Ela mantém-se aferrada aos dogmas
— enquanto os problemas centrais ligados à produção e distribuição de riquezas
mudaram. Contudo, tornou-se mais influente, ao se converter em ideologia a
favor do 1%. Que fazer: salvá-la ou destruí-la?
David Graeber, no New York Review of Books | Outras Palavras |
Tradução: Felipe Calabrez
De Robert Skidelsky. Imprensa da Universidade de Yale, 492 págs
Há um sentimento crescente, entre
aqueles que têm a responsabilidade de administrar grandes economias: o de que a
disciplina de Economia não é mais adequada ao seu objetivo. Ela está começando
a parecer uma ciência desenvolvida para resolver problemas que não existem
mais.
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Um bom exemplo é a obsessão pela
inflação. Os economistas ainda ensinam aos alunos que o principal papel
econômico do governo – muitos insistiriam que seu único papel econômico
realmente adequado – é garantir a estabilidade de preços. Devemos estar constantemente
vigilantes sobre os perigos da inflação. Para os governos, simplesmente
imprimir dinheiro é, portanto, inerentemente pecaminoso. Se, no entanto, a
inflação se mantiver muito baixa, por meio da ação coordenada do governo e dos
banqueiros centrais, o mercado encontrará sua “taxa natural de desemprego” e os
investidores, aproveitando os sinais claros de preços, serão capazes de
garantir um crescimento saudável. Essas premissas vieram com o monetarismo da
década de 1980, a idéia de que o governo deveria se restringir à administração
do suprimento de dinheiro. Na década de 1990, passaram a ser aceitas como um
senso comum tão elementar que praticamente todo debate político teve que partir
de um reconhecimento ritual dos perigos dos gastos do governo. Continua a ser
assim, apesar do fato de que, desde a recessão de 2008, os bancos centrais
imprimiram dinheiro freneticamente na tentativa de criar inflação e obrigar os
ricos a fazer algo útil com seu dinheiro, tendo fracassado retumbantemente em
ambos os empreendimentos.
Agora vivemos em um universo
econômico diferente do que vivíamos antes do crash. A queda do desemprego
não eleva mais os salários. Imprimir dinheiro não causa inflação. No entanto, a
linguagem do debate público e a suposta sabedoria transmitida nos livros
econômicos permanecem quase inteiramente inalteradas.
Espera-se uma certa defasagem
institucional. Hoje em dia, os economistas convencionais (orig.:
mainstream) podem não ser particularmente bons em prever colisões
financeiras, facilitar a prosperidade geral ou criar modelos para prevenir as
mudanças climáticas. Mas quando se trata de se estabelecer em posições de
autoridade intelectual, não afetadas por essas falhas, seu sucesso é
incomparável. Alguém teria que olhar para a história das religiões para
encontrar algo parecido. Até hoje, a economia continua a ser ensinada não como
uma história de argumentos – não, como qualquer outra ciência social, como uma
série de perspectivas teóricas muitas vezes conflitantes – mas como algo mais
parecido com a física, a realização gradual de verdades matemáticas universais
e intransponíveis. É claro que existem teorias “heterodoxas” da economia
(institucionalista, marxista, feminista, “austríaca”, pós-keynesiana …), mas
seus expoentes foram quase completamente excluídos do que são considerados
departamentos “sérios”. Até mesmo rebeliões diretas de estudantes de economia
(do movimento pós-autista na França até a economia do pós-colapso na
Grã-Bretanha) foram incapazes de incluí-los no currículo básico.
Como resultado, os economistas
heterodoxos continuam sendo tratados como quase malucos, apesar de
frequentemente terem um histórico muito melhor de previsão de eventos
econômicos do mundo real. Além disso, as suposições psicológicas básicas nas
quais a economia convencional (neoclássica) baseia-se – apesar de há muito
serem refutadas por psicólogos reais – colonizaram o restante da academia e
tiveram um impacto profundo nas compreensões populares sobre o mundo.
Em nenhum lugar essa separação
entre o debate público e a realidade econômica é mais dramática do que na
Grã-Bretanha, e talvez por isso pareça ser o primeiro país em que algo está
começando a quebrar. Na virada do século, foi o “novo” Partido Trabalhista, de
centro-esquerda, que presidiu a bolha pré-colapso. A expulsão dos bastardos por
parte dos eleitores trouxe uma série de governos conservadores, os quais logo
descobriram que uma retórica de “austeridade” – a evocação churchilliana de
sacrifício comum – caiu bem no público britânico. Garantiu ampla aceitação
popular para políticas que reduziram o pouco que restava do estado social
britânico e concentraram os recursos no andar de cima, junto aos ricos. “Não
existe uma árvore mágica do dinheiro”, disse Theresa May durante a eleição de
2017 – praticamente a única linha memorável de uma das campanhas mais sem
brilho da história britânica. A frase é repetida incessantemente na mídia,
sempre que alguém pergunta por que o Reino Unido é o único país da Europa
Ocidental que adota cobrança para a universidade ou se é realmente necessário
ter tantas pessoas dormindo nas ruas.
O mais extraordinário da frase de
May é que ela é falsa. Há muitas árvores mágicas de dinheiro na Grã-Bretanha,
assim como em qualquer economia desenvolvida. Elas são chamados de “bancos”.
Como o dinheiro moderno é simplesmente crédito, os bancos podem criar dinheiro
literalmente do nada, simplesmente fazendo empréstimos. Quase todo o dinheiro
que circula na Grã-Bretanha no momento é criado por bancos dessa maneira. O
público não apenas não está ciente disso, mas uma pesquisa recente do grupo de
pesquisa britânico Positive Money descobriu que 85% dos membros do Parlamento
não tinham idéia de onde realmente vinha o dinheiro (a maioria parecia ter a
impressão de que era produzido pela Casa da Moeda Real).
Os economistas, por razões
óbvias, não podem ignorar completamente o papel dos bancos, mas passaram boa
parte do século XX discutindo sobre o que realmente acontece quando alguém
solicita um empréstimo. Uma escola insiste em que os bancos transferem os
fundos existentes de suas reservas, outra afirma que eles produzem dinheiro novo,
mas apenas com base em um efeito multiplicador (para que seu empréstimo de
carro ainda possa ser visto como ancorado, em última análise no fundo de pensão
de alguma avó aposentada). Somente uma minoria – principalmente economistas
heterodoxos, pós-keynesianos e partidários da Teoria Monerária Moderna –
defende o que é chamado de “teoria da criação de crédito do setor bancário”. Ou
seja, a noção de que os banqueiros simplesmente acenam com uma varinha mágica e
fazem o dinheiro aparecer, seguros e confiantes de que, mesmo que entreguem a
um cliente um crédito de US$ 1 milhão, ao final das contas o destinatário o
devolverá ao banco, para que, no sistema como um todo, os créditos e dívidas
sejam cancelados. Em vez de os empréstimos serem baseados em depósitos, nessa
visão, os próprios depósitos são o resultado de empréstimos.
A única coisa que parecia nunca
ocorrer a alguém era conseguir um emprego em um banco e descobrir o que
realmente acontece quando alguém pede dinheiro emprestado. Em 2014, um
economista alemão chamado Richard Werner fez exatamente isso e descobriu que,
de fato, os agentes de crédito não verificam seus fundos, reservas ou qualquer
outra coisa existente. Eles simplesmente criam dinheiro do nada, ou, como ele
preferia dizer, da “poeira de fada”.
Parece ter sido também naquele
ano que elementos do notoriamente independente serviço público britânico
decidiram que bastava. A questão da criação de dinheiro tornou-se um ponto
crítico de discórdia. A grande maioria dos economistas do Reino Unido rejeitou
a “austeridade”, por considerá-la contraproducente (o que, previsivelmente,
quase não teve impacto no debate público). Mas, a partir de em certo momento,
exigir que os tecnocratas encarregados de administrar o sistema baseiem todas
as decisões políticas em suposições falsas sobre algo tão elementar quanto a
natureza do dinheiro torna-se um pouco como exigir que os arquitetos continuem
entendendo que a raiz quadrada de 47 é na verdade π. Os arquitetos sabem que os
edifícios começarão a cair. Pessoas morreriam
Em pouco tempo, o Banco da
Inglaterra (um banco central cujos economistas são mais livres para se
expressar, uma vez que não fazem parte formalmente do governo) lançou um
elaborado relatório oficial chamado “Criação de dinheiro na economia moderna”.
Repleto de vídeos e animações, ele afirma o mesmo ponto: os livros didáticos de
economia existentes, e particularmente a ortodoxia monetarista dominante, estão
errados. Os economistas heterodoxos estão certos. Os bancos privados criam
dinheiro. Os bancos centrais, como o Banco da Inglaterra, também criam
dinheiro, mas os monetaristas estão completamente errados ao insistir que sua
função adequada é controlar o suprimento de dinheiro. De fato, os bancos
centrais não controlam de maneira alguma a oferta de moeda; sua principal
função é definir a taxa de juros – determinar quanto os bancos privados podem
cobrar pelo dinheiro que criam [no Brasil, nem isso – Nota de Outras
Palavras]. Quase todo o debate público sobre esses assuntos é, portanto,
baseado em premissas falsas. Por exemplo, se o que o Banco da Inglaterra estava
dizendo era verdade, então os empréstimos tomados pelo governo não desviavam
fundos do setor privado – eles criavam dinheiro inteiramente novo, que não
existia antes.
Alguém poderia ter imaginado que
tal admissão criaria uma espécie de respingo, e em certos círculos restritos,
isso aconteceu. Os bancos centrais da Noruega, Suíça e Alemanha publicaram
rapidamente documentos semelhantes. De volta ao Reino Unido, a resposta
imediata da mídia foi simplesmente o silêncio. Segundo o meu conhecimento, o
relatório do Banco da Inglaterra nunca foi mencionado em nenhum canal de
notícias. Os colunistas de jornais continuaram a escrever como se o monetarismo
estivesse evidentemente correto. Os políticos continuaram sendo questionados
sobre onde encontrariam dinheiro para programas sociais. Era como se uma
espécie de entente cordiale tivesse sido estabelecida, na qual os tecnocratas
pudessem viver em um universo teórico, enquanto os políticos e os comentaristas
de notícias continuariam a existir em outro, completamente diferente.
Ainda assim, há sinais de que
esse arranjo é temporário. A Inglaterra – e o Banco da Inglaterra em particular
– orgulha-se de ser o principal indicador das tendências econômicas globais. O
próprio monetarismo começou sua respeitabilidade intelectual na década de 1970,
depois de ter sido adotado por economistas do Banco da Inglaterra. A partir
daí, foi finalmente adotado pelo regime insurgente de Thatcher, e somente
depois por Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e posteriormente exportado para
quase todos os lugares.
É possível que um padrão
semelhante esteja se reproduzindo hoje. Em 2015, um ano após o aparecimento do
relatório do Banco da Inglaterra, o Partido Trabalhista pela primeira vez
permitiu eleições abertas para sua liderança. Sua ala esquerda do partido, sob
a liderança de Jeremy Corbyn e do agora ministro da Fazenda paralelo, John
McDonnell, assumiu o controle. Na época, a esquerda trabalhista era considerada
ainda mais extremista marginal do que a ala de Margareth Thatcher no Partido
Conservador em 1975. Também é (apesar dos constantes esforços da mídia em
retratá-los como socialistas não-reconstruídos da década de 1970) o único
grande grupo político no Reino Unido aberto a novas idéias econômicas. Enquanto
praticamente todo o establishment político passou dos últimos anos gritando,
uns contra os outros, sobre o Brexit, o gabinete de McDonnell – e os grupos de
apoio da juventude trabalhista – estão realizando workshops e tomando
iniciativas políticas sobre tudo. Propõem desde uma semana de trabalho de
quatro dias e renda básica universal a uma Revolução Industrial Verde e ao
“Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado”. Convidam economistas heterodoxos a
participar de iniciativas de educação popular destinadas a transformar as
concepções de como a economia realmente funciona. O corbynismo enfrentou
oposição quase histérica de praticamente todos os setores do establishment
político, mas seria imprudente ignorar a possibilidade de que algo histórico
esteja acontecendo.
Um sinal de que algo
historicamente novo realmente surgiu será se os estudiosos começarem a ler o
passado sob uma nova luz. Consequentemente, um dos livros mais importantes a
sair do Reino Unido nos últimos anos teria que ser Money and Government:
The Past and Future of Economics, de Robert Skidelsky. Aparentemente é uma
tentativa de responder à pergunta de por que a economia dominante tornou-se tão
inútil nos anos imediatamente anteriores e posteriores à crise de 2008. Na
verdade, trata-se de uma tentativa de recontar a história da disciplina
econômica através da consideração das duas coisas – dinheiro e governo – sobre
as quais a maioria dos economistas menos gosta de falar.
Skidelsky está bem posicionado
para contar esta história. Ele personifica um tipo exclusivamente inglês: o
gentil dissidente. Está tão firmemente instalado no establishment que nunca lhe
ocorre que talvez não seja capaz de dizer o que exatamente ele próprio pensa.
Suas opiniões são toleradas pelo resto do establishment precisamente por isso.
Nascido na Manchúria, treinado em Oxford, professor de Economia Política em
Warwick, Skidelsky é mais conhecido como autor da biografia definitiva em três
volumes de John Maynard Keynes. Nas últimas três décadas, esteve na Câmara dos
Lordes como Barão de Tilton, afiliado em momentos diferentes a vários partidos
políticos e, às vezes, a nenhum deles. Durante os primeiros anos do primeiro
ministro Tony Blair, foi um conservador e até serviu como porta-voz da oposição
em questões econômicas na câmara alta. Atualmente, é independente, alinhado com
a esquerda do Partido Trabalhista. Em outras palavras, ele segue sua própria
bandeira. Geralmente, é uma bandeira interessante. Nos últimos anos, Skidelsky
aproveitou sua posição no corpo legislativo de elite do mundo para realizar uma
série de seminários de alto nível sobre a reforma da disciplina econômica; este
livro é, em certo sentido, o primeiro produto importante desses
empreendimentos.
O que isso revela é uma guerra
sem fim entre duas amplas perspectivas teóricas nas quais o mesmo lado sempre
parece vencer – por razões que raramente têm algo a ver com sofisticação
teórica ou maior poder preditivo. O cerne da discussão sempre parece recair
sobre a natureza do dinheiro. O dinheiro é melhor concebido como uma mercadoria
física, uma substância preciosa usada para facilitar as trocas, ou é melhor
vê-lo principalmente como crédito, como método de contabilidade ou circulação –
de qualfquer forma, um arranjo social? Esta é uma disputa que vem ocorrendo de
alguma forma há milhares de anos. O que chamamos de “dinheiro” é sempre uma
mistura de ambos, e, como eu próprio observei em Debit (2011),
o centro de gravidade entre os dois tende a mudar de um lado para o outro ao
longo do tempo. Na Idade Média, as transações cotidianas na Eurásia eram
tipicamente realizadas por meio de crédito, e supunha-se que o dinheiro era uma
abstração. Foi a ascensão dos impérios europeus globais nos séculos XVI e XVII,
e a correspondente inundação de ouro e prata saqueados das Américas, que
realmente mudou as percepções. Historicamente, o sentimento de que ouro é
dinheiro tende a marcar períodos de violência generalizada, escravidão em massa
e exércitos predadores – para a maior parte do mundo era precisamente a
experiência dos impérios espanhol, português, holandês, francês e britânico.
Uma inovação teórica importante que essas novas teorias de dinheiro baseadas em
barras de ouro permitiram foi, como observa Skidelsky, o que passou a ser
chamado de Teoria Quantitativa da Moeda (geralmente referida nos livros
didáticos – já que os economistas se deleitam infinitamente nas abreviações –
como QTM).
O argumento da QTM foi
apresentado pela primeira vez por um advogado francês chamado Jean Bodin,
durante um debate sobre a causa da forte e desestabilizadora inflação de preços
que se seguiu imediatamente à conquista ibérica das Américas. Bodin argumentou
que a inflação era uma simples questão de oferta e demanda: o enorme influxo de
ouro e prata das colônias espanholas estava barateando o valor do dinheiro na
Europa. O princípio básico, sem dúvida, teria parecido uma questão de senso
comum para qualquer pessoa com experiência em comércio na época, mas na verdade
baseia-se em uma série de suposições falsas. Por um lado, a maior parte do ouro
e da prata extraídos do México e do Peru não acabaram na Europa e certamente
não foram cunhados como moeda. A maior parte foi transportada diretamente para
a China e a Índia (para comprar especiarias, sedas, chitas e outros “luxos
orientais”). Seus eventuais efeitos inflacionários locais foram baseados em
vínculos especulativos de um tipo ou de outro. Quase sempre é assim, quando
aplica-se a QTM: a lógica parece evidente, mas apenas se você deixar de fora a maioria
dos fatores decisivos.
No caso da inflação de preços do
século XVI, por exemplo, a partir do momento em que se considera crédito,
acumulação e especulação — sem mencionar o aumento das taxas de atividade
econômica, investimento em novas tecnologias e níveis salariais (que, por sua
vez, têm muito a ver com o poder relativo de trabalhadores e empregadores,
credores e devedores) – torna-se impossível dizer com certeza qual é o fator
decisivo. É a oferta monetária que impulsiona os preços ou os preços que
impulsionam a oferta monetária? Tecnicamente, isso se resume a uma escolha
entre o que é chamado de teorias exógenas e endógenas do dinheiro. O dinheiro
deveria ser tratado como um fator externo, como todos os dobrões espanhóis
supostamente varrendo Antuérpia, Dublin e Gênova nos dias de Felipe II? Ou
deveria ser imaginado, antes de tudo, como um produto da própria atividade
econômica, extraído, cunhado e colocado em circulação – ou, mais
frequentemente, criado como instrumentos de crédito, como empréstimos, a fim de
atender a uma demanda – o que, é claro, significaria que as raízes da inflação
estão em outro lugar?
Para ser franco: A QTM está
obviamente errada. Dobrar a quantidade de ouro em um país não afetará o preço
do queijo, se você der todo o ouro às pessoas ricas e elas o enterrarem em seus
quintais, ou preferir usá-lo para fazer submarinos folheados a ouro [é por
isso, aliás, que o quantitative easing (flexibilização quantitativa), a
estratégia de comprar títulos públicos de longo prazo para colocar dinheiro em
circulação, também não funcionou]. O que realmente importa é o gasto.
No entanto, desde a época de Jean
Bodin até o presente, quase toda vez que houve um grande debate sobre
políticas, os defensores da QTM venceram. Na Inglaterra, o padrão foi
estabelecido em 1696, logo após a criação do Banco da Inglaterra, com uma
discussão sobre inflação em tempo de guerra, entre o secretário do Tesouro
William Lowndes, Sir Isaac Newton (então diretor da casa da moeda) e o filósofo
John Locke. Newton concordara com o Tesouro, em que as moedas de prata tinham
que ser desvalorizadas oficialmente para evitar um colapso deflacionário; Locke
assumiu uma posição monetarista extrema, argumentando que o governo deveria se
limitar a garantir o valor da propriedade (incluindo moedas) e que alterar seu
valor confundiria os investidores e fraudaria os credores. Locke venceu. O
resultado foi um colapso deflacionário. Um forte aperto no suprimento de
dinheiro criou uma contração econômica abrupta, que tirou centenas de milhares
de pessoas do trabalho e criou penúria em massa, tumultos e fome. O governo
rapidamente moderou sua política (primeiro, permitindo que os bancos
monetizassem as dívidas de guerra na forma de notas bancárias e, eventualmente,
removendo completamente o padrão prata). Porém, na retórica oficial, a
ideologia de Locke – favorável a um governo reduzido, pró-credor e ortodoxa em
relação ao papel da moeda – tornou-se o fundamento de todo o debate político.
Segundo Skidelsky, o padrão iria
se repetir continuamente: em 1797, nas décadas de 1840, 1890 e, na transição
entre as décadas de 1970-80, com a adoção do monetarismo por Thatcher e Reagan.
Sempre ocorre a mesma sequência de eventos:
(1) O governo adota políticas monetárias ortodoxas (moeda exógena) como uma questão de princípio.
(2) Um desastre se segue.
(3) O governo abandona discretamente as políticas ortodoxas.
(4) A economia se recupera.
(5) A filosofia monetária ortodoxa, no entanto, torna-se senso comum universal ou, se já o era, consegue se fortalecer ainda mais.
Como foi possível justificar uma
série tão notável de fracassos? Boa parte da culpa, segundo Skidelsky, pode ser
atribuída ao filósofo escocês David Hume. Um dos primeiros defensores da QTM,
Hume também foi o primeiro a introduzir a noção de que choques de curto prazo –
como os produzidos por Locke – criariam benefícios a longo prazo se tivessem o
efeito de liberar os poderes de autorregulação do mercado:
Desde Hume, os economistas
distinguem entre os efeitos de curto e de longo prazo da mudança econômica,
incluindo os efeitos de intervenções políticas. A distinção serviu para
proteger a teoria do equilíbrio, permitindo que ela fosse enunciada de uma
forma que levasse em conta a realidade. Em Economia, o curto prazo agora
normalmente representa o período durante o qual um mercado (ou uma economia de
mercado) se desvia temporariamente de sua posição de equilíbrio de longo prazo
sob o impacto de algum “choque”, como um pêndulo temporariamente desalojado de
uma posição de descanso. Esse modo de pensar sugere que os governos devem
deixar que os mercados descubram suas posições de equilíbrio natural. As
intervenções do governo para “corrigir” os desvios adicionarão apenas camadas
extras de ilusão à original.
Existe uma falha lógica em
qualquer teoria desse tipo: não há maneira possível de refutá-la. A premissa de
que os mercados sempre se endireitam no final só pode ser testada se alguém
tiver uma definição comum de quando será o “fim”. Mas para os economistas, essa
definição acaba sendo “o tempo que leva para chegar a um ponto em que posso
dizer que a economia voltou ao equilíbrio”. (Da mesma forma, é impossível
demonstrar o erro de afirmações como “os bárbaros sempre vencem no final” ou “a
verdade sempre prevalece”, pois na prática elas apenas querem dizer“ sempre que
os bárbaros vencerem, ou que a verdade prevalecer, declararei a história
terminada”).
Nesse ponto, todas as peças
estavam no lugar: políticas de aperto monetário (que beneficiavam credores e
ricos) podiam ser justificadas como “remédio severo” para apagar os sinais de
preço, de modo que o mercado pudesse retornar a um estado saudável de
equilíbrio de longo prazo. Ao descrever como tudo isso aconteceu, Skidelsky
está nos fornecendo uma extensão digna de uma história que Karl Polanyi começou
a traçar nos anos 1940: a história de como os mercados nacionais supostamente
auto-regulados eram o produto de cuidadosa engenharia social. Parte disso
envolvia a criação de políticas governamentais conscientemente projetadas para
inspirar ressentimentos contra o “big government” (“Estado inchado”). Skidelsky
escreve:
Uma inovação crucial foi o
imposto de renda, cobrado pela primeira vez em 1814 e renovado pelo
[primeiro-ministro Robert] Peel em 1842. Entre 1911 e 14, ele se tornou a
principal fonte de receita do governo. O imposto de renda teve o duplo
benefício de fornecer ao Estado britânico uma base de receita segura e alinhar
os interesses dos eleitores ao governo barato, uma vez que apenas os
contribuintes tiveram o direito ao voto…. “Probidade fiscal”, sob Gladstone,
“tornou-se a nova moralidade”.
De fato, não há absolutamente
nenhuma razão para um Estado moderno se financiar pela apropriação de uma
proporção dos ganhos de cada cidadão. Existem muitas outras maneiras de fazer
isso. Muitas – como impostos sobre terras, riquezas, comércio ou sobre o
consumidor (qualquer um dos quais pode ser tornado mais ou menos progressivo) –
são consideravelmente mais eficientes, além de que a criação de um aparato
burocrático capaz de monitorar os assuntos pessoais dos cidadãos no grau
exigido pelo sistema de imposto de renda é, em si, enormemente caro. Mas isso
não leva ao ponto real: o imposto de renda deve ser intrusivo e irritante.
Precisa produzir pelo menos certa sensação de injustiça. Como grande parte do
liberalismo clássico (e do neoliberalismo contemporâneo), é um truque político
engenhoso — uma expansão do Estado burocrático que também permite que seus
líderes finjam advogar por um Estado mínimo.
A única exceção importante a esse
padrão foram os meados do século XX, que passaram a ser lembrados como a era
keynesiana. Foi um período em que as democracias capitalistas, apavoradas com a
Revolução Russa e a perspectiva de rebelião em massa de suas próprias classes
trabalhadoras, permitiram níveis sem precedentes de redistribuição – o que, por
sua vez, levou à prosperidade material mais generalizada da história da
humanidade. A história da revolução keynesiana da década de 1930 e a
contra-revolução neoclássica da década de 1970 já foi contada inúmeras vezes,
mas Skidelsky dá ao leitor uma nova sensação do conflito subjacente.
O próprio Keynes era um
anticomunista convicto, mas em grande parte porque achava que o capitalismo era
mais propenso a impulsionar o rápido avanço tecnológico, de modo a eliminar
amplamente a necessidade de trabalho material. Ele desejava o pleno emprego não
porque achava que o trabalho era bom, mas porque, em última análise, desejava
acabar com o trabalho, imaginando uma sociedade em que a tecnologia tornaria
obsoleto o trabalho humano. Em outras palavras, ele assumiu que o terreno
estava sempre movendo-se sob os pés dos analistas; o objeto de qualquer ciência
social era inerentemente instável. Max Weber, por razões semelhantes, argumentou
que nunca seria possível aos cientistas sociais inventar algo remotamente
parecido com as leis da física, porque no momento em que chegassem perto de
reunir informações suficientes, a própria sociedade e aquilo que os analistas
sentiam ser importante saber sobre ela, teria mudado tanto que as informações
se tornariam irrelevantes. Os oponentes de Keynes, por outro lado, estavam
determinados a enraizar seus argumentos em algo que consideravam como
princípios universais.
É difícil para não especialistas
ver o que realmente está em jogo aqui, porque o argumento passou a ser
recontado como uma disputa técnica entre os papéis da micro e macroeconomia. Os
keynesianos insistiram que o primeiro é apropriado para estudar o comportamento
de famílias ou empresas individuais, que tentam ampliar sua vantagem no
mercado; mas que, assim que se começa a olhar para as economias nacionais, está
se mudando para um nível de complexidade totalmente diferente, onde diferentes
tipos de leis se aplicam. Assim como é impossível entender os hábitos de
acasalamento de um porco-espinho analisando todas as reações químicas em suas
células, os padrões de comércio, investimento ou flutuações nas taxas de juros
ou emprego não eram apenas o agregado de todas as microtransações que pareciam
produzi-los. Os padrões tinham, como diriam os filósofos da ciência,
“propriedades emergentes”. Obviamente, era necessário entender o nível micro
(assim como era necessário entender a química que compunha o porco-espinho)
para ter alguma chance de entender o nível macro. Mas isso não era, por si só,
suficiente.
Os contra-revolucionários –
começando com o antigo rival de Keynes, Friedrich Hayek e os vários luminares
que se juntaram a ele na Sociedade Mont Pelerin – apostaram diretamente nessa
noção de que as economias nacionais não são nada mais que a soma de suas
partes. Politicamente, observa Skidelsky, isso se deveu a uma hostilidade à
própria idéia de Estado (e, em um sentido mais amplo, a qualquer bem coletivo).
As economias nacionais poderiam de fato ser reduzidas ao efeito agregado de
milhões de decisões individuais e, portanto, todos os elementos da
macroeconomia precisavam ser sistematicamente “micro-fundados”.
Uma razão pela qual essa posição
era tão radical é a de que ela foi tomada exatamente no mesmo momento em que a
própria microeconomia estava completando uma profunda transformação – que havia
começado com a revolução marginalista do final do século XIX. Passava de uma
técnica, para entender como aqueles que operavam o mercado tomam decisões, a
uma filosofia geral da vida humana. Foi capaz de fazê-lo, de modo notável,
propondo uma série de suposições que até os próprios economistas estavam
felizes em admitir que não eram realmente verdadeiras. “Vamos supor”, diziam
eles, “sujeitos puramente racionais, motivados exclusivamente pelo interesse
próprio, que sabem exatamente o que querem, nunca mudam de idéia e têm acesso
completo a todas as informações relevantes sobre preços”. Isso lhes permitiu
fazer equações precisas sobre exatamente como se deveria esperar que os
indivíduos agissem…
Certamente não há nada de errado
em criar modelos simplificados. Pode-se argumentar que é assim que qualquer
ciência dos assuntos humanos deve proceder. Mas uma ciência empírica passa a
comparar esses modelos com o que as pessoas realmente fazem, para então ajustar
seus modelos. Isso é precisamente o que os economistas não fizeram. Em vez
disso, descobriram que, se alguém envolvesse esses modelos em fórmulas
matemáticas completamente impenetráveis para os não iniciados, seria possível
criar um universo no qual essas premissas nunca pudessem ser refutadas. (“Todos
os atores estão envolvidos na maximização da utilidade. O que é utilidade? O
que quer que seja que um ator pareça estar maximizando.”) As equações matemáticas
permitiram aos economistas afirmar de forma plausível que a disciplina deles
era o único ramo da teoria social que avançara para algo como uma ciência
preditiva (mesmo que a maioria de suas previsões bem-sucedidas fosse do
comportamento de pessoas que haviam sido treinadas em teoria econômica).
Isso permitiu que o Homo
economicus invadisse o restante da academia, de modo que, nas décadas de
1950 e 1960, quase todas as disciplinas acadêmicas no negócio de preparar
jovens para posições de poder (ciência política, relações internacionais, etc.)
haviam adotado alguma variante de “teoria da escolha racional” – em última
análise, extraída da microeconomia. Nas décadas de 1980 e 1990, havia-se
chegado a um ponto em que nem mesmo os chefes de fundações de arte ou organizações
de caridade seriam considerados totalmente qualificados se não estivessem ao
menos amplamente familiarizados com uma “ciência” dos assuntos humanos que
partia da suposição de que os humanos eram fundamentalmente egoístas e
gananciosos.
Essas eram, então, as
“microfundações” às quais os reformadores neoclássicos exigiam que a
macroeconomia retornasse. Aqui eles foram capazes de tirar proveito de certas
fraquezas inegáveis nas formulações keynesianas. Acima de tudo sua incapacidade
de explicar a estagflação da década de 1970, de afastar a superestrutura
keynesiana restante, para retornar à mesma política de dinheiro duro e Estado
enxuto que havia sido dominante no mundo do século XIX. O padrão tradicional se
seguiu. O monetarismo não funcionou; no Reino Unido e depois nos EUA, essas
políticas foram rapidamente abandonadas. Mas ideologicamente, a intervenção foi
tão eficaz que, mesmo quando “novos keynesianos” como Joseph Stiglitz ou Paul
Krugman voltaram a dominar o debate sobre macroeconomia, eles ainda se sentiam
obrigados a manter as novas microfundações.
O problema, como Skidelsky
enfatiza, é que, se suas suposições iniciais forem absurdas, multiplicá-las por
mil vezes dificilmente as tornará menos absurdas. Ou, como diz, de maneira
menos gentil, “premissas lunáticas levam a conclusões malucas”:
A hipótese do mercado eficiente
(EMH), popularizada por Eugene Fama … é a aplicação das expectativas racionais
aos mercados financeiros. A hipótese das expectativas racionais (REH) diz que
os agentes utilizam de maneira ideal todas as informações disponíveis sobre a
economia e a política instantaneamente para ajustar suas expectativas….
Assim, nas palavras de Fama, …
“Em um mercado eficiente, a concorrência entre os muitos participantes
inteligentes leva a uma situação em que … o preço real de um título será uma
boa estimativa de seu valor intrínseco.” [Grifo de Skidelsky]
Em outras palavras, éramos
obrigados a fingir que os mercados não poderiam, por definição, estar errados.
Se, na década de 1980, o terreno em que o complexo Imperial em Tóquio foi
construído, por exemplo, era mais valorizado do que a de todos os terrenos de
Nova York, então isso teria que ser porque era o que realmente ele valia. Se
houver desvios, eles são puramente aleatórios, “estocásticos” e, portanto,
imprevisíveis, temporários e, em última análise, insignificantes. De qualquer
forma, atores racionais irão rapidamente intervir para varrer quaisquer ações
subvalorizadas. Skidelsky observa secamente:
Há um paradoxo aqui. Por um lado,
a teoria diz que não há sentido em tentar lucrar com a especulação, porque as
ações sempre são precificadas corretamente e seus movimentos não podem ser
previstos. Mas, por outro lado, se os investidores não tentassem lucrar, o
mercado não seria eficiente porque não haveria mecanismo de autocorreção.
Em segundo lugar, se as ações
sempre tiverem preços corretos, bolhas e crises não poderão ser geradas pelo
mercado….
Essa atitude entrou na política:
“funcionários do governo, começando com Alan Greenspan, presidente do Federal
Reserve, não estavam dispostos a estourar a bolha precisamente porque não
estavam dispostos a sequer julgar que se tratava de uma bolha.” Isso
impossibilitou a identificação de bolhas porque descartou-as a priori.
Se houver uma resposta para a
famosa pergunta da rainha da Inglaterra, sobre por que ninguém previu a grande
crise, será essa.
Neste ponto, chegamos ao círculo
completo. Após um embaraço tão catastrófico, os economistas ortodoxos
recorreram ao seu forte apelo – política acadêmica e poder institucional. No
Reino Unido, um dos primeiros movimentos da nova coalizão entre Conservadores e
Liberal-democratas, em 2010, foi reformar o sistema de ensino superior
triplicando as mensalidades e instituindo um regime de empréstimos estudantis ao
estilo norte-americano. O senso comum poderia sugerir que, se o sistema
educacional estivesse funcionando com êxito (apesar de todos os seus pontos
fracos, o sistema universitário britânico era considerado um dos melhores do
mundo), enquanto o sistema financeiro estava operando tão mal que quase
destruía a economia global, o mais sensato seria reformar o sistema financeiro
para parecer um pouco mais com o sistema educacional, e não o contrário. Um
esforço agressivo para fazer o oposto poderia ser apenas um movimento
ideológico. Foi um ataque total à própria idéia de que o conhecimento poderia
ser outra coisa senão um bem econômico.
Movimentos semelhantes foram
feitos para solidificar o controle sobre a estrutura institucional. A BBC,
outrora orgulhosamente independente, sob os Conservadores, passou a
assemelhar-se cada vez mais a uma rede de radiodifusão estatal. Seus
comentaristas políticos recitavam quase literalmente os últimos pontos de
discussão do partido no poder – que, pelo menos economicamente, tinham como
premissa as próprias teorias que acabavam de ser desacreditadas. O debate
político simplesmente supunha que o “remédio” usual e a “probidade fiscal”
gladstoniana eram a única solução. Ao mesmo tempo, o Banco da Inglaterra
começou a imprimir dinheiro como louco, efetivamente entregando-o ao 1%, em uma
tentativa malsucedida de desperatar a inflação. Os resultados práticos foram,
para dizer o mínimo, pouco inspiradores. Mesmo no auge da “recuperação”, no
quinto país mais rico do mundo, algo como um cidadão britânico em cada doze
experimentou fome, inclusive passando dias inteiros sem comida. Se uma
“economia” deve ser definida como o meio pelo qual uma população humana se
provê de suas necessidades materiais, a economia britânica é cada vez mais
disfuncional. Esforços frenéticos por parte da classe política britânica para
mudar de assunto (Brexit) dificilmente poderão durar para sempre. Em algum
momento, os problemas reais terão que ser abordados.
A teoria econômica, tal como
existe, assemelha-se cada vez mais a um galpão cheio de ferramentas quebradas.
Isso não quer dizer que não haja informações úteis, mas fundamentalmente a
disciplina existente é projetada para resolver os problemas de outro século. O
problema de como determinar a distribuição ideal do trabalho e dos recursos,
para criar altos níveis de crescimento econômico, simplesmente não é o mesmo
problema que estamos enfrentando agora: isto é, como lidar com o aumento da
produtividade tecnológica, a redução da demanda real de trabalho e o manejo eficaz
dos trabalhos relacioandos ao cuidado, sem também destruir a Terra. Isso exige
uma ciência diferente. As “microfundações” da economia atual são precisamente o
que está impedindo isso. Qualquer ciência nova e viável terá que recorrer ao
conhecimento acumulado do feminismo, economia comportamental, psicologia e até
antropologia para apresentar teorias baseadas em como as pessoas realmente se
comportam, ou mais uma vez abraçar a noção de níveis emergentes de complexidade
– ou, provavelmente, ambos.
Intelectualmente, isso não será
fácil. Politicamente, será ainda mais difícil. Romper com o bloqueio da
economia neoclássica nas principais instituições e seu domínio quase-teológico
sobre a mídia – para não mencionar todas as maneiras sutis para definir nossas concepções
de motivações humanas e os horizontes das possibilidades humanas – é uma
perspectiva assustadora. Presumivelmente, algum tipo de choque seria
necessário. O que é preciso? Outro colapso no estilo de 2008? Alguma mudança
política radical em um grande governo, de repercussão mundial? Uma rebelião
global da juventude? Seja como for, livros como este – e possivelmente este
livro de Skidelsky – terão um papel crucial.
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