terça-feira, 22 de outubro de 2019

Eleições em Moçambique: Oposição não estava preparada, dizem analistas


A virtual vitória esmagadora da FRELIMO é fruto da falta de preparação e desorganização dos partidos da oposição, dizem analistas ouvidos pela DW África.

Se se confirmar que a FRELIMO tem uma vitória esmagadora, como indicam os números divulgados até aqui, isso é o resultado da desorganização e despreparação da oposição, dizem analistas moçambicanos, em entrevista à DW África.

Os dois principais partidos da oposição - a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) terão começado a dar indicações de que sairíam derrotados com a movimentação de quadros entre as duas formações políticas. Segundo a analista moçambicana Fátima Mimbire, o MDM e a RENAMO ficaram a disputar o estatuto de maior partido da oposição "e não necessariamente a retirada do partido FRELIMO do poder para poder mostrar à sociedade o seu plano de governação".

Na RENAMO, a escolha de Ossufo Momade para a liderança do partido foi um problema mal gerido internamente e Fátima Mimbire não tem dúvidas sobre o seu impacto: "Acabou obviamente penalizando, porque todas as crispações internas acabaram saindo e ficaram sob o domínio da sociedade, para além de que Ossufo Momade não jogou uma cartada certeira naquilo que foi o processo de preparação para estas eleições".
Lição das autárquicas foi desperdiçada



Nestas eleições, alguns observadores e delegados de lista dos partidos da oposição foram impedidos de assistir à contagem dos votos, alegadamente porque as suas credenciais e crachás eram falsos.

A analista lembra que esta situação aconteceu nas autárquicas, o que podia ter servido de lição para a oposição ficar atenta.

"Como é possível?", questiona. "Os partidos da oposição, sabendo que aquelas credenciais eram falsas e os órgãos da administração eleitoral aceitaram para eles trabalharem, não pensaram sobre o que isso implicaria. Dias depois, na hora da contagem, eles foram expulsos, alegando-se que estavam a usar credenciais e crachás falsos".

Estratégias tardias e sem sucesso

O historiador Egídio Vaz considera que o líder da RENAMO, Ossufo Momade, começou muito tarde a fazer a pré-campanha. E figuras de peso do partido, como Elias Dlhakama, Ivone Soares e Manuel Bissopo não ajudaram a projetar a imagem de Momade.

"Será que viu algum dia o antigo secretário geral da RENAMO, Manuel Bissopo a fazer campanha? Não", sublinha, recordando também "a contestação de [Mariano] Nhongo, que fez campanha anti-RENAMO e ao nível da Assemleia da República a Ivone Soares disse que estava sensibilizada com a atitude de Nhongo".

Já o MDM fez campanha sob o signo das dívidas ocultas, apelando aos eleitores para punirem os seus autores com o voto, mas a estratégia não funcionou, lembra Egídio Vaz: "Portanto, não é por haver dívidas ocultas ou baixo crescimento económico ou mesmo muita corrupção que a FRELIMO deixaria de merecer a confiança", afirma.

Egídio Vaz realça a boa organização da FRELIMO, que esteve em todas as mesas de voto para controlar o processo, o que não aconteceu com a oposição. "A FRELIMO teve uma logistica de mais ou menos 45 mil pessoas", frisa.

Na contagem de votos, a FRELIMO e o seu candidato Filipe Nyusi continuam na liderança, seguindo-se Ossufo Momade, da RENAMO, e o MDM e Daviz Simango em terceiro lugar.

Romeu da Silva | Deutsche Welle

Artigo atualizado às 15h32 (CET) de 22 de outubro de 2019, alterando a ocupação da analista Fátima Mimbire. 

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