Domingos De Andrade*
| Jornal de Notícias | opinião
Um primeiro-ministro, 19
ministros, 50 secretários de Estado. Setenta ao todo. E comece-se a somar o que
aí vem. Chefes de gabinetes, adjuntos, adjuntos dos adjuntos, assessorias e
adjuntos das assessorias.
Perante os grandes desafios com
que Portugal se confronta, identificados e dissecados, uma economia débil,
pouco diversificada e aberta, a ameaça de mais uma crise internacional, uma
dívida externa incomportável e interna, das famílias, fundada no consumo,
insustentável, o país a envelhecer e sem soluções que estanquem a hemorragia,
um tecido social profundamente empobrecido, o estafado interior desertificado e
as escandalosas assimetrias regionais, António Costa responde com um Governo de
dimensões dificilmente explicáveis.
Para um Governo gigante, ambições
gigantes? As fronteiras diluídas entre pastas não auguram nada de bom, a
começar nos ministérios da Coesão Territorial e o da Modernização do Estado e
da Administração Pública, com este último a ficar com competências como a
descentralização, que pela lógica deveriam pertencer ao primeiro, mas a lógica
aqui importa pouco, e a acabar no do Planeamento, que tem também, como o da
Coesão, a missão de gerir os fundos europeus. Pode parecer boa política, como
parece o Ambiente ficar com as florestas, mas teme-se que no fim da história se
acabem a diluir responsabilidades e a fazer de conta que se faz muito para não
fazer nada.
E é uma pena. Contrariamente ao
que à primeira vista parece, António Costa tem um quadro parlamentar que lhe
permitiria finalmente avançar com algumas reformas estruturais para o país,
desde a da Justiça, ao SNS, ou à Segurança Social, e olhar com seriedade para o
urgente investimento público, e sem as quais dificilmente deixaremos de andar
aflitos e de crise em crise.
A Esquerda, a quem já prometeu o
aumento do salário mínimo, não o deixará cair até que pelo menos o
centro-direita se reorganize e estanque o crescimento da extrema-direita. O
PSD, enquanto for de Rui Rio, já se disse disponível para a discussão das
grandes reformas. E o presidente da República quer continuar a ser o artífice
da estabilidade.
Costa pode é não querer, mas
isso, usando a expressão de Marcelo no discurso da tomada de posse, só ele é
que sabe.
*Diretor
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