Os primeiros depoimentos
televisionados do processo de impeachment (destituição) contra Donald Trump revelaram poucas
informações novas. Com duração de seis horas, estiveram mais para um drama
político entediante, opina Carla Bleiker.
As linhas divisórias entre
democratas e republicanos no processo de impeachment estão claramente
delineadas. Isso esteve perfeitamente visível na primeira audiência pública,
nesta quarta-feira (13/11). Adam Schiff, chefe do Comitê de Inteligência da
Câmara dos Representantes e deputado democrata, interpelou, a respeito do
comportamento do presidente Donald Trump no escândalo da Ucrânia: "Se isso
não é comportamento digno de impeachment, o que é?"
Devin Nunes, o membro republicano
de cargo mais alto no comité, rebateu, alegando que a "farsa do
impeachment" era uma "campanha de difamação cuidadosamente
orquestrada" pelos democratas contra o presidente dos Estados Unidos.
Tratava-se de um argumento bastante conhecido.
O interrogatório das duas
primeiras testemunhas provavelmente não alterou a opinião dos apoiantes e
oposicionistas de Trump entrincheirados em suas posições. Ao mesmo tempo, ambos
os lados se esforçaram para reafirmar seus argumentos.
A audiência durou cerca de seis
horas, durante as quais o embaixador em exercício dos EUA na Ucrânia, William
Taylor, e o vice-secretário assistente para Assuntos Europeus e Eurasiáticos,
George Kent, responderam tanto a perguntas dos membros do Comité de
Inteligência quanto de deputados democratas e republicanos.
Seis horas: mais do que o dobro
da duração do último filme de super-heróis da série Avengers, mas com muito
menos ação. Mesmo entusiastas da política na capital dos Estados Unidos quase
cochilaram.
E quem não estivesse bem
informado sobre o que Trump estava discutindo ao telefone com seu homólogo
ucraniano, Volodymyr Zelensky, ou soubesse quem são o advogado do
presidente, Rudy Giuliani, a ex-embaixadora para a Ucrânia Marie Yovanovitch e
o embaixador para a União Europeia, Gordon Sondland, e qual quid pro quo foi
feito ou não, pouca chance teve de sequer acompanhar os depoimentos das
duas primeiras testemunhas.
Não saíram muitas novas
informações do primeiro dia dos processos. Apesar disso, o testemunho de
Taylor, diplomata de carreira que antes servira como embaixador na Ucrânia sob
o republicano George W. Bush, conteve detalhes reveladores.
O embaixador contou que, antes de
assumir o posto em junho de 2019, o secretário de Estado, Mike Pompeo, lhe
confirmara que nada mudaria na ajuda americana para a Ucrânia. E ficou cada vez
mais preocupado ao observar que o atual governo estava contornando os canais
diplomáticos oficiais e só disposto a ajudar o país no Leste Europeu se
Zelensky fizesse uma declaração pública na televisão anunciando uma
investigação sobre Hunter Biden, filho do ex-vice presidente Joe Biden.
O depoimento de William Taylor
teve peso, pois ficou óbvio que ele não é nem um apoiante ferrenho de Trump,
nem um democrata. Em vez disso, é um diplomata experiente, que ficou perplexo
com o comportamento de seu governo e incapaz de responder as perguntas do lado
ucraniano.
Uma crítica central dos
republicanos é que nenhuma das testemunhas falara pessoalmente com Trump, e
parte de suas afirmativas era baseada em "ouvi dizer". Portanto
as informações não seriam confiáveis, uma vez que quem falou com Taylor ou Kent
poderia ter se enganado ou até mesmo mentido.
Tal argumento perde força,
contudo, pelo fato de a administração Trump ter impedido de depor diversas
testemunhas que podem ter informações de primeira mão.
Após esses argumentos dos
republicanos, um deputado democrata sugeriu que o próprio Trump poderia depor.
Isso provavelmente jamais acontecerá. Em vez disso, a sexta-feira continua com
o depoimento de Yovanovitch, que Trump retirou de seu posto em Kiev em meados
do ano. Após a audiência da quarta-feira, ela deve torcer para estar liberada
em menos de seis horas.
Carla Bleiker* | Deutsche Welle |
opinião
*Carla Bleiker é correspondente
da DW nos Estados Unidos.
Imagens: 1 - Processo aberto: ao
centro, Adam Schiff, presidente do Comité de Inteligência da Câmara dos
Representantes, em DW; 2 - Schiff e Trump (fotomontagem) com o Capitólio por fundo, em Financial Times.
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