião é outro. A política que hoje existe contraria totalmente o princípio
de todas as religiões. Há inverdades. Se perguntar a qualquer padre ou imã, é
isso que vai dizer. Num estado laico, o papel da religião deve ser de
neutralidade", reforça.
Para o analista político Rui
Landim, é preciso desmontar o "aparato" de desinformação e divisão da
sociedade, para banir a promiscuidade da religião na política partidária:
"Espero que o aparelho de Estado, os patriotas, aqueles que têm projetos
para a Guiné-Bissau ousem fazer investida de desarmar todo este aparato de
desinformação, de separatismo, de divisão, que têm consequências nefasta para a
sociedade. Já ouvimos discursos na Assembleia Nacional, em que alguém a dizer
que é porque sou mandinga. Quando não têm argumentos perante o adversário,
utilizam este recurso".
Responsáveis da igreja católica
guineense não quiseram falar à DW África sobre o tema. Mas sabe-se que a igreja
se irá pronunciar, em breve, numa declaração pública, na qual deverá apelar aos
políticos e cidadãos em geral sobre a boa conduta a seguir no processo
eleitoral na Guiné-Bissau.
A laicidade do Estado guineense é
garantida pela Constituição da República. O país é caraterizado por um grande
pluralismo religioso. Mas por causa da dinâmica política eleitoral,
observadores têm alertado para a instrumentalização das religiões, ou mesmo de
alguns líderes, para fins políticos.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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