Analistas consideram que ou o
Presidente recebeu dados falsos para o seu discurso sobre o Estado da Nação ou
é conivente. João Lourenço diz estar a averiguar para responsabilizar quem
forneceu informações erradas.
Afinal, a Mediateca do Bié ainda não
foi inaugurada, como fez crer o chefe de Estado durante o discurso do Estado da
Nação, na semana passada. Depois da denúncia feita pelos cidadãos locais,
o Presidente angolano, João Lourenço, constatou isso mesmo no
terreno, este fim-de-semana.
"Alguém criou uma situação
embaraçosa para o Executivo. Nós estamos a averiguar, a investigar, no sentido
de responsabilizar quem o fez", afirmou.
O discurso de João Lourenço sobre
o Estado da Nação, na abertura do ano parlamentar, continua a gerar
polémica. Muitos angolanos têm chamado a atenção na Internet para várias
informações erradas no discurso. Por exemplo, a não conclusão da estrada que
liga Malanje ao leste do país, que foi apresentada como uma obra já executada.
Os cidadãos duvidam ainda da
criação de mais de 100 mil postos de trabalho num país em recessão
económica. E questionam a existência de 213 jornais e mais de 400 revistas
em circulação, numa Angola com apenas um diário.
No discurso, João Lourenço deu
nota positiva à liberdade de imprensa. Mas a televisão pública não mostrou
os cartões
amarelos exibidos pelo maior partido da oposição, a União Nacional
para a Independência Total de Angola(UNITA), em sinal de protesto contra o
Governo.
Enganação ou conveniência?
O Presidente da República
terminou o discurso do Estado da Nação a pedir um pouco mais de paciência
aos cidadãos, com um ditado popular: "o apressado, come cru". Agora,
depois de João Lourenço admitir que foi enganado, os cidadãos perguntam nas
redes sociais: quem é o "apressado" que "come cru?" E
questionam também: "quem está a enganar o chefe de Estado?"
O politólogo Agostinho Sicatu diz
que a prática não é nova: "O Presidente da República, em muitos dados
que apresentou no seu discurso, foi enganado. Estes tais enganadores, que já
enganaram várias vezes [o antigo Presidente] José Eduardo dos Santos, são os
mesmos com quem João Lourenço está a trabalhar", avalia.
O político independente Serafim
Simeão diz que, além do discurso sobre o Estado da Nação, há outros exemplos
que indicam que o Presidente João Lourenço tem sido enganado: seria o caso
do concurso para eleger uma nova operadora de telecomunicações, que acabou por
ser anulado depois de uma controvérsia com a Telstar, ou o também polémico
projeto do "Bairro dos Ministérios", igualmente cancelado.
"Nós assistimos, no passado
recente, à questão da Telstar, por exemplo: houve irregularidades gravíssimas e
o Presidente da República não tomou medidas adequadas quando soube que foi
enganado. Houve ainda o caso do 'Barro dos Ministérios': [ou o] Presidente
[não] tinha conhecimento do que se estava a passar nas negociatas que iam
prejudicar grandemente os cofres do Estado, ou conhece o jogo que andam a
fazer", pondera Simeão.
O político questiona ainda:
"Como é que o titular do poder Executivo é constantemente enganado?",
uma vez que tem órgãos como a Inspeção-Geral da Administração do Estado (IGAE)
e o Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) ao seu dispor.
O politólogo Agostinho Sicatu
espera que quem enganou o titular do poder Executivo seja responsabilizado e é
de opinião que se conheça o perfil dos cidadãos que auxiliam João Lourenço.
"Quem é a pessoa que vamos
colocar no sítio, quais são as competências que ela apresenta? [É preciso]
fazer uma avaliação do perfil profissional do indivíduo. Isto é
fundamental", conclui.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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