Um estudo sobre a situação da
mulher guineense do mundo rural aponta para a existência de várias barreiras
impostas pelos homens, inibidoras da sua participação nas tomadas de decisão.
Boaventura Santy,
coordenador do estudo, promovido pela organização não-governamental guineense, Tiniguena,
disse à Lusa que a amostra retrata apenas a realidade de 30 comunidades rurais,
mas espelha a realidade vivida em toda a Guiné-Bissau.
"Constatámos que existem
barreiras exteriores à afirmação da mulher rural, constituídas pelos homens,
mas também concluímos que a pouca instrução dessas mulheres, a pobreza e o
excesso de trabalho, são também outros dos fatores para a sua fraca
participação nas tomadas de decisão", afirmou Santy.
O também sociólogo e investigador
no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) exemplificou que a mulher
rural acorda e sai de casa às 06:00 da manhã e só se deita às 22:00, acabando
por deixar para os homens a tarefa de decisão sobre os assuntos da comunidade.
"A maior parte dessas
mulheres são as provedoras da família, são elas que produzem o que se come, o
que se veste e o que se gasta para outras necessidades. São levadas a pensar e
incorporar na sua mente que o processo decisório cabe apenas aos homens",
sublinhou Boaventura Santy.
O investigador notou que o estudo
concluiu que as mulheres rurais "acabam por ficar confinadas apenas à
produção de bens de consumo e aos cuidados com as crianças".
Boaventura Santy realça
que o estudo retratou a realidade de 30 comunidades, de Bafatá, no leste, Oio,
no centro, e Cacheu, no norte, mas sublinhou que não há dúvidas em como
espelha o que se passa na generalidade do mundo rural guineense.
"O estudo, realmente, só veio
reforçar o conhecimento que o público tem em relação à situação de dificuldade,
de submissão da mulher e a sua limitação em termos de participação nos
processos decisórios, tanto a nível da sua comunidade como a nível
nacional", frisou Santy.
O investigador acredita ser
possível inverter esse quadro desde que o Estado guineense reforce a educação e
a instrução da mulher rural, crie reais condições para a sua participação nas
tomadas de decisão o que, disse, passa pela eliminação de barreiras culturais e
a ideia de imposição por parte dos homens.
O estudo, que é hoje apresentado
em Bissau, foi financiado ao abrigo de um projeto do Fundo das Nações
Unidas para a Consolidação da paz na Guiné-Bissau e executado em parceira com o
Programa Alimentar Mundial (PAM).
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © Lusa
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