O antigo chefe de Estado trocou
mensagens telefónicas em 2016 com o negociador da Privinvest que está em
julgamento nos Estados Unidos, Jean Boustani, segundo uma agente do FBI.
O ex-Presidente moçambicano
Armando Guebuza recebeu várias mensagens de Jean Boustani, homem forte da
Privinvest, onde era apelidado de "papá", com comentários sobre as
empresas envolvidas no escândalo das dívidas ocultas e sobre trabalhos com o
Fundo Monetário Internacional (FMI).
A agente especial do Departamento
Federal de Investigações (FBI) dos EUA Fatima Haque disse na quarta-feira
(13.11), num tribunal de Nova Iorque, que Jean Boustani, cidadão libanês e
negociador da empresa Privinvest, escrevia a um número guardado sob o nome
"AG" e que os investigadores norte-americanos identificaram como
Armando Guebuza, Presidente de Moçambique entre 2005 e 2015.
Apresentando uma tabela com
mensagens enviadas por Jean Boustani a números guardados na lista de contactos
como António do Rosário 2, Makram Abboud, Iskandar Safa e AG, a agente especial
do FBI que foi chamada para testemunhar no julgamento constatou que quatro
mensagens foram dirigidas a Armando Guebuza.
"Papá. Para informação"
Segundo as interceções do FBI, no
documento obtido pela agência de notícias Lusa, três dessas mensagens de Jean
Boustani para Armando Guebuza começavam por "Papá" e continham
informações relativas ao FMI ou à emissão de 'eurobonds' por Moçambique em 2016.
Uma dessas mensagens de Jean
Boustani para o número de Armando Guebuza foi enviada no dia 28 de março de
2016 e lia-se "Papá. Para informação. Fui bem sucedido em refinanciar
todos os projetos e em emitir um 'eurobond' internacional para Moçambique de
muito sucesso. Portanto tudo está bem".
A mensagem referia-se à troca de
títulos no empréstimo da EMATUM (chamados 'loan participation notes' ou LPN)
por títulos de dívida soberana, os 'eurobonds'. O mesmo texto terminava com a
frase "Sempre a servir o país como desejaste e instruíste. Abraço".
A segunda mensagem para
"AG" apresentada no documento da agente especial Fatima Haque foi a
20 de abril de 2016 e incluiu informações sobre o encontro da delegação do FMI
com António Carlos do Rosário, antigo diretor do Serviço de Informações e
Segurança do Estado e Isaltina Lucas, antiga vice-ministra das Finanças de
Moçambique.
"Ontem, o chefe do FMI
encontrou-se com António Carlos do Rosário e Isaltina Lucas. Correu muito bem.
Em breve, uma declaração será publicada para esclarecer os factos e expor a
verdade", lê-se na mensagem de texto de 20 de abril de 2016, que
posteriormente foi encaminhada do número de Boustani para um número que o FBI
encontrou ser de António Rosário.
O texto, citado pelo FBI,
indicava também o nome de Luísa Diogo, primeira-ministra de Moçambique entre
2004 e 2010 e antiga ministra do Plano e Finanças. "Para info",
escreveu Boustani, "Luísa Diogo também está lá. Mesmo sem ser parte da
delegação oficial!!"
A mensagem de Boustani começava
por "Boa tarde Papá" e terminava com "Estou a fazer tudo o que
posso, como sempre, pelos interesses de Moçambique. Como sempre
instruíste".
No mesmo dia, 20 de abril de
2016, o número que alegadamente pertencia a Armando Guebuza respondeu com
"Ótimo meu filho. Abraço".
Jean Boustani escreveu um pedido
ao número que a agente especial do FBI atribuiu a António Carlos do Rosário, a
21 de abril de 2016: "MMMMM. Por favor faz a declaração conjunta com o FMI
hoje. Todos os bancos e o planeta estão à espera disso!! MMMMM".
Ainda a 23 de abril de 2016, Jean
Boustani enviou uma mensagem para o número de "AG" que começava com
"Bom dia Papá" e incluía um 'link' para um artigo do Jornal de
Angola, em português.
Até agora, os procuradores dos
Estados Unidos argumentaram que o esquema de subornos e a conspiração de fraude
económica em Moçambique começou com Jean Boustani, da empresa Privinvest, e
chegou ao antigo Presidente moçambicano Armando Guebuza por intermédio do
filho, Ndambi Guebuza e de Teófilo Nhangumele, com documentos assinados pelo
antigo ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang.
Ndambi Guebuza e Teófilo
Nhangumele encontram-se detidos em Moçambique desde fevereiro. Manuel Chang
está deito na África do Sul e enfrenta pedidos de extradição para ser julgado
em Moçambique e nos Estados Unidos.
Deutsche Welle | Agência Lusa
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