Os populistas de direita europeus
enfrentam atualmente diferentes cenários. Enquanto a FPÖ se vê em baixa na
Áustria e a AfD tenta se vender como mais moderada na Alemanha, Democratas
Suecos e o espanhol Vox avançam.
AfD em busca de imagem
moderada
O novo copresidente do partido
populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Tino Chrupalla, pediu
no último fim semana que seus correligionários adotem
um curso mais moderado como parte dos esforços do partido para
conquistar mais eleitores.
A AfD, que atualmente lidera a
oposição no Bundestag, deve se tornar um "poder político realmente
sério" nos próximos anos, disse Chrupalla. Ele vai coliderar o
partido ao lado de Jörg Meuthen, que também vem mantendo distância da direita
radical.
Nas pesquisas de intenção de voto
na Alemanha, a aprovação da AfD gira, atualmente, entre 13% e 14%, não tendo,
portanto, aumentado significativamente em comparação com as eleições
parlamentares de 2017, quando obteve 12,7% dos votos.
Em eleições realizadas neste ano
em antigos estados da Alemanha Oriental, no entanto, a legenda obteve
ganhos robustos. Na Turíngia, a AfD mais do que dobrou seus votos em relação ao
pleito anterior, chegando a 22,5%. Na Saxônia, ficou com 27,5% dos votos, sendo
o segundo partido mais votado, atrás da União Democrata Crista (CDU), da
chanceler federal Angela Merkel, e crescendo 17,8 pontos em relação às eleições
de 2014. Em Brandemburgo, os populistas de direita ficaram com 23,5%, atrás
somente do Partido Social-Democrata (SPD).
No entanto, até o momento os
principais partidos alemães se recusaram a formar uma coalizão com a AfD tanto
no nível federal quanto nos governos estaduais.
Democratas Suecos sobem nas
pesquisas
Aconteceu algo inédito na
política sueca: segundo recentes pesquisas de intenção de voto, o partido
anti-imigração Democratas Suecos está em primeiro lugar, empurrando os
"eternos" vencedores social-democratas para fora do topo na
preferência do eleitorado do país nórdico.
Aparentemente, a razão é a onda
de violência de gangues que vem se arrastando pelo país há meses. Os Democratas
Suecos acusam a coalizão de governo formada por verdes e social-democratas de
inação.
Com seu passado neonazista, o
partido foi visto durante muito tempo de forma negativa. Mas, sob seu jovem
presidente, Jimmie Akesson, o partido assumiu uma feição mais amigável.
O primeiro avanço dos Democratas
Suecos se registrou com o início da crise de refugiados em 2015, quando a
Suécia recebeu mais pessoas do que qualquer outro país europeu em proporção à
sua população.
Nas últimas eleições
parlamentares, em 2018, eles foram o terceiro maior partido. Em nível local e
regional, não é mais tabu que políticos moderados trabalhem com populistas de
direita. Nesse sentido, os Democratas Suecos estão à frente dos populistas de
direita alemães da Alternativa para a Alemanha (AfD).
Vox espanhol contra separatismo
catalão
O partido Vox celebra o
ex-ditador Francisco Franco e a tourada. Luta contra o casamento gay e o
feminismo e também é contra os imigrantes africanos. O fato de um partido
tão reacionário ter
chances na Espanha de hoje tem a ver com o separatismo catalão. Por um
longo tempo, o país foi considerado um baluarte contra o populismo de direita,
apesar da crise dos refugiados.
Mas desde os duros confrontos
entre defensores e opositores da independência catalã, o Vox se tornou o
porta-voz de uma postura inflexível. O presidente do governo
(primeiro-ministro) socialista Pedro Sánchez acusa o jovem chefe do Vox,
Santiago Abascal, de trair sua pátria.
Para Abascal, até o conservador
Partido Popular (PP) é moderado demais. O Vox foi fundado no final de 2013 por
ex-membros do PP. Assim como ocorre com a ultradireitista AfD na Alemanha,
nenhum outro partido no Parlamento espanhol quer se aliar ao Vox, apesar
de a busca por uma maioria do governo em Madri estar se tornando cada
vez mais difícil.
Partido Popular Dinamarquês
superado em questões migratórias
O direitista Partido Popular
Dinamarquês nem precisa governar. Suas posições críticas à imigração
tornaram-se predominantes, mesmo entre o Partido Social-Democrata do país.
Os social-democratas superaram o Partido Popular Dinamarquês em
questões migratórias na campanha eleitoral em meados do ano passado, ficando
até mesmo mais à direita – e triunfaram, enquanto o Partido Popular caiu de 21%
para quase 9% na preferência do eleitorado.
Após a vitória nas eleições,
Sigmar Gabriel, ex-presidente do Partido Social-Democrata (SPD) alemão,
aconselhou que seu partido fizesse o mesmo na Alemanha: um curso mais
linha-dura em política migratória aliado a uma guinada à esquerda na política
social.
Outros membros importantes do SPD
alemão, no entanto, se distanciaram de seus colegas do partido dinamarquês. Na
campanha eleitoral, os social-democratas dinamarqueses defenderam que processos
de refúgio fossem conduzidos fora da Europa e quiseram vincular ajuda a países
menos desenvolvidos à prontidão dos requerentes de refúgio rejeitados em
retornar aos seus países de origem.
Para que um Partido do Brexit?
Quase nenhum outro partido
populista de direita na Europa vivenciou um aumento e uma queda tão acentuada
de popularidade quanto o Partido do Brexit no Reino Unido. Fundado no início
deste ano, ele conquistou a maioria dos assentos de seu país no Parlamento Europeu
nas eleições europeias de maio último, ofuscando completamente os dois maiores
partidos britânicos tradicionais, o Partido Conservador e o Partido
Trabalhista (Labour).
O nome do partido é programático:
ele quer que o país deixe a União Europeia (UE) o mais rápido possível após a
longa disputa em torno do Brexit sob o governo conservador. Mas o Partido do
Brexit subestimou o primeiro-ministro conservador Boris Johnson. Embora ele
tenha inicialmente tateado apenas com a saída da UE, agora está entrando nas
próximas eleições gerais em 12 de dezembro com o plano de deixar a UE de
maneira regulamentada até o início do próximo ano.
Johnson parece receber apoio da
maior parte da opinião pública: nas pesquisas de intenção de voto, os
conservadores detêm até agora uma liderança sólida, enquanto o Partido do
Brexit ficou com menos de 5% nas últimas pesquisas.
FPÖ na Áustria em baixa
A queda do chefe do
ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) aconteceu justamente
devido ao seu tópico favorito, a corrupção. Heinz-Christian Strache apareceu
num vídeo gravado secretamente em Ibiza, fazendo concessões a uma suposta
sobrinha de um oligarca russo.
Strache renunciou. Mas a coalizão
de governo entre o Partido Popular (ÖVP) e os populistas de direita do FPÖ
agradava aos austríacos, especialmente em questões de segurança interna e
migração, na qual eles seguiam uma linha particularmente dura.
Nas eleições parlamentares no
final de setembro último, o FPÖ pagou a conta pelo escândalo de corrupção e
caiu para 16%. Mas Sebastian Kurz, chanceler federal austríaco pelo ÖVP, está
agora negociando uma nova coalizão com os verdes. Ainda não está claro se isso
resultará uma coalizão de governo. Em suma, as negociações são difíceis.
Lega à espera na Itália
Matteo Salvini, ex-ministro do
Interior da Itália e chefe da legenda populista de direita Liga, estava seguro
demais de si. Em agosto último, ele rompeu a coalizão de governo com o Movimento
Cinco Estrelas e apostou em novas eleições.
Nas pesquisas, o parceiro menor,
o Liga, já havia superado há muito o Movimento Cinco Estrelas. Mas o plano de
Salvini não deu certo, o Cinco Estrelas formou uma coalizão com o
social-democrata Partido Democrático (PD). Uma das consequências foi a
suavização da política migratória muito restritiva sob o governo de Salvini.
No entanto, a Liga, partido de
Salvini, pode esperar um retorno: o atual governo se encontra dividido. E com
33% da preferência do eleitorado nas pesquisas, a Liga está claramente à frente
do PD (19%) e do Cinco Estrelas (17%).
A Liga ganhou claramente as
eleições regionais na Umbria. Parece ser apenas uma questão de tempo – até a
próxima eleição parlamentar – para que a Liga volte a governar, pela primeira
vez, presumivelmente, como parceiro majoritário.
Christoph Hasselbach | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário