Os eleitores em Hong Kong
começaram já a votar para eleger 452 representantes nos 18 conselhos distritais
da cidade, num escrutínio transformado em barómetro do apoio público aos
protestos antigovernamentais que se arrastam há quase seis meses.
Os conselhos distritais são
organismos fundamentalmente consultivos, com pouco poder, mas a eleição
adquiriu um forte simbolismo e as filas estendem-se por muitos metros à entrada
das estações de voto no território semi-autonómo chinês.
Um resultado forte da oposição
será lido como a manutenção do apoio público ao movimento pró-democracia, ainda
que os protestos se tenham tornado cada vez mais violentos.
O poder em Hong Kong e
no Governo chinês em Pequim têm esperanças de que o arrastamento dos protestos
e as perturbações do dia-a-dia na cidade tenham voltado os eleitores contra o
movimento pró-democracia e que isso mesmo fique expresso nas urnas.
Os últimos dias ficaram marcados
por uma interrupção da violência, explicada pela vontade dos manifestantes
garantirem que as eleições não seriam adiadas.
"Precisamos de mostrar ao
mundo que a nossa causa é legítima. Não acredito que Pequim não responda à voz
do povo de Hong Kong", disse este sábado à agência Associated
Press Alex Wong, um estudante mascarado e vestido de preto durante uma marcha
pacífica.
Matthew Cheung, líder do
governo de Hong Kong, afirmou que que o voto é "um exercício
democrático real", e que uma forte presença policial junto às estações de
voto garantirá que a eleição decorrerá sem problemas.
As mensagens em linha dos grupos
de sustentação do protesto recomendaram povos não desgastar máscaras pretas ou
da cara durante a votação caso são alvejadas pela polícia.
Nas redes sociais, mensagens de
grupos apoiantes dos protestos aconselharam as pessoas a não se
vestirem de preto ou usarem máscaras na cara para não serem identificados pela
polícia.
Cerca de quatro milhões de
eleitores, mais de metade da população, são chamados a votar nos 452 membros
dos conselhos distritais, num escrutínio que geralmente passa despercebido, mas
que este ano ganhou renovada importância no contexto do movimento
pró-democracia.
Nas últimas eleições, em 2015, o
campo pró-Pequim obteve quase dois terços dos assentos.
Este ano, apesar do proeminente ativista Joshua
Wong ter sido impedido de concorrer, uma decisão que o próprio descreveu como
"censura política", não faltam candidatos do campo pró-democracia.
Citado pelo jornal South China
Morning Post, Ma Ngok, professor de política da Universidade Chinesa de Hong Kong,
afirmou que os protestos politizaram o sentimento dos eleitores.
Hong Kong está dividida
entre aqueles que apoiam os manifestantes pró-democracia e os apoiantes da
polícia que tendem a apoiar os políticos pró-Pequim.
As semanas que antecederam as
eleições deste domingo foram marcadas por episódios violentos, que levantaram
dúvidas sobre se o escrutínio iria ou não avançar, sobretudo após o cerco
policial à Universidade Politécnica.
Já com um prometido reforço
policial, estas eleições serão as primeiras desde que os protestos em massa
irromperam na antiga colónia britânica, que vive agora a maior crise
social e política desde a transferência de soberania para a China.
As manifestações tiveram início
em junho, na sequência de uma controversa proposta de alterações à lei de
extradição - já retirada pelo Governo local - mas transformaram-se num
movimento que exige a melhoria dos mecanismos democráticos e que se opõe à
crescente interferência de Pequim.
Após ter recuperado a soberania
do território das mãos britânicas, em 1997, sob a fórmula "um país,
dois sistemas", o Governo chinês comprometeu-se a manter a autonomia de Hong Kong
e a respeitar até 2047 uma série de liberdades de que os cidadãos da China
continental não gozam.
Notícias ao Minuto | Lusa
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