Manlio Dinucci*
Vários membros da NATO choram
copiosamente sobre o destino dos curdos, mascarando, assim, que validaram com
antecedência, a operação “Fonte de paz”. Três dias depois do início dos
combates, o Secretário Geral da Aliança, Jens Stoltenberg, veio pessoalmente a
Ancara trazer o apoio de todos os aliados à Turquia.
Alemanha, a França, a Itália e
outros países que, em trajes de membros da União Europeia, condenam a Turquia
pelo ataque à Síria, são, juntamente com a Turquia, membros da NATO, a qual,
quando já estava em curso o ataque, reiterou o seu apoio a Ancara. Fê-lo
oficialmente, o Secretário Geral da NATO, Jean Stoltenberg, encontrando-se em
11 de Outubro na Turquia, com o Presidente Erdoğan e com o Ministro dos
Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu [1].
“A Turquia está na primeira
linha, nesta região muito volátil, nenhum outro Aliado sofreu mais ataques
terroristas do que a Turquia, ninguém está mais exposto à violência e à
turbulência proveniente do Médio Oriente”, disse Stoltenberg, reconhecendo que
a Turquia tem preocupações “legítimas” com a sua própria segurança”. Depois de,
diplomaticamente, tê-lo aconselhado a “agir com moderação”, Stoltenberg salientou
que a Turquia é “um Aliado valoroso da NATO, importante para a nossa defesa
colectiva”, e que a NATO está "fortemente empenhada em defender a sua
segurança”. Para esse fim - especificou - a NATO aumentou a sua presença aérea
e naval na Turquia e investiu mais de 5 biliões de dólares em bases e
infraestruturas militares. Além do mais, colocou um comando importante (não
mencionado por Stoltenberg): o LandCom, responsável pela coordenação de todas
as forças terrestres da Aliança.
Stoltenberg evidênciou a importância
dos “sistemas de defesa antimísseis” inseridos pela NATO para “proteger a
fronteira sul da Turquia”, fornecidos em rotação pelos Aliados. A este
respeito, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu agradeceu, em
particular, à Itália. Desde Junho de 2016, a Itália instalou na província turca do
sudeste, em Kahramanmaraş, o “sistema de defesa aérea” Samp-T, produzido em
conjunto com a França. Uma unidade Samp-T compreende um veículo de comando e
controlo e seis veículos lançadores, cada um armado com oito mísseis. Situados
perto da Síria, eles podem abater qualquer avião no espaço aéreo sírio.
Portanto, a sua função, é tudo menos defensiva. Em Julho passado, a Câmara e o
Senado, com base na decisão das comissões estrangeiras conjuntas, deliberaram
prolongar, até 31 de Dezembro, a presença da unidade de mísseis italiana na
Turquia. Stoltenberg também informou que estão em curso negociações entre a
Itália e a França, produtores conjuntos do sistema de mísseis Samp-T e a
Turquia, que deseja comprá-lo. Neste ponto, com base no decreto anunciado pelo
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Di Maio, para bloquear a exportação de
armas para a Turquia, a Itália deveria retirar imediatamente o sistema de
mísseis Samp-T do território turco e comprometer-se a não vendê-lo à Turquia.
Continua, assim, o trágico teatro
da política, enquanto na Síria o sangue continua a jorrar. Os que hoje ficam
horrorizados com os novos massacres e pedem para bloquear a exportação de armas
para a Turquia, são os mesmos que voltaram a cabeça quando o próprio New
York Times publicou uma investigação detalhada sobre a rede da CIA [2],
através da qual chegavam à Turquia, também da Croácia, rios de armas para a
guerra camuflada na Síria [3].
Depois de ter demolido a Federação Jugoslava e a Líbia, a NATO tentou a mesma
operação na Síria. A força do choque era constituída por um exército agressivo
de grupos islâmicos (até há pouco rotulados por Washington como terroristas)
provenientes do Afeganistão, da Bósnia, da Chechénia, da Líbia e de outros
países. Eles afluíam às províncias turcas de Adana e Hatai, na fronteira com a
Síria, onde a CIA tinha aberto centros de formação militar. O comando das
operações estava a bordo de navios da NATO, no porto de Alessandretta. Tudo
isto é suprimido e a Turquia é apresentada pelo Secretário Geral da NATO como o
Aliado “mais exposto à violência e à turbulência do Médio Oriente”.
Manlio Dinucci*
| Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
*Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra
nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla
catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra.
Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
Notas:
[1]
“Jean Stoltenberg on
Turkey”, by Jens Stoltenberg, Voltaire Network, 11 October 2019.
[2]
« Arms
Airlift to Syria Rebels Expands, With Aid From C.I.A. », par C. J.
Chivers and Eric Schmitt, The New York Times, March 14, 2013.
[3]
«Descubren puente
aéreo de la CIA para armar a los «rebeldes sirios»», por Manlio
Dinucci, Il Manifesto (Italia) , Red Voltaire , 30 de marzo
de 2013.
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