Milhares de pessoas – entre elas,
pré-adolescentes – tentam parar, há oito dias, um dos centros do capitalismo
global. O movimento ensina algo sobre a potência de um novo ambientalismo e de
certas táticas de luta
“Nosso futuro foi entregue, para
que um pequeno número de pessoas possa acumular quantidades inimagináveis de
dinheiro (…) Agora, as pessoas estão aos poucos se tornando mais conscientes,
mas as emissões [de CO²] continuam a crescer. Não podemos nos contentar com
pouco. No essencial, nada mudou (…) Não se trata apenas de gente jovem cansada
de políticos. É uma crise existencial. É algo que afetará o futuro de nossa
civilização”. Não foram palavras de um político de esquerda, nem de um filósofo
ecossocialista. Entre domingo (21/4) e segunda-feira (22), a garota sueca Greta
Thunberg, que tem 16 anos e é portadora de uma forma incomum de
autismo, polarizou as atenções em Londres – ofuscando, inclusive, o debate
interminável sobre o Brexit. As frases acima são de suas falas num debate
e num discurso ao Parlamento.
Greta, porém, não foi estrela
solo. Desde 15 de abril, multidões articuladas pelo movimento Extinction
Rebellion promovem, num dos centros globais do capitalismo, uma sequência
de ocupações de espaços públicos, protestos, bloqueios de vias e performances
contra o sistema que promove o aquecimento global e a devastação da biosfera.
Mais de mil pessoas foram presas no período e o movimento prossegue, adotando
formas particulares de resistência não-violenta. Depois da emergência da
Esquerda Democrática nos EUA, das Sextas-feiras pelo futuro e do Green New
Deal, surge um novo sinal da potência rebelde que a luta em defesa do
planeta pode, em determinadas condições, assumir.

Ponte de Waterloo. Praça do
Parlamento. Oxford Circus. Museu de História Natural. Nos últimos oito dias,
todos estes locais-símbolos de Londres foram tomados por milhares de ativistas
para denunciar a continuidade das políticas que, em nome dos lucros, ameaçam o
futuro coletivo. O movimento é multigeracional, mas há nítida predominância de
jovens e adolescentes – inclusive na faixa dos 12 aos 16. A Extinction
Rebellion mobilizou-os em torno de três propostas simples. Talvez revelem
alguma ingenuidade, mas seu sentido de indignação antissistêmica é claro. São
elas: a) que os governos “falem a verdade” sobre a emergência ecológica,
revertam políticas que a alimentam e ajam em conjunto com a mídia para
“informar os cidadãos”; b) que a emissões líquidas de gases do efeito-estufa
sejam reduzidas a zero, até 2025; c) que assembleias de cidadãos possam
acompanhar o andamento deste processo de transformações.