Inês Cardoso *| Jornal de
Notícias | opinião
Descrita numa das muitas
reportagens sobre os resultados das eleições britânicas, a imagem da mulher
vítima de violência doméstica é uma das mais eficazes para ajudar a interpretar
o que aconteceu.
A exaustão levou a melhor, como
quando uma mulher agredida prefere acreditar que o marido vai mudar, apenas
para ter um pouco de paz. Três anos e meio de impasse em relação ao processo de
saída da UE deixaram o Reino Unido profundamente dividido e tomado pela
frustração. Um sentimento a que Boris Johnson respondeu com um slogan de
extrema eficácia: "Get Brexit done".
O Brexit, contudo, não explica
tudo e é essencial analisar a responsabilidade pessoal de Jeremy Corbyn. Pela
falta de clareza em relação ao processo e ao prometido segundo referendo, pela
conotação que lhe foi colada de posicionamento "muito à esquerda",
pela pobreza da imagem e do discurso mesmo quando poderia ter capitalizado as
fragilidades de um governo altamente disfuncional.
A votação dos trabalhistas, a
pior desde 1935, é tão importante para ler os resultados como a vitória sonora
dos conservadores, a maior desde a terceira vitória de Margaret Thatcher, em
1987. Os britânicos votaram contra o que não gostaram, mais do que por uma
agenda positiva. O que merece reflexão e ajuda a explicar o crescimento de
fenómenos que frequentemente minimizamos ou temos dificuldade em compreender.
Agora entramos no tempo de
descobrir se Boris Johnson é, como mostra ser, muito mais inteligente e capaz
de liderar do que Donald Trump. Já se percebeu o quando, fica a faltar o como
do Brexit. E os termos da negociação fazem toda a diferença, sobretudo no plano
comercial, numa altura em que Trump lhe acena com um acordo com os EUA. Há
ainda outro risco, o da desunião interna. Mas esse, no fundo, tem sido o estado
de alma do Reino Unido.
*Diretora-adjunta
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