sábado, 28 de dezembro de 2019

Portugal | O ambiente e os temas tabu


Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

Conseguir uma coerência absoluta em todos os planos da vida é um desafio interminável. Por maioria de razão para as questões ambientais, que se impuseram como tema prioritário no ano que está a terminar.

Todos facilmente nos identificamos com a necessidade de proteger o Planeta, mas mais difícil é abdicar das viagens de avião e os especialistas em mobilidade são céticos a perspetivar alternativas nos próximos anos.

Ou, outro exemplo, é cómodo e simples carregar num botão e fazer compras online, mas os custos ambientais obrigam a pensar numa forma de as tornar mais sustentáveis. Os veículos elétricos são vistos como o caminho mais rápido para reduzir a poluição, mas também essa opção lança desafios energéticos, sendo difícil prever a capacidade de resposta num cenário de mudança radical dos combustíveis fósseis para os elétricos.

A coerência é ainda mais desafiante para quem ocupa cargos públicos. E se é louvável a honestidade com que o ministro João Matos Fernandes lança afirmações como a de que discutir a eventual deslocação de aldeias ribeirinhas não pode ser um tabu, mais questionável é o sentido de oportunidade, num momento em que as populações sofrem os efeitos das cheias e em que, como foi obrigado a esclarecer, não há qualquer plano nesse sentido.

A declaração é ainda mais discutível quando enquadrada com a polémica localização do futuro aeroporto do Montijo. Além dos impactos ambientais na avifauna, a infraestrutura poderá vir a ser afetada pela subida do nível médio do mar. Mesmo que a cota da pista seja elevada cinco metros, como assegura o ministro do Ambiente, nos cenários mais extremos aponta-se para o risco de ficar inundada entre 2050 e 2070. Não pode haver tabus a discutir com seriedade as consequências das alterações climáticas. Mas isso tem de valer tanto para as populações como para quem as governa. Para quem tem responsabilidades e poder de decisão.

*Diretora-adjunta

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