Cientista política argentina
busca entender o protagonismo das mulheres, nas lutas atuais contra o
neoliberalismo. Suas hipóteses falam da revalorização do desejo e da percepção
de que politica precisa sacudir ruas, casas, fábricas e camas
Veronica Gago, entrevistada por Roxana
Sandá | Tradução: Antonio Martins | Ilustração: Stephanie
Pollo
Uma raiva de séculos envolve a
América Latina e ressoa com amargura. O movimento de mulheres, lésbicas, trans
e travestis levanta-se contra a caça feroz desencadeada após o golpe de Estado
na Bolívia e faz frente ao aparato repressivo no Chile. São milhares de corpos
acendendo fogos de rebelião para desafiar as fobias racistas e de classe, as
fobias colonialistas e dominantes que cospem sobre quem luta por uma
alternativa de poder feminista, antipatriarcal, antiextrativista e
descolonizante. Os jovens enfrentam o maquinismo neoliberal para que não
continue empobrecendo suas famílias. Enquanto se escreve este texto, a
resistência já dura semanas. “A História é nossa e o futuro também”, declaram
graffitis pintados na urgência.
Por um momento, os olhos da cientista
política, professora e militante feminista Verónica Gago se umedecem.
Pensa nos rios de sangue que estão correndo, ms também na sequência de lutas
que estão rompendo os limites de um poder de morte. O livro que ela acaba de
apresentar, “La potencia feminista – El deseo de cambiarlo todo” [“A potência
feminista – O desejo de mudar tudo (Edições Tinta Limón, Buenos Aires)] é uma
caixa de ferramentas para ser usada contra a ofensiva neoliberal e
conservadora, mas também uma investigação tramada ao calor das assembleias, das
mobilizações, das greves internacionais do 8 de março, que conecta as violência
econômicas, financeiras, políticas, institucionais, coloniais e sociais.
Um feminicídio a cada 29 horas na
Argentina [Um a cada 8 horas, no Brasil] obriga a sair do binarismo
vítima-algoz e a atravessar os conflitos enfiando transversalidade na “tremor
simultâneo das camas, casas e territórios” de que fala a investigadora, sem
deixar nada de fora porque as lutas feministas atravessam tudo. Uma
advertência: nestas páginas, ler a consigna “NiUnaMenos” [“NemUmaAMenos”]
implica reconceitualizar as violências machistas e politizá-las, para
reconhecer seu horror e desarmá-lo, a ponto de converter em migalhas a retórica
da vitimização. Mas quando nos assaltem as letrras de “NosMueveElDeseo”
[“NosMoveODesejo”], esta aventura em chave plurinacional, estaremos diante da
capacidade experimental, desejante, massiva e radical com que se constrói uma
proposta revolucionária: o desejo de mudar tudo. Eis a entrevista:
A que se refere A potência
feminista?
É uma maneira de denominar a
força do processo que os feminismos protagonizaram nos últimos anos e de dar
conta de tudo o que abriram, puseram em debate e alvoraçaram: nas relações
sociais, nas formas de fazer alianças políticas, nas dinâmicas de rua, nas
maneiras de dar conta do sofrimento e no modo de criar lutas transversais. Potência
feminista quer dizer que experimentamos uma força concreta que desloca e
modifica os limites do que acreditamos que podemos e somos capazes de fazer, de
transformar e de desejar. E esta potência tem muito a ver com outra das
caracterizações em que mais insisto no livro: a conjunção que os feminismos
conseguiram entre massividade e radicalidade. Ela marca uma novidade histórica.
Claro que sempre houve grupos, dinâmicas, debates feministas variados,
fundamentais, radicais. Mas o fato de tudo isso tomar uma escala de massas e
transnacional, como ocorreu nos últimos tempos, revirou a cena. Esta
expansividade do feminismo no interior de organizações, espaços e territórios
existenciais dos mais diversos faz com que o movimento – que é intergeracional
e pluralista – consiga fazer intervenções políticas conjunturais muito fortes,
ao mesmo tempo em que altera as vidas quotidianas.
A simultaneidade do tremor nas camas,
ruas, casas, territórios, lugares de trabalho (eles próprios redefinidos pelo
feminismo) introduz uma transversalidade materialista, que não deixa nada de
fora, nada sem tocar. E uma questão que abraça todos estes planos é como se
reconceitua, de maneira prática, desde as instâncias coletivas, as violências
domésticas (incluindo as financeiras), institucionais, racistas, laborais. Isso
permite um diagnóstico feminista do aumento de violências, um mapeamento e uma
caracterização precisa das conflitividades sociais do presente.
E permite conectar os diferentes
conflitos
A potência feminista é uma
capacidade de conectar lutas bem distintas, a partir de uma preocupação comum.
O que está sendo expropriado da riqueza coletiva, de maneira que nos empobrece
a vida, nos rouba tempo e explora determinados corpos e territórios de maneira
brutal? Nesta chave, começam a ser tecidos os conflitos, as reivindicações e as
lutas propostas por coletivos indígenas, trabalhadoras precarizadas,
estudantes, trabalhadoras da terra, travestis e trans, aposentadas. E esta,
insisto, é a materialidade concreta da transversalidade feminista que se
conquistou. Por último, diria que a noção de potência é uma discussão em termos
de teoria política: desde certa leitura de Espinosa, pode-se dizer que a
potência é uma capacidade de fazer, de instituir, de afetar e de criar que se
diferencia do poder – este, um grau mínimo de potência. Creio que isso é
importante para discutir a infantilização que muitas vezes se tenta fazer do
feminismo, como prática ingênua ou microscópica na transformação social.
Por que você propõe a greve
feminista como uma espécie de lente para conceitualizar e politizar as
violências?
A greve funciona como uma espécie
de umbral, de prática de deslocamento diante da violência feminicida. Gera um
lugar de enunciação que não aceita apenas a subjetividade das vítimas – a
predileta da mídia e de certas instituições. Em vez disso, propõe uma
subjetividade que se constitui na luta, no encontro com outres. E a greve
expressa um gesto de bloqueio diante do estado de coisas. O chamado à greve
permitiu questionar o que chamamos de trabalho; qual é o valor que produzimos;
de que maneira as violências machistas relacionam-se com a precarização
generalizada. Mas além disso, a greve como processo político que começa em
2016, e que segue com a emergência internacional da greve do 8 de Março nestes
últimos anos, tem como protagonistas aquelas que realizam os trabalhos
historicamente desvalorizados – ou as que foram marginalizadas, por muito
tempo, nos sindicatos. Assim, a greve é impulsionada a partir das trabalhadoras
sindicalizadas e das trabalhadoras da economia popular, a partir das
professoras ad honoren e das estudantes, das jornalistas free
lancers e das trabalhadoras estatais precarizadas, das agricultoras e das
trabalhadoras migrantes, a partir das que fazem trabalho em suas casas e das
desocupadas. Ela desencadeia em termos práticos uma perspectiva feminista que
permite ler as formas de trabalho atuais, enxergar todos os trabalhos, que em
sua maioria compartilham a condição de precariedade e de superexploração. Ou
seja, a perspectiva feminista não apenas ilumina, visibiliza e valoriza o
trabalho das mulheres e dos corpos feminizados, mas permite ler, a partir daí,
a condição de precarização geral, a fragilização das relações e a necessidade
de uma força coletiva para fazer frente a tal nível de saque da vida.
A greve feminista desacata o
reconhecimento restrito que a greve tradicional faz a respeito de quem são
trabalhadorxs. Lança uma bela consigna: #TrabalhadorasSomosTodas. Ao mesmo
tempo, evidencia que hoje o próprio chamado trabalho formal torna-se cada vez
mais intermitente, mais difícil. Mesmo para quem tem o “privilégio” do salário,
esta renda já quase não garante a reprodução da vida. Muito foi escrito e
pensado sobre o que significa a divisão sexual do trabalho, deste matrimônio
indissociável entre patriarcado, colonialismo e capitalismo. Mas a novidade é
que a greve feminista atualiza estes debate em termos práticos, em uma
perspectiva que abre espaço de insubordinação diante do mandato da
“austeridade”, dívida e precariedade.
O feminicídio de Lucia Pérez em
2016, durante o Encontro Nacional de Mulheres de Rosario, foi luto coletivo e
impulso vita da primeira Greve Internacional Feminista
Produziu-se, então, uma
racionalidade de assembleia. E desta assembleia saiu a ideia-força da Primeira
Greve de Mulheres [Primero Paro de Mujeres], como foi chamado. O que sustento
no livro é que as assembleias produzem um modo de inteligência coletiva em três
atos: a imaginação de uma ação comum surgida aí mesmo, in situ; a
avaliação da força que se tem e, finalmente, a capacidade prática de realizar
uma decisão coletiva. A assembleia é uma máquina de decisão política que
instala outra força soberana, que surge ao produzir condições de escuta, cada
vez mais escassas em tempos de hipermediatização. O chamado a deixar as redes,
a nos encontrarmos corpo a corpo, sempre é um chamado ao trabalhoso ato
de nos encontrarmos, e a sustentar os desencontros que aí se produzem, como
parte de uma prática de elaboração coletiva. É um exercício histórico do
feminismo que, nos últimos anos, vimos multiplicado e massificado.
A partir das assembleias e das
greves, e desde os territórios, o feminismo começou a tecer um novo processo
transnacional e plurinacional que não pode ser detido.
O processo de transnacionalização
ou internacionalismo feminista é das coisas mais interessantes, porque esta
prática está sendo reinventada a partir do movimento feminista. Tem a ver com a
capacidade de ressonância que as lutas vão adquirindo, a maneira como se
traduzem e materializam os sentidos de uma consigna, de uma bandeira, de um
lenço, uma imagem. Quando houve o debate pelo aborto legal, seguro e gratuito,
ou a greve feminista, não ocorreu apenas o esquema clássico de solidadriedade
de umas lutas contra as outras. Ao contrário, o transnacionalismo expressa-se
como uma força concreta em cada luta, e um horizonte comum que não aplana as
diferenças nem as coloca debaixo do tapete, para encaixar tudo num mesmo
esquema.
Esta experiência de não estarmos
sós, que sintetiza consignas como “Tocam em uma, tocam em todas!” expressa uma
repercussão, uma conexão e uma transversalidade que produz um corpo coletivo,
alargado, e que permite coordenar iniciativas muito amplas, ao ponto de
produzir o efeito oceânico de maré.
Desde o “NiUnaMenos”, formula-se
uma frase avançada, quase senha de transformação, que é No Move o Desejo. Que a
consigna expressa politicamente?
É uma consigna que me encanta.
Vejo nela muitos desdobramentos e a tomei como guia no livro. Por um lado,
significa para mim que o desejo tem potência cognitiva. Quer dizer que produz
conhecimento, percepção, sensibilidade. Dar este status ao desejo implica
assumir sua capacidade política de mobilização e de invenção de trajetórias
vitais. Algo muito rico do movimento feminista é esta elaboração permanente de
consignas, de frases, de slogans que vão tramando um saber coletivo e uma
pedagogia feminista, para ir conceituando, nomeando e tramando, compartilhando
o que fazemos – o que pode ser sistematizado também como saber. O desejo não é
o contrário do possível, como muitas vezes se diz. É o que abre outros
possíveis. Nestes sentido, o fato de nos mover implica uma aposta na
radicalidade do que significa fazer política feminista. Nela, nenhum aspecto da
vida fica fora da política. Tal politização da existência nega a hierarquia
entre o espaço que se chama usualmente “política” e o espaço do doméstico.
Romper estas divisões tem a ver com desejar mudar tudo.
Para a ordem conservadora,
produzir estes sentidos representa uma ameaça que precisa ser disciplinada,
castigada ou destruída, se necessário. Com você caracteriza a guerra no e
contra o corpo das mulheres e os corpos feminizados, no cenário atual?
Em sua investigação histórica Calibã e a
bruxa, Silvia Federici explica por que a caça às bruxas é uma cena
fundante da guerra contra as mulheres que está oculta na origem do capitalismo.
A pergunta que se faz é por que o capital precisa dar combate às parteiras e
aborteiras, às que vivem sós, às artesãs e chefas de associações, e situá-las
todas como bruxas – o que significa subjetividades heréticas e subversivas para
o sistema. Isso supõe ao mesmo tempo a necessidade de desprestigiar seus
conhecimentos, de tirar o poder social de suas atividades e de enclausurar a
muitas no lar, entendido como serviço doméstico obrigatório e gratuito. Há aqui
uma questão: o que se quer encerrar, quando se prende este poder e este
conhecimento? É a pergunta que nos volta sobre por que, em alguns momentos
históricos, há certos corpos e certos territórios contra os quais se faz a
guerra. O que se quer silenciar, explorar, dominar nestes corpos? É devido ao
fato de as mulheres, lésbicas, travestis e trans discutirem e confrontarem os
modos históricos de subordinação e exploração diferencial destes corpos que a
resposta tornou-se cada vez mais violenta? Para sintetizar: a pergunta da
guerra mantém-se atual porque estamos em um momento em que a violência
converteu-se na principal força produtiva.
Você fala também que o capital
precisa incrementar as violências para sustentar formas de domínio exploração
que estão em crise.
Estão em crise porque há um
montão de lutas que questionam estas formas e as impugnam quando desejam outras
coisas e repudiam os modos de vida neoliberais com sua dose insuportável de
sofrimento, solidão e austeridade. Por isso, também, a crueldade particular com
as gerações mais jovens; a intenção de endividá-las, medicá-las e controlá-las.
É preciso entender esta obsessão atual de substituir educação sexual por
educação financeira nas escolas. Parecem questões menores , mas são o
contrário. Tocam no ponto de como o capital já organiza formas de exploração e
de extração de valor no futuro; como tenta superar a crise de poder quando
corpos e territórios declaram-se em rebeldia, dizem que perderam o medo e que
estão dispostes a mudar tudo.
Como você caracteriza as
violências explícitas desatadas contra a força que os feminismos desencadearam
na região?
Como uma contraofensiva militar,
financeira e religiosa para tentar “voltar” ao que o capital chama de
normalidade. Insisto, ela é impossível sem ultrapassar um novo umbral de
violência nestas três frentes ao mesmo tempo. Financeiro através da dívida e do
empobrecimento generalizado; militar, como estamos vendo, com represssão pura e
dura. E os fundamentalismos religiosos, que estão em uma nova cruzada colonial,
racista, pelo domínio dos corpos e o fazem com a bíblia na mão.
No entanto, as violências ocorrem
de diferentes modos em mulheres, lésbicas, trans e travestis, na garotas dos
bairros, nas mulheres migrantes e em suas próprias concepções de reprodução da
vida.
A caracterização interseccional
das violências e o enfrentamento às violências racistas, patriarcais, coloniais
e capitalistas são um fio vermelho dos distintos feminismos: feminismo de
bairros, transfeminismo, feminismo indígena-comunitário, feminismo negro,
feminismo popular e muitos outros. A historicização das violências explicita
feridas e opressões diferentes, e refletu uma dimensão de classe que não é
possível ocultar. Situar e especificar o que significa a violência em cada uma
das existências diversas é fundamental. Ao mesmo tempo é necessário compor uma
luta comum que não aplane nem banalize estas diferenças históricas. Este plano
comum é tecido a partir do que o coletivo Mujeres Creando chamou de
“alianças insólitas”, capazes de compor o que swe tenta manter em
classificações e caixinhas separadas.
Quando os feminismos fazem-se
fortes, como você diz, colocam no centro do debate os atos de despojo do
neoliberalismo.
Um ponto fundamental é o caráter
antineoliberal que os feminismos expressam hoje. São eles que puseram no centro
do debate político a questão do extrativismo sobre corpos e territórios. Desde
o extrativismo de uma multinacional mineira, que desaloja toda uma população em
nome do desenvolvimento, até o extrativismo financeiro da dívida, que extrai
valor da precariedade. Mas também foram os feminismos que puseram em primeiro
plano a questão de o que significam o despojo de infraestrutura pública e a
privatização de serviços sociais. Eles são substituídos com trabalho gratuito
ou hiper barato das mulheres, lésbicas, trans e travestis nos territórios –
seres que o capital quer transformar numa espécie de nova classe servil. Foram
os feminismos que puseram em questão o que significa uma educação sexista com
mandatos de gênero que ao mesmo tempo te preparam para estágios baratos nas
empresas. Os feminismos articularam a dimensão de ajuste estrutural das
economias com a dimensão de um governo do desejo e da ordem político-sexual que
implica ordenar o trabalho e a inclusão social num esquema heteronormativo.
Tudo isso permitiu que em países com o nosso se tirasse do mapa o feminismo
liberal, que só propõe igualdade de condições sob o ideal de nos convertermos
em empresárias de nós mesmas.
Estas ações diretas de
corpo-território puderam ser vistas com clareza nestes dias, com as assembleias
de mulheres e as dissidências no Chile…
O que ocorre no Chile é
impactante. As companheiras da Coordenação Feminista 8M vêm numa sequência de
iniciativas que remonta pelo menos ao maio feminista de 2018, esta
reivindicação conjunta de educação pública e educação não sexista. Vieram em
seguida o Encontro das que Lutam e a massividade do 8 de Março deste ano. Há,
no último período, um acúmulo da dinâmica feminista que tem muito a ver com a
pegada da mobilização atual. Sobre tudo devido ao lugar que tiveram as e os
jovens secundaristas, ao iniciar a desobediência, o pula-catraca, como um gesto
de ruptura com a chantagem moral implícita no endividamento familiar para que
se eduquem e sejam exitoses em termos de competição. O mesmo vinham fazendo os
movimentos ue denunciavam a dívida por Saúde. Para resumir, no coração do
projeto neoliberal dos Chicago Boys, implode a vida neoliberal,
graças ao impulso das gerações mais jovens, junto com uma dinâmica que a greve
plurinacional feminista projeta. Porque o que vemos na greve dos últimos dias,
no Chile, são elementos da greve feminista, que levam em conta a reprodução da
vida como um espaço onde hoje o capital acumula o tempo todo. Como hoje a
reprodução da vida já não está garantida por rendimentos (sejam salariais ou de
outro tipo), a dívida converte-se em uma obrigação, é adquirida
compulsoriamente. Por isso, parece-me tão genial este graffiti que no Chile
alguém escreveu na parede de um banco. Diz: “Nos devem uma vida”, o que inverte
a questão de quem deve a quem.
A Bolívia arde, e a cada dia o
recrudescimento dos setores que tomaram o poder e dos comandos de ultradireita
está causando mais repressão e mortes.
É um massacre atrás desde o golpe
de Estado – sem dúvida, racista e fundamentalista. A violência sexual como
violência política e a violência da heteronormatividade contra indígenas,
mulheres, lésbicas, travestis e trans são o traço que sobressai e é comum ao
Brasil, Chile, Equador e Bolívia. A pergunta que surge é como se desarma o
fascismo social e como se desarma a situação de guerra interna que se pretende
instalar. Há uma discussão de fundo sobre como o desenvolvimentismo desencadeia
dinâmicas neoextrativistas às quais se resiste há anos. E estas resistências
têm como protagonistas mulhres que disseram claramente: a conquista
neoextrativista e neocolonial dos territórios é contra a reprodução da vida, contra
os bens comuns. Não é uma discussão teórica, é um acúmulo de lutas que com
enorme esforço, risco e perseverança conseguiram instalar estes debate. É um
ponto muito forte da discussão latinoamericana atual, porque os feminismos
estão denunciando o amálgama entre neoliberalismo, extrativismo e
colonialidade. Hoje isso está no centro da guerra social. As lutas feministas
puseram em palavras e em práticas uma reistência antineoliberal, e relançaram o
conflito político. Por isso, têm um papel fundamental em combater o fascismo.
Por isso, estão também no centro do alvo das violências.
MAIS
Veronica Gago é também autora de
A RAZÃO NEOLIBERAL
Editora Elefante, 2018, 372 págs.
[Participantes de Outros Quinhentos têm 25% de desconto]
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