sábado, 19 de outubro de 2019

Por trás do iPhone, o Estado e os militares


Liberais até a página 2: ao contrário do que alegam corporações tecnológicas, cada “inovação” presente em seus produtos foi desenvolvida a partir de pesquisa estatal – muitas vezes associada à tecnologia de guerra. Vale conferir caso da Apple

Marianna Braghini Deus Deu | Outras Palavras

Quando tomamos nossos celulares e tablets em mãos, estamos utilizando tecnologias desenvolvidas com décadas de financiamento e apoio estatal. Muitas das aplicações que dão a característica de “inteligente” aos smartphones são inovações que surgiram e foram desenvolvidas via demanda por inovações tecnológicas que garantissem algum tipo de superioridade bélica. Em seu livro O Estado Empreendedor, a economista italiana Mariana Mazzucato dedica uma seção para tratar do sistema nacional de inovação dos EUA e o caso do iPhone, que obteve seu sucesso, fundamentalmente, ao englobar e integrar diversas destas tecnologias, especialmente aquelas que surgiram no seio do setor de Defesa estadunidense e foram sendo desenvolvidas para uso comercial e civil, para além do militar.

A autora demonstra como nos EUA, agências e outras iniciativas foram criadas pelo Estado como fomento (e a própria configuração) de seu sistema nacional de inovação. O exemplo escolhido pela autora é emblemático. Pode-se dizer que os EUA são os maiores propagandistas do livre mercado, advogando pela desregulamentação, privatização e por abertura comercial mundo afora – frequentemente garantindo este seu ambiente econômico favorito via força bélica. A leitura do livro de Mazzucato desmente a crença segundo o qual o desenvolvimento tecnológico deu-se sem a participação interventora do Estado e mostra como é falsa a mística que rodeia os ideais do livre mercado. Segundo esta, o setor privado seria supostamente o grande agente inovador; e o Estado, portador de uma estrutura arcaica, que entravaria este processo “aventureiro”.

RU | Deputados aprovaram emenda que obriga a pedir adiamento do Brexit


Boris Johnson diz que não o fará

Deputados aprovaram emenda para obrigar Boris Johnson a pedir adiamento ainda que aprovando o acordo para sair da UE. Governo considera que isso desvirtua a sua proposta e prepara-se para voltar à luta na próxima semana

Do Expresso salientamos parcialmente a matéria existente e que surpreende os que menos acompanham toda a parafernália que envolve o Brexit, o governo de Boris e a oposição. Podem acessar na integra em Expresso, autores à vista Pedro Cordeiro e Ana França. Aqui deixamos o resumo selecionado. (PG)

Afinal que aconteceu hoje no Parlamento?

A sessão em que se previa a votação do novo acordo para o Brexit negociado por Boris Johnson deixou de o ser por causa de uma emenda ao texto.

O deputado Oliver Letwin, independente que já foi conservador (Johnson expulsou-o da bancada por indisciplina partidária no tocante à questão europeia), propôs que a aprovação parlamentar ficasse condicionada à adoção da legislação que aplica o acordo em causa.

Letwin fê-lo por recear que o acordo pudesse passar hoje e a legislação ser chumbada na próxima semana, num estratagema dos eurocéticos mais radicais para precipitar um Brexit sem acordo.

Ao impedir a aprovação imediatamente, obriga na prática Boris Johnson a pedir novo adiamento. Isto porque a Lei Benn, adotada em setembro, exige esse gesto ao Governo caso chegue às 23h de hoje (e chegará) sem acordo aprovado pelo Parlamento.

Houve 322 votos a favor e 306 contra a emenda de Letwin. Dado que daí em diante a moção de aprovação do acordo de saída da UE já só podia ser votada com essa emenda incorporada, o Governo preferiu retirar a moção.

Johnson garantiu que não negociará novo adiamento (não disse taxativamente que não o pedirá) e que voltará ao combate, segunda-feira, pela aprovação da legislação exigida e do acordo a que chegou quinta-feira.

Pedro Cordeiro

Olhando o abismo

O sub-editor do "The Guardian" coloca o problema de Boris Johnson de forma bastante visual: A valeta em que ele disse que preferia morrer à possibilidade de pedir uma extensão do prazo para Brexit? "É para essa valeta que ele está a olhar agora".

Ana França


Imagens aéreas de Londres mostram grande mobilização do #PeoplesVote

Há pouco tentamos colocar um vídeo da Marcha, mas sem sucesso. Aqui em baixo está uma outra ligação. Aqui estão, vistas de cima, as ruas de Londres, intransitáveis, repletas de pessoas a quem todas estas divisões no parlamento acabaram por dar esperança de que um novo referendo possa acontecer.

Ana França

Portugal | Roturas e continuidades


Manuel Carvalho Da Silva | Jornal de Notícias | opinião

A composição e características do conjunto dos ministros do novo Governo e as explicações acerca da sua estrutura e objetivos, expandidas até agora pelo indigitado primeiro-ministro (PM), confirmam três ideias fundamentais: i) o Partido Socialista (PS) utiliza o seu reforço para dar uma guinada ao centro; ii) observam-se mais alterações de forma que de conteúdo na estrutura do Governo, apesar de umas pinceladas de modernidade simpática na designação de alguns ministérios; iii) surgem indicadores de que a este Governo está reservada uma missão de combates de curto prazo, que não serão apenas o da presidência da União Europeia em 2020, mas ainda outros que, por agora, estão apenas na cabeça do PM.

António Costa e o PS optaram pelo enterro da "geringonça"? Sem dúvida, mas esse não será o grande problema pois ela era dificilmente repetível e há desafios colocados aos partidos à sua Esquerda que exigem a estes uma maior liberdade de movimentos e acutilância. Poderá colocar-se outra questão: vão o PS e o seu líder enterrar as políticas de recuperação de rendimentos, de preocupações com a justiça social e com princípios progressistas no emprego e nos direitos sociais fundamentais, distanciando-se daquilo que levou os portugueses a "gostarem da geringonça"? Os sinais dados até agora parecem apontar nesse sentido, embora a capacidade negocial do primeiro-ministro por vezes nos surpreenda.

Portugal | Contra os populismos que meteram os pés na porta


Os desafios futuros para a esquerda, contra a tralha neoliberal e os populismos em marcha, não são fáceis. Há que lutar, contra todas as evidências, sabendo de ciência certa que a razão está do lado da esquerda mesmo.

Manuel Augusto Araújo | AbrilAbril | opinião

Pela primeira vez três partidos, Livre, Iniciativa Liberal (IL) e Chega, meteram o pé na porta da Assembleia da República (AR), colocando um deputado cada e o outro, o PAN, que já tinha metido o pé na porta nas eleições anteriores elegendo um deputado, viu aumentada a sua representação para quatro deputados. A direita viu a sua presença na AR ampliada em número de partidos embora com menos 18 deputados do que tinha em 2015. As esquerdas, embora aumentassem o número de deputados em relação a 2015, mais dezasseis deputados, perderam quase 50 mil votantes, o que deve preocupar. Nestas contas direitas/esquerdas não entra o PAN que afirma não ser de direita nem de esquerda. Uma espécie de partido sem eira nem beira, de um oportunismo sem peias.

Embora o espaço da direita se tenha reduzido o seu futuro não se advinha adverso. A comunicação social já anda a bolinar a seu favor, veja-se o tempo concedido sobretudo à Iniciativa Liberal e a lavagem do Chega classificado de extrema-direita populista, uma forma simplista de mascarar a readaptação do fascismo de que é herdeiro, ao contexto actual em nova versão.

Igualmente a Iniciativa Liberal, que elege um deputado na primeira vez que concorre, é travestida de liberal quando de liberal nada tem. É a grande corrupção intelectual por não se assumirem o que realmente são, ultra-liberais em linha com Hayek e os Chicago Boys que renegam os liberais, de Stuart Mill a Keynes e seus continuadores actuais, que defendem a educação pública, universal e gratuita, impostos progressivos, a protecção social universal, a expansão do investimento e do emprego público, a repressão dos especuladores financeiros, um Estado interventivo no combate à sucessivas crises do capitalismo e que, nos dias de hoje, são as políticas dos partidos socialistas e sociais-democratas que as praticam com enormes e devastadoras concessões ao capital, uma das mais graves é terem abdicado de moeda própria, deixando o financiamento do Estado nas mãos de especuladores internacionais. Essa gente do IL tem o desplante, a incomensurável lata de pregarem um pseudo-liberalismo económico contra o excesso de intervencionismo do Estado, quando nas últimas décadas se privatizou tudo o que havia para privatizar, excepto a Caixa Geral de Depósitos, o serviço público da comunicação social, onde ocupam, directa e indirectamente, um espaço desmesurado em comparação com a esquerda, o Serviço Nacional de Saúde e a Educação que paulatinamente tem sido entregue aos privados. É esse pouco que ainda resiste aos ataques dos ultra-liberais que agora está na sua mira.

Portugal | "Costa recentrou no núcleo próximo toda a formação do Governo"


Para Francisco Louçã, é compreensível que António Costa tenha designado quatro ministros de Estado. Nos últimos quatro anos, "percebeu-se que o primeiro-ministro era a orquestra inteira” e que isso causava algum "desgaste".

Francisco Louçã comentou na sexta-feira a constituição do novo Governo, um Executivo “muito centrado no núcleo muito próximo pessoal e politicamente de António Costa”, com muito poucas caras novas mas com uma hierarquia diferente devido à nomeação de quatro ministros de Estado.

Para o bloquista, a nomeação de quatro ministros de Estado “é uma surpresa”, mas é uma decisão “compreensível”. “A justificação para que Pedro Siza Vieira apareça em segundo lugar é que, Santos Silva e o próprio primeiro-ministro, terão que fazer muitas viagens”.

Santos Silva, recordou Louçã, na última legislatura foi formalmente o número dois, mas não assumiu frequentemente esse papel do ponto de vista da representação política do Governo. “Dedicou-se muito mais exclusivamente à questão dos Negócios Estrangeiros”, notou. 

CATALUNHA A FERRO E FOGO | Libertação de presos políticos e independência


Juízes de Espanha regressam ao passado, ao franquismo fascista, e condenam a prisão políticos catalães que lutam democraticamente pela independência do território que o Reino de Castela ocupou pela força e não mais largou. Os catalães não estão pelos ajustes e querem verdadeira justiça, querem a independência. De manifestações democráticas e pacíficas o conflito tem alastrado para atos desesperados de violência contra a repressão castelhana, pela libertação dos presos políticos catalães e pela independência. (PG)

Alta tensão na Catalunha. Confrontos, 77 feridos e 17 detenções

Estradas cortadas e incêndios marcam o dia na Catalunha, que está a 'ferro e fogo' desde segunda-feira.

A Catalunha vive, desde segunda-feira, dias de fortes confrontos. Vias cortadas, barricadas, incêndios e violência entre os manifestantes e as autoridades foram o resultado dos distúrbios novamente registados esta sexta-feira, pelo quinto dia consecutivo.

Há registo de 17 detidos e 77 civis feridos na Catalunha, revela o jornal La Vanguardia. Destes feridos, 52 ocorreram em Barcelona, onde 15 foram encaminhados para o hospital. 
Mais de 200 polícias ficaram feridos. Um dos agentes ficou em estado grave após ter sido atingido na cara e caído inconsciente.

A polícia lançou gás lacrimogéneo e disparou balas de borracha depois de ter tentado dispersar os manifestantes que barricavam a passagem de uma das vias públicas mais importantes de Barcelona, a Via Laietana, e atiravam objetos contra os agentes de segurança.

Segundo a Guarda Urbana, cerca de 525 mil pessoas vindas de toda a Catalunha estiveram em Barcelona para participar na grande manifestação que reuniu as várias "marchas pela liberdade".

Quinze estradas da rede principal da Catalunha permaneciam cortadas ao final da tarde na sequência das marchas independentistas e da greve geral convocadas para esta sexta-feira, incluindo o acesso à fronteira com França.

Os movimentos de protesto começaram na segunda-feira, depois ser conhecida a sentença contra os principais políticos catalães responsáveis pela tentativa de independência em outubro de 2017.

Notícias ao Minuto com Lusa | Foto: Reuters

Os 15 campos de prisioneiros do Daesh no «Rojava»


A 6 de Outubro de 2019, mercenários curdos do «Rojava» guardavam —por conta dos Estados Unidos— 7 campos de detenção de combatentes do Daesh (E.I.) feitos prisioneiros, além de outros 8 campos para as suas mulheres e filhos.

Segundo as YPG, aí haveria 14. 800 combatentes prisioneiros e várias centenas de milhar de civis.

Podemos revelar que os Serviços Secretos sírios tinham pedido aos Estados estrangeiros para recuperarem os seus jiadistas feitos prisioneiros pelo Exército árabe sírio. Vários aceitaram que lhes fossem entregues, outros — que não têm pena de morte em casa — pediram à Síria para os enforcar. Entretanto, a França pediu que os seus cidadãos fossem entregues aos Curdos, o que foi feito.

Três dias antes da invasão turca, a Casa Branca pediu aos Estados membros da Coligação (Coalizão-br) que recuperassem os seus cidadãos prisioneiros, estando claro que Rojava não passa de uma ficção e que as tropas dos EUA se retiravam para o Iraque. A França, a Alemanha e outras nações europeias recusaram [1].

A 13 de Outubro, as YPG anunciaram que, aproveitando-se da confusão causada pela invasão turca, 785 membros de famílias de combatentes do Daesh(EI) haviam fugido do campo de Ain Issa.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

Nota:

Leia em Rede Voltaire
TUDO O QUE VOS ESCONDEM SOBRE A OPERAÇÃO TURCA «FONTE DE PAZ» (1/3)
A genealogia da questão curda
Thierry Meyssan

A NATO por trás do ataque turco à Síria


Manlio Dinucci*

Vários membros da NATO choram copiosamente sobre o destino dos curdos, mascarando, assim, que validaram com antecedência, a operação “Fonte de paz”. Três dias depois do início dos combates, o Secretário Geral da Aliança, Jens Stoltenberg, veio pessoalmente a Ancara trazer o apoio de todos os aliados à Turquia.

Alemanha, a França, a Itália e outros países que, em trajes de membros da União Europeia, condenam a Turquia pelo ataque à Síria, são, juntamente com a Turquia, membros da NATO, a qual, quando já estava em curso o ataque, reiterou o seu apoio a Ancara. Fê-lo oficialmente, o Secretário Geral da NATO, Jean Stoltenberg, encontrando-se em 11 de Outubro na Turquia, com o Presidente Erdoğan e com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu [1].

“A Turquia está na primeira linha, nesta região muito volátil, nenhum outro Aliado sofreu mais ataques terroristas do que a Turquia, ninguém está mais exposto à violência e à turbulência proveniente do Médio Oriente”, disse Stoltenberg, reconhecendo que a Turquia tem preocupações “legítimas” com a sua própria segurança”. Depois de, diplomaticamente, tê-lo aconselhado a “agir com moderação”, Stoltenberg salientou que a Turquia é “um Aliado valoroso da NATO, importante para a nossa defesa colectiva”, e que a NATO está "fortemente empenhada em defender a sua segurança”. Para esse fim - especificou - a NATO aumentou a sua presença aérea e naval na Turquia e investiu mais de 5 biliões de dólares em bases e infraestruturas militares. Além do mais, colocou um comando importante (não mencionado por Stoltenberg): o LandCom, responsável pela coordenação de todas as forças terrestres da Aliança.

A disputa intra-burguesa nos EUA


– Para o movimento popular, o impeachment oferece um caminho para lugar nenhum

Richard Becker

O aprofundamento do conflito sobre o impeachment do presidente Donald Trump é uma luta entre facções da classe dominante capitalista e seu aparato governamental. A luta é fundamentalmente sobre qual lado exercerá controle sobre o Estado e o governo com todo o poder e riqueza que confere.

O anúncio de um inquérito de impeachment foi feito pela presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, em 24 de setembro. Foi aberto logo após a revelação de que uma denúncia havia sido registrada em relação à ligação telefônica de 25 de julho entre Trump e o presidente da Ucrânia. O denunciante foi posteriormente identificado como um agente da CIA, mas a denúncia é entendida como um produto coletivo de vários agentes de inteligência.

Não existe um lado "progressista" nessa briga. Como foi o caso de Nixon em 1974, a própria estrutura do impeachment concentra toda a atenção no que está acontecendo dentro dos chamados "salões sagrados" do Congresso, relegando os movimentos populares para o lado de fora.

O regime de Trump é flagrantemente racista, sexista, homofóbico, anti-imigrante, antiambiental, antitrabalhista, anti-sem-teto e muito mais. Todos os dias, os asseclas de Trump estão realizando ataques aos direitos populares duramente conquistados e ao próprio planeta.

No entanto, em vez de resistir a esses ataques, a liderança do Partido Democrata no Congresso está concentrando toda a sua energia no impeachment de Trump, com o argumento de que ele solicitou interferência estrangeira nas eleições presidenciais de 2020. Os líderes democratas veem isso como uma espécie de linha de menor resistência e que não exige contestar os interesses corporativos que são representados pelos principais partidos capitalistas e os financiam.

Por um imposto global sobre as transnacionais



Nobel de Economia sustenta: tributo evitará que elas continuem ocultando lucros, por meio de operações fraudulentas nos paraísos fiscais. De quebra, reduzirá desigualdades e neutralizará discurso da direita sobre “globalismo”

Joseph Stiglitz | Outras Palavras | Tradução: Simone Paz | Imagem: Curt Merlo

A globalização ganhou má fama nos últimos anos, quase sempre pelas razões corretas. Contudo, alguns dos seus críticos – como Donald Trump – opõem-se pelos motivos errados. Evocam um cenário falso. Atribuem os problemas atuais dos norte-americanos ao fato de terem se perdido em maus negócios, induzidos por europeus, chineses e países em desenvolvimento. É uma acusação absurda: foram os EUA — ou melhor, as corporações estadunidenses — os primeiros a escrever as regras da globalização.

Isto posto, há um aspecto especialmente tóxico da globalização que ainda não ganhou a atenção que merece: evasão fiscal corporativa. As multinacionais podem facilmente mudar seus escritórios e fábricas para qualquer jurisdição que cobre impostos mais baixos. E, em alguns casos, elas nem precisam se mudar, porque podem simplesmente alterar a forma como “registam” sua receita nos documentos.

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