É difícil viver em Hong Kong, mas
como será morrer? A série Dead Space, do fotógrafo britânico Finbarr
Fallon, revela uma realidade única: a dos densos cemitérios verticais da região
administrativa especial chinesa.
Hong Kong tem pouco mais de mil
quilómetros quadrados e uma população superior a sete milhões de pessoas.
Portugal é 93 vezes maior e conta com apenas mais três milhões de habitantes.
Na região administrativa especial chinesa, o
espaço é limitado e a construção em altura é já vista como uma
tradição. É
difícil viver na sobrelotada Hong Kong, que desde há quatro meses
atravessa um período particularmente tumultuoso, com protestos regulares
a reivindicar mais liberdade democrática. Mas como será morrer?
"A extrema densidade e
verticalidade são características distintivas de Hong Kong", refere o
fotógrafo britânico Finbarr Fallon, em entrevista ao P3, autor da série Dead
Space. "Eu achei fascinante que essas se aplicassem tanto ao mundo dos
vivos como dos mortos." Os cemitérios ocupam, por norma, as encostas das
íngremes montanhas que se encontram junto à costa. O mapa desta necrogeografia
obedece a regras de natureza prática e espiritual, aplicando-se as normas do feng
shui chinês. Os jazigos estão distribuídos por camadas que respeitam,
rigorosamente, a orografia do local, como é possível ver nas imagens.
"O ritmo visual das lápides,
que ondulam sobre os socalcos, é sereno, mas inquieto", descreve o
fotógrafo de arquitectura e designer, referindo-se à "monumentalidade
sublime" do cemitério de Chai Wan, que lhe roubou o fôlego à primeira
vista. "A primeira vez que o vi foi durante uma caminhada", relembra.
Era o ano de 2015. "A escala desse cemitério era diferente de tudo o que
tinha visto até então. Por isso, acabei por explorar vários cemitérios sempre
que visitava Hong Kong." O périplo durou cinco anos.
Ao realizar este
projecto com recurso a teleobjectivas, o autor quis mostrar que "a
morte é uma força motriz no que toca a morfologia urbana".
"Imortalizar pessoas que estão mortas pode significar que essas têm o
poder de alterar a paisagem onde os vivos permanecem, de tal forma que podem
ter mais influência sobre a morfologia de uma cidade do que quando estavam
vivos", observa Finbarr. As imagens em que combina os arranha-céus dos
vivos com as grandes moradias dos mortos tornam essa ideia mais tangível.
Os jazigos que se encontram
nestes cemitérios verticais podem ser extremamente caros, refere o fotógrafo; o
preço do metro quadrado de espaço num cemitério em Hong Kong suplanta o do
mercado imobiliário. "Por estarem fora do leque de possibilidades da
maioria, o governo local encoraja as cremações e o uso de columbários." Finbarr Fallon realizou,
recentemente, a série Flora Phantasmagoria, que esteve em exposição no Museu
Nacional de Singapura, em que retrata esta cidade de forma surrealista de
Singapura com recurso a tecnologia de infravermelhos.
Ana Marques Maia | Público
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