Adalberto Costa Júnior, que
sucedeu a Isaías Samakuva na liderança da UNITA, já começou a formar a sua
máquina partidária, e trouxe mudanças. O principal partido da oposição em
Angola enfrenta vários desafios.
Como braço-direito, Adalberto
Costa Júnior escolheu uma mulher para 1.ª vice-presidente do partido,
Arlete Liona Chimbinda. Ao contrário do que vinha sendo prática há 53 anos,
desde a fundação da formação da União Nacional para a Independência Total de
Angola (UNITA), o novo líder introduziu duas vices-presidências, um
secretário-geral e dois secretários-gerais adjuntos.
À exceção do presidente do grupo
parlamentar, Liberty Chiyaka, até há pouco tempo dirigente do partido na
província do Huambo, os restantes membros do núcleo duro da UNITA são ilustres
desconhecidos da generalidade dos angolanos e até mesmo de parte significativa
da imprensa e dos analistas políticos.
Segundo uma nota do partido
citada pela imprensa, Simão Dembo foi nomeado para o cargo de 2.º
vice-presidente, Álvaro Daniel foi escolhido como secretário-geral, Mwata
Virgilio Samussongo como secretário-geral adjunto e Lázaro Kakunha como
secretário-geral adjunto para as autarquias.
"É uma equipa
inesperada", comenta o analista e advogado Domingos Chipilika.
"Figuras imaculadas"
Para Chipilika, a equipa de
Adalberto Costa Júnior revela uma rutura com práticas do passado.
"Isso significa que a UNITA
quebra a tradição e apercebe-se que a sociedade hoje impõe outro tipo de
comportamentos. Portanto, traz figuras completamente novas, 'imaculadas' ao
nível político, para que a UNITA renasça neste aspeto", afirma o analista
em entrevista à DW África.
Opinião semelhante tem o
jornalista Félix Abias, do jornal Vanguarda, que espera que a não introdução de
rostos históricos não venha condicionar o mandato de Adalberto Costa Júnior.
"Há uma certa rutura com o
passado, se partirmos do princípio que, na sua equipa, até agora, não tem
ninguém com quem concorreu no congresso. De qualquer forma, espero que isso não
afete a harmonia e a coesão do partido", comenta Abias.
Desafios de Adalberto Costa
Júnior
São vários os desafios colocados
nas mãos do novo líder da UNITA: ser partido governante em 2022, a recuperação
do património partidário na posse do Governo angolano, a integração dos
ex-militares e desmobilizados na Caixa de Previdência e Segurança Social do
Ministério da Defesa, e, por fim, a reconciliação interna, sobretudo com as
famílias de influentes dirigentes que foram mortos em circunstâncias adversas,
a mando e ou com o conhecimento do líder-fundador Jonas Savimbi.
Entretanto, apesar de estar há
apenas quadro dias na condução dos destinos do maior partido na posição, já há
críticas à nova liderança. O jornalista Félix Abias lamenta, por exemplo, que
não tenha sido nomeado até agora um porta-voz para interagir com a imprensa.
"Não sei se isto é sinal de
que alguma coisa não vai bem, em termos de aceitação, porque era suposto que
Adalberto Costa Júnior, como candidato, tivesse já em mente com quem ele
contaria para diversos lugares, nomeadamente o de porta-voz do partido",
diz Abias.
Desde que Adalberto Costa Júnior
assumiu a liderança da UNITA, a imprensa tem muitas dificuldades em obter
pronunciamentos oficiais da formação partidária. Por diversas vezes, a DW
tentou ouvir o novo presidente e o seu secretário-geral, Álvaro Daniel, sem
sucesso.
Advinha-se ainda, segundo o
analista Domingos Chipilika, muito trabalho pela frente: "Estamos com um
Governo do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] completamente
desgovernado, e as pessoas estão a sofrer e sentir na pele a má governação. A
UNITA precisa de ser alternativa. Mas, para que consiga superar o MPLA, terá de
trabalhar muito".
Nelson Francisco Sul (Luanda) |
Deutsche Welle
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