Liberais até a página 2: ao
contrário do que alegam corporações tecnológicas, cada “inovação” presente em
seus produtos foi desenvolvida a partir de pesquisa estatal – muitas vezes
associada à tecnologia de guerra. Vale conferir caso da Apple
Marianna Braghini Deus Deu |
Outras Palavras
Quando tomamos nossos celulares e
tablets em mãos, estamos utilizando tecnologias desenvolvidas com décadas de
financiamento e apoio estatal. Muitas das aplicações que dão a característica
de “inteligente” aos smartphones são inovações que surgiram e foram
desenvolvidas via demanda por inovações tecnológicas que garantissem algum tipo
de superioridade bélica. Em seu livro O Estado Empreendedor, a economista
italiana Mariana Mazzucato dedica uma seção para tratar do sistema nacional de
inovação dos EUA e o caso do iPhone, que obteve seu sucesso, fundamentalmente,
ao englobar e integrar diversas destas tecnologias, especialmente aquelas que
surgiram no seio do setor de Defesa estadunidense e foram sendo desenvolvidas
para uso comercial e civil, para além do militar.
A autora demonstra como nos EUA,
agências e outras iniciativas foram criadas pelo Estado como fomento (e a
própria configuração) de seu sistema nacional de inovação. O exemplo escolhido
pela autora é emblemático. Pode-se dizer que os EUA são os maiores
propagandistas do livre mercado, advogando pela desregulamentação, privatização
e por abertura comercial mundo afora – frequentemente garantindo este seu
ambiente econômico favorito via força bélica. A leitura do livro de Mazzucato
desmente a crença segundo o qual o desenvolvimento tecnológico deu-se sem a
participação interventora do Estado e mostra como é falsa a mística que rodeia
os ideais do livre mercado. Segundo esta, o setor privado seria supostamente o
grande agente inovador; e o Estado, portador de uma estrutura arcaica, que entravaria
este processo “aventureiro”.