sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Porque Rússia e China permanecem unidas


Andre Vltchek [*]

O mundo capitalista está em decadência. O ocidente está apodrecendo. Raiva e niilismo surgem no império imperialista cujos cidadãos estão frustrados e não em paz consigo mesmos.

A América do Norte e a Europa imperialistas estão furiosas com países como a Venezuela e Cuba, porque os seus pensadores e líderes estão expondo a terrível deterioração dos valores dos países neocolonialistas e historicamente imperialistas.

São a China e a Rússia que estão na vanguarda, apesar da malevolência dos países do ocidente e dos seus propagandistas. E tudo se tornou grotesco. A Rússia que salvou o mundo do nazismo e ajudou a descolonizar dezenas de nações, agora é o "país menos apreciado" da Europa. A Alemanha, que matou milhões de judeus, ciganos, eslavos e outros, é a mais apreciada. No ocidente, ninguém parece importar-se com o facto de a Alemanha ainda pilhar nações como a Venezuela, enquanto usa o seu poder industrial e bancário para espoliar as riquezas de nações indefesas.

A China, um poderoso país comunista (ou diga-se, "país socialista com características chinesas"), está a ser ridicularizada e humilhada pela propaganda ocidental. A arrogância dos doutrinadores europeus e norte-americanos e a maioria de seus pseudo-intelectuais servis, do chamado centro até à direita, não tem fronteiras. A maioria deles sofre de complexos de superioridade incuráveis. Eles sentem que têm o direito de julgar a China e decidir se é "verdadeiramente" comunista ou não e se está no caminho certo.

A China é calma, alguns podem até dizer que uma nação tímida. Por mais poderosa que seja, ela tenta resolver harmoniosamente todos os conflitos com seus autoproclamados adversários. Não ataca e não provoca. Historicamente, cuida do bem-estar das suas periferias e até do bem-estar de nações distantes. Durante milénios, a sabedoria foi a seguinte: "se os vizinhos estão procedendo bem, isso só fará bem à própria China".

Os líderes chineses e o povo chinês estão convencidos de que, se o mundo inteiro se tornar próspero, a China em consequência beneficiará com isso. Esta é a essência da BRI (Iniciativa do Cinturão e Rota), muitas vezes definida como a "Nova Rota da Seda".

Claro que não é tão simples como isso, mas em essência é. A Nova Rota da Seda é a bandeira que guia o internacionalismo chinês. Vi a China "em ação", em lugares como a África e a Oceânia, e fiquei muito impressionado. Sou anti-imperialista e internacionalista, portanto apoio decisivamente a China.

Cada vez mais, considero-me comunista e internacionalista, não "marxista". Karl Marx era uma figura histórica europeia, um bom analista e crítico do antigo regime capitalista. Ele estava preocupado com o sistema principalmente europeu, sem usar muita energia para atacar o colonialismo e o imperialismo. Nas últimas centenas de anos, o problema mais terrível foi a pilhagem ocidental do planeta pelo Ocidente. Marx não prestou muita atenção a isso. [NT]

Países como a União Soviética e a República Popular da China, que defenderam os indefesos, são consistente e muito profissionalmente demonizados por Londres, Paris, Berlim e Washington, de forma insana manchados como "iguais aos fascistas", enquanto é evidente que a única equação honesta que poderia ser feita seria entre o nazismo/fascismo e o colonialismo europeu e norte-americano, ou mais precisamente, o neocolonialismo e o imperialismo.

Enquanto aperfeiçoava seu próprio sistema socialista, a China aprendeu muito sobre os erros cometidos pela União Soviética. Não vai repeti-los. Aqueles de nós que estão próximos da Academia de Ciências Sociais ou das principais universidades e meios de comunicação chineses, fazemos o melhor possível para explicar os erros cometidos na União Soviética e no chamado Bloco Leste. Com base nas análises do seu próprio passado e de outros países socialistas, a China está a lutar pela sobrevivência do mundo e pela melhoria dos padrões de vida de seu próprio povo.

Eu gosto da sua abordagem. Tenho orgulho em fazer parte do "processo". E apoio a China com todo o meu coração, porque sei que se a China cair, se for destruída pelo ocidente imperialista, seria o fim de todas as esperanças da nossa humanidade. O ocidente já demonstrou o que faria ao planeta e aos milhares de milhões de vidas de seres humanos, se lhe fosse permitido continuar a governar sem oposição.

Unidos, aliados, China e Rússia estão a criar um poderoso bloco de nações independentes. Direta e indiretamente, eles estão a defender aqueles bons países que são antagonizados, brutalizados e até aterrorizados pelo Ocidente. Ambas as nações estão a beneficiar do trabalho conjunto. Agora, dezenas de países em todos os continentes também estão a beneficiar.

Gosto do que vejo. A esperança está no ar. É belo. Cheio de otimismo. E é por isso que apoio; é por isso que estou comemorando o 70º aniversário da República Popular da China!

Escusado será dizer que a China está a ser intimidada e provocada por quase todos os países ocidentais e os Estados seus clientes.

Na verdade, atacar a China está a transformar-se na carreira mais lucrativa para jornalistas medíocres que trabalham nos meios de comunicação de massa e para indivíduos ansiando por dinheiro, em qualquer parte do mundo.

As razões para esses ataques são fáceis de identificar: a República Popular da China está claramente a ganhar em todos os campos e áreas, tanto ao imperialismo como ao capitalismo selvagem: ideológica, intelectual e socialmente.

Com apenas uma fração do PIB per capita (comparado com o ocidente), a China está a eliminar a pobreza extrema. A sua infraestrutura agora é melhor do que a do ocidente. Seu progresso no campo da ecologia não pode ser acompanhado com nenhuma outra parte do mundo. Sua criatividade, na área de cultura e ciência, é colossal. A vida do povo chinês está a melhorar drasticamente. E é muito difícil não notar que a vida das pessoas nos países que estão trabalhando com a China também está a melhorar.

Quanto mais óbvio tudo isso se torna para as pessoas em todo o mundo, mais horrorizados ficam os países tradicionalmente colonialistas e imperialistas. Eles não podem oferecer nada ao mundo, pois suas economias e culturas foram baseadas em saques, já há muitos séculos. Eles são incapazes de parar, reformar, trabalhar para salvar o mundo. E assim, tudo o que eles podem fazer para garantir que o status quo prevaleça é manchar a reputação da China e da Rússia; duas irmãs determinadas que estão trabalhando incansavelmente por um planeta muito melhor.

Durante décadas, a China tentou fazer compromissos, apaziguar o Ocidente. Tem feito todo o possível e impossível para evitar conflitos diretos ou indiretos. Apenas recentemente, percebeu que o único resultado que o ocidente aceita seria a China ajoelhar-se, render-se e desistir do seu sistema "Socialismo com as características chinesas". E isso é inaceitável para o governo de Pequim e para o povo da China.

Por isso o desfile na Praça da Paz Celestial, no 1º de outubro de 2019. Por isso a mensagem clara para o Ocidente: o sistema chinês não está à venda. A China não vai dobrar-se. Por isso novas armas foram projetadas e introduzidas para repelir qualquer um que ouse atacar a República Popular da China,

Na Rússia, dizem: Quem vier com espada, com espada morrerá. A China compreendeu claramente a sabedoria deste truísmo.

Obviamente, a China recebe amigos de braços abertos. Está ajudando os necessitados. Está tentando construir um mundo melhor. Mas nunca mais tolerará ataques, intimidações e racismo. No passado, foi ocupada, brutalizada e humilhada. Agora, 70 anos após o tremendo salto em frente, sob a liderança do Partido Comunista, a China está confiante, forte e orgulhosa.

Amo essa confiança. Admiro o que a China está fazendo no seu país e no exterior.

É por isso que estou comemorando com o povo chinês o 70º aniversário de sua pátria socialista. É por isso que estou trabalhando, dia e noite, para mostrar ao mundo todas as grandes realizações da nação mais populosa do mundo.

Também acredito que a união da China e da Rússia representa a última esperança para a nossa humanidade. Testemunhei o sofrimento de pessoas em todos os continentes; vítimas do imperialismo ocidental. Não compro, nem por um segundo, a propaganda de que "todas as nações são iguais e se fossem fortes o suficiente, saqueariam o mundo com a mesma brutalidade que a Europa e a América do Norte o fizeram durante todos esses séculos".

Não estou muito interessado em ler e ouvir as intermináveis análises dos ocidentais em relação à China. Estou interessado no que o povo chinês tem a dizer sobre seu país!

Agora, 70 anos após a vitória, a nação chinesa permanece tão unida como sempre. E as nações que foram roubadas de tudo, pelo Ocidente, agora ousam ter esperança, pela primeira vez em muitas gerações.

Por isso, saúdo a nação que está mudando o mundo e que, aos 70 anos, parece e se sente tão jovem, gentil e cheia de otimismo!

[NT] Para além dos seus textos e ação militante anti-imperialista e pela paz, AV parece ignorar a dimensão multidisciplinar do fundador do marxismo. Marx, com Engels, foi um político, um economista e um filósofo. Se como político algumas das suas ações e textos podem obviamente considerar-se datados pelas circunstâncias em que viveu, como economista definiu as leis fundamentais e gerais do capitalismo e o seu modo de funcionamento, válido em qualquer época e qualquer lugar onde este sistema se exerça. Como filósofo legou-nos os elementos de análise do materialismo dialético e do materialismo histórico que são perenes para compreender a realidade. Uma nova dimensão na esfera do pensamento. Mas o marxismo não morreu com Marx, o marxismo prosseguiu o seu caminho com as contribuições dos marxistas na análise da realidade, visando a sua transformação, sendo o principal esteio da luta anticolonialista e antiimperialista. Há muitos marxistas que não sabem que o são. Cremos que AV está neste caso.

[*] Filósofo, romancista, cineasta e jornalista investigativo. É o criador de Vltchek's World in Word and Images . Escreve especialmente para a revista online "New Eastern Outlook".

O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/52427.htm Tradução de DVC.

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

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