"O mundo precisa de
políticos corajosos e com coração"
Catarina Albuquerque, relatora da
ONU para o direito à água, admite que vamos ter no ano novo "uma
continuação de 2019, em que mais de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo
não têm acesso à água potável". E é esta realidade que "vai ter de
mudar na próxima década, para que se cumpra a promessa dos objetivos de
desenvolvimento sustentável de chegar a 2030 com toda a gente à face da terra
com acesso a água potável e a condições dignas de saneamento".
A relatora das Nações Unidas
sublinha também que "mais de quatro mil milhões de pessoas, metade da
população mundial, não tem acesso a condições de saneamento dignas, saudáveis e
seguras".
Cataria Albuquerque admite que
"é preciso vontade politica" e espera que haja "políticos
determinados, com coragem, bons instintos e com o coração no sitio certo".
Defende que são precisas
"politicas públicas que ponham em primeiro lugar as pessoas que têm sido
negligenciadas ao longo das ultimas décadas". A relatora das Nações Unidas
admite que certas políticas "não serão populares ou muito 'sexys'",
mas defende o "aumento das tarifas da água para os grandes
consumidores".
Catarina Albuquerque lembra que "na
Austrália e também nos Estados Unidos, em Las Vegas, o agravamento das tarifas
da água para a indústria hoteleira fez com que valesse a pena investir em
sistemas de reciclagem de água para lavar os lençóis ou em redutores de caudal
de água para os duches"
A relatora da ONU para o direito
à água sublinha que "menos de 10% da água consumida no mundo é para
consumo humano. Os outros 90% vão para a agricultura e indústria, incluindo a
hotelaria". Sublinha que "todos estão obrigados a um esforço para
reduzir o desperdício de água, ainda mais num cenário de alterações
climáticas". Espera, por isso, que surjam resultados concretos na COP 26
de 2020, em Glasgow, ao contrário do que aconteceu em 2019, na cimeira do
clima, em Madrid.
Catarina Albuquerque admite que
"os que têm dinheiro jamais irão ter problemas de falta de água, mas
também eles terão de perceber que a água é um bem precioso que tem de chegar a
quem ainda não a tem, vivam eles em favelas ou noutros bairros ilegais" e
refere que "houve, muitas vezes e por esse mundo fora, políticos que dizem
que essas pessoas estão ilegais e não contam, mas isso não é verdade".
Helena Vieira | TSF | Imagem: Catarina
Albuquerque © Orlando Almeida/Global Imagens
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