Inês Cardoso | Jornal de
Notícias | opinião
Conseguir uma coerência absoluta
em todos os planos da vida é um desafio interminável. Por maioria de razão para
as questões ambientais, que se impuseram como tema prioritário no ano que está
a terminar.
Todos facilmente nos
identificamos com a necessidade de proteger o Planeta, mas mais difícil é
abdicar das viagens de avião e os especialistas em mobilidade são céticos a
perspetivar alternativas nos próximos anos.
Ou, outro exemplo, é cómodo e
simples carregar num botão e fazer compras online, mas os custos ambientais
obrigam a pensar numa forma de as tornar mais sustentáveis. Os veículos
elétricos são vistos como o caminho mais rápido para reduzir a poluição, mas
também essa opção lança desafios energéticos, sendo difícil prever a capacidade
de resposta num cenário de mudança radical dos combustíveis fósseis para os
elétricos.
A coerência é ainda mais
desafiante para quem ocupa cargos públicos. E se é louvável a honestidade com
que o ministro João Matos Fernandes lança afirmações como a de que discutir a
eventual deslocação de aldeias ribeirinhas não pode ser um tabu, mais
questionável é o sentido de oportunidade, num momento em que as populações
sofrem os efeitos das cheias e em que, como foi obrigado a esclarecer, não há
qualquer plano nesse sentido.
A declaração é ainda mais
discutível quando enquadrada com a polémica localização do futuro aeroporto do
Montijo. Além dos impactos ambientais na avifauna, a infraestrutura poderá vir
a ser afetada pela subida do nível médio do mar. Mesmo que a cota da pista seja
elevada cinco metros, como assegura o ministro do Ambiente, nos cenários mais
extremos aponta-se para o risco de ficar inundada entre 2050 e 2070. Não pode
haver tabus a discutir com seriedade as consequências das alterações
climáticas. Mas isso tem de valer tanto para as populações como para quem as
governa. Para quem tem responsabilidades e poder de decisão.
*Diretora-adjunta
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