Com a privatização de mais de 190
empresas em Angola já em curso, multiplicam-se apelos pela salvaguarda dos
direitos dos trabalhadores. Muitos movimentos sindicais encaram o processo como
aumento da taxa de desemprego.
Até 2022, o Governo angolano
pretende alienar
195 empresas detidas ou participadas pelo Estado. Cerca de 80 destas
empresas serão privatizadas este ano. Em 2019, o Estado angolano já obteve um
encaixe de 16 milhões de dólares com a privatização de
cinco unidades industriais da Zona Económica Especial (ZEE) Luanda-Bengo.
Mas para muitos movimentos
sindicais angolanos, o processo
de privatizações é sinónimo de aumento do índice de desemprego, que já
ronda os 28%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os sindicatos desconfiam que os
novos patrões possam trazer novas forças de trabalho para substituir a já
existente. Foi esta preocupação que Bernardo Castro, da organização
não-governamental Rede Terra, apresentou por escrito ao Presidente angolano,
João Lourenço.
O objetivo é "ser
informado " sobre a possível privatização da Aldeia Nova, um projeto
agropecuário que está a ser desenvolvido no Waco Cungo, na província angolana
do Kwanza Sul. Bernardo Castro entende que a comunidade devia ser ouvida, uma
vez que se trata de terras nacionalizadas pelo Estado e que não foram
devolvidas às comunidades locais. Também lembra que o projeto alberga
ex-militares.
"A Rede Terra coloca-se no
meio por duas razões: primeiro, porque a Aldeia Nova acolheu no âmbito da reconciliação
e pacificação do país os ex-militares da FAPLA e FALA. É no interesse não
económico, mas político, que ficaram dentro destes espaços. Agora que se vai
privatizar a pergunta é: estes ex-militares estarão sobre orientação de um
patrão? Estarão ali como trabalhadores?", questiona Bernardo Castro.
"Justiça fundiária e
económica"
Enquanto espera pela resposta da
carta endereçada ao Presidente João Lourenço, Bernardo Castro apela à justiça e
quer que sejam respeitados os direitos dos trabalhadores na eventualidade da
Aldeia Nova ser privatizada. "O que a Rede Terra pretende é que se faça
justiça fundiária e económica lá no campo. Isso é que é mais importante",
sublinha.
Por um lado, explica o
responsável da ONG, é preciso "preservar os interesses dos ex-militares
que lá estão e muitos deles já insatisfeitos pela forma como a Aldeia Nova
trabalha porque é uma espécie de escravatura". Por outro lado, acrescenta,
há que "salvaguardar os direitos costumeiros das comunidades para não dar
voz àquilo que administração colonial fez".
A secretária de Estado das
Finanças, Vera Daves, diz que os direitos dos trabalhadores estarão
salvaguardados e que cada empresa terá um tratamento diferente. "Esse
processo vai ser negociado caso a caso, empresa a empresa. Haverá empresas
estratégicas relativamente às quais o Estado continuará a deter a maioria de
capital", explica.
"Há outros ativos que estão
parados, de modo que não é expectável que haja processos de demissão, muito
pelo contrário: tem que se contratar para pô-los a funcionar, mas sempre
respeitando a legislação laboral angolana. Nenhum direito será violado",
assegura a governante.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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