Michael Hudson
Os meios de comunicação de
referência estão a evitar cuidadosamente o método oculto por trás da aparente
loucura americana em assassinar o general da Guarda Revolucionária Islâmica
Qassim Suleimani para iniciar o Ano Novo. A lógica por trás do assassinato foi
uma aplicação da consagrada política global dos EUA, não apenas uma
"loucura" da personalidade de Donald Trump por acção impulsiva. Seu
assassinato do líder militar iraniano Suleimani foi na verdade um acto de
guerra unilateral que viola o direito internacional, mas foi um passo lógico
numa estratégia americana consagrada. Foi explicitamente autorizado pelo Senado
na lei de financiamento do Pentágono que aprovou no ano passado.
O assassinato destinava-se a escalar a presença dos EUA no Iraque a fim de manter o controle das reservas de petróleo da região e apoiar as tropas Wahabi da Arábia Saudita (Isis, Al Quaeda no Iraque, Al Nusra e outras divisões que na verdade são a legião estrangeira da América) para apoiar o controle dos EUA do petróleo do Oriente Próximo como um baluarte do US dólar. Isto permanece como a chave para o entendimento desta política e a razão porque ela está em processo de escalada, não de abrandamento.
Participei de discussões sobre esta política quando foi formulada há quase cinquenta anos atrás, quando trabalhava no Hudson Instituto e comparecia a reuniões na Casa Branca, encontrava-me com generais em vários think tanks das forças armadas e com diplomatas nas Nações Unidas. Meu papel era como economista especializado em balança de pagamentos, especializado durante uma década na Chase Manhattan, na Arthur Andersen e em grupos de estudo da indústria de petróleo e de gastos militares. Estas foram duas das três principais dinâmicas da política externa e da diplomacia americanas. (A terceira preocupação era como travar uma guerra numa democracia em que os eleitores rejeitavam a conscrição após a Guerra do Vietname.)
Os media e a discussão pública têm desviado a atenção desta estratégia ao propalar especulações de que o presidente Trump fez isso, não para combater a (não)ameaça de impeachment como um volteio, ou para apoiar impulsos israelenses por espaço vital (lebensraum) ou simplesmente para render a Casa Branca à síndrome do ódio neocon pelo Irãoo. O contexto real da acção dos neocon foi a balança de pagamentos e o papel do petróleo e da energia como uma alavanca de longo prazo da diplomacia americana.
O assassinato destinava-se a escalar a presença dos EUA no Iraque a fim de manter o controle das reservas de petróleo da região e apoiar as tropas Wahabi da Arábia Saudita (Isis, Al Quaeda no Iraque, Al Nusra e outras divisões que na verdade são a legião estrangeira da América) para apoiar o controle dos EUA do petróleo do Oriente Próximo como um baluarte do US dólar. Isto permanece como a chave para o entendimento desta política e a razão porque ela está em processo de escalada, não de abrandamento.
Participei de discussões sobre esta política quando foi formulada há quase cinquenta anos atrás, quando trabalhava no Hudson Instituto e comparecia a reuniões na Casa Branca, encontrava-me com generais em vários think tanks das forças armadas e com diplomatas nas Nações Unidas. Meu papel era como economista especializado em balança de pagamentos, especializado durante uma década na Chase Manhattan, na Arthur Andersen e em grupos de estudo da indústria de petróleo e de gastos militares. Estas foram duas das três principais dinâmicas da política externa e da diplomacia americanas. (A terceira preocupação era como travar uma guerra numa democracia em que os eleitores rejeitavam a conscrição após a Guerra do Vietname.)
Os media e a discussão pública têm desviado a atenção desta estratégia ao propalar especulações de que o presidente Trump fez isso, não para combater a (não)ameaça de impeachment como um volteio, ou para apoiar impulsos israelenses por espaço vital (lebensraum) ou simplesmente para render a Casa Branca à síndrome do ódio neocon pelo Irãoo. O contexto real da acção dos neocon foi a balança de pagamentos e o papel do petróleo e da energia como uma alavanca de longo prazo da diplomacia americana.
A dimensão da balança de pagamentos
O principal défice da balança de pagamentos dos EUA tem sido os gastos militares no exterior. Todo o défice de pagamentos, começando com a Guerra da Coreia em 1950-51 e estendendo-se pela Guerra do Vietname da década de 1960, foi o responsável por forçar a retirada do dólar do ouro em 1971. O problema enfrentado pelos estrategas militares dos Estados Unidos era como continuar a suportar as 800 bases militares dos EUA em todo o mundo e suportar tropas aliadas sem perder a alavancagem financeira dos EUA.
A solução acabou por ser substituir o ouro por títulos do Tesouro dos EUA (IOUs) como a base das reservas dos bancos centrais estrangeiros. Depois de 1971, os bancos centrais estrangeiros tinham pouca opção sobre o que fazer com a sua entrada contínua de dólares, excepto reciclá-los para a economia dos EUA através da compra de títulos do US Treasury. O efeito dos gastos militares estrangeiros dos EUA, portanto, não corroeu a taxa de câmbio do dólar e nem mesmo forçou o Tesouro e o Federal Reserve a aumentar taxas de juros para atrair divisas que compensassem as saídas de dólares na conta militar. De facto, os gastos militares estrangeiros dos EUA ajudaram a financiar o défice do orçamento federal dos EUA.
A Arábia Saudita e outros países OPEP do Médio Oriente rapidamente tornaram-se um pilar do dólar. Depois que destes países quadruplicarem o preço do petróleo (em retaliação pelos Estados Unidos quadruplicarem o preço das suas exportações de cereais, um dos pilares da balança comercial dos EUA), os bancos americanos foram inundados com um influxo de muitos depósitos estrangeiros – os quais foram emprestados ao países do Terceiro Mundo numa explosão de empréstimos podres que explodiu em 1972 com a insolvência do México e destruiu o crédito dos governos do Terceiro Mundo durante uma década, forçando-o a depender dos Estados Unidos via FMI e Banco Mundial).
Para coroar tudo, é claro, o que a Arábia Saudita não salva em activos dolarizados com os seus ganhos na exportação de petróleo é gasto na compra de centenas de milhares de milhões de dólares de armas exportadas pelos EUA. Isto tranca-a na dependência do fornecimento de peças de reposição e reparações dos EUA e permite que os Estados Unidos desliguem o equipamento militar saudita a qualquer momento, caso os sauditas tentem actuar de modo independente da política externa dos EUA.
Portanto, manter o dólar como moeda de reserva mundial tornou-se um dos suportes principais dos gastos militares dos EUA. Os países estrangeiros não têm de pagar directamente ao Pentágono por estes gastos. Eles simplesmente financiam o Tesouro e o sistema bancário dos EUA.
O medo deste desenvolvimento foi uma das principais razões pelas quais os Estados Unidos actuaram contra a Líbia, cujas reservas estrangeiras eram mantidas em ouro, não em dólares, o que instava outros países africanos a seguirem o exemplo a fim de se libertarem da "Diplomacia do Dólar". Hillary e Obama invadiram-na, agarraram seus stocks de ouro (ainda não temos ideia de quem acabou com esse ouro no valor de milhares de milhões de dólares) e destruiu o governo da Líbia, seu sistema público de educação, sua infraestrutura pública e as demais políticas não-neoliberais.
A grande ameaça a isto é a desdolarização, pois a China, a Rússia e outros países procuram evitar a reciclagem de dólares. Sem a função do dólar como o veículo para a poupança mundial – com efeito, sem o papel do Pentágono em criar a dívida do Tesouro que é o veículo para as reservas dos bancos centrais do muno – os EUA se veriam constrangidos militarmente e portanto diplomaticamente, como acontecia sob o padrão divisas-ouro.
Esta é a mesma estratégia que os EUA têm seguido na Síria e no Iraque. O Irãoo estava a ameaçar esta estratégia de dolarização e o seu esteio na diplomacia estado-unidense do petróleo.
A indústria do petróleo como esteio da balança de pagamentos dos EUA e da
diplomacia estrangeira
A balança comercial é respaldada pelo petróleo e excedentes agrícolas. O petróleo é a chave, porque é importado por empresas americanas quase sem nenhum custo para a balança de pagamentos (os pagamentos acabam nas administrações da indústria do petróleo como lucros e pagamentos à gestão), ao passo que os lucros nas vendas das empresas petrolíferas dos EUA a outros países são remetidos para os Estados Unidos (via centros de evasão fiscal offshore, durante muitos anos sobre a Libéria e o Panamá). E, como observado acima, os países da OPEP foram instruídos a manter suas reservas oficiais na forma de títulos dos EUA (acções e títulos, bem como títulos de dívida do Tesouro, mas não a compra directa de empresas dos EUA consideradas economicamente importantes). Financeiramente, os países da OPEP são estados clientes da Área do Dólar.
A tentativa americana de manter esse esteio explica a oposição dos EUA a quaisquer medidas de governos estrangeiros para reverter o aquecimento global [NR] e o estado atmosférico (weather) extremo causado pela dependência mundial do petróleo patrocinada pelos EUA. Quaisquer acções da Europa e de outros países que reduzisse a dependência das vendas de petróleo dos EUA e, portanto, a capacidade de os EUA controlarem a torneira global do petróleo como um meio de controle e coação, são encaradas como actos hostis.
O petróleo também explica a oposição dos EUA às exportações de combustíveis da Rússia via Nordstream. Os estrategas dos EUA querem tratar a energia como um monopólio nacional dos EUA. Outros países podem se beneficiar da maneira que a Arábia Saudita tem feito – enviando seus excedentes para a economia dos EUA – mas não para suportar o seu próprio crescimento económico e diplomacia. O controle do petróleo implica portanto apoio ao continuado aquecimento global [NR] como parte inerente da estratégia dos EUA.
Como uma nação "democrática" pode travar guerra e terrorismo
internacionais
A Guerra do Vietname mostrou que as democracias modernas não podem montar exércitos para qualquer grande conflito militar, porque isto exigiria uma conscrição dos seus cidadãos. Isto levaria qualquer governo que tentasse tal projecto a ser votado para fora do poder. E sem tropas não é possível invadir um país para conquistá-lo.
O corolário desta percepção é que as democracias têm apenas duas opções quando se trata de estratégia militar: Elas só podem empregar poder aéreo, bombardeando oponentes; ou elas podem criar uma legião estrangeira, ou seja, contratar mercenários ou apoiar governos estrangeiros que providenciem este serviço militar.
Aqui, mais uma vez, a Arábia Saudita desempenha um papel crítico, através do seu controle dos Wahabi Sunita transformados em terroristas jihadistas dispostos a sabotar, bombardear, assassinar, explodir e combater qualquer alvo designado como um inimigo do "Islão", o eufemismo para a actuação da Arábia Saudita como estado do cliente dos EUA. (A religião realmente não é a chave; não sei de nenhum ISIS ou ataque Wahabi semelhante a alvos israelenses.) Os Estados Unidos precisam que os sauditas forneçam ou financiem wahabistas loucos. Assim, além de desempenharem um papel chave na balança de pagamentos dos EUA pela reciclagem dos seus ganhos com a exportação de petróleo em acções, títulos e outros investimentos nos EUA, a Arábia Saudita fornece mão-de-obra apoiando os membros Wahabi da legião estrangeira americana, o ISIS e Al-Nusra/Al Qaeda. O terrorismo tornou-se o modo "democrático" de hoje da política militar dos EUA.
O que torna a guerra do petróleo da América no Médio Oriente "democrática" é que esta é a única espécie de guerra que uma democracia pode travar – uma guerra aérea, seguida por um exército terrorista odioso que compensa o facto de nenhuma democracia poder colocar em campo o seu próprio exército no mundo de hoje. O corolário é que o terrorismo se tornou o modo "democrático" de fazer a guerra.
Do ponto de vista dos EUA, o que é uma "democracia"? No vocabulário orwelliano de hoje, significa qualquer país que apoie a política externa dos EUA. Bolívia e Honduras tornaram-se "democracias" desde seus golpes, juntamente com o Brasil. O Chile, sob Pinochet era uma democracia de livre mercado no estilo Chicago. O mesmo acontecia com o Irãoo sob o xá e a Rússia sob Yeltsin – mas não desde que elegeu o presidente Vladimir Putin, tal como a China sob o presidente Xi.
O antónimo de "democracia" é "terrorista". Isso significa simplesmente uma nação disposta a combater para se tornar independente da democracia neoliberal dos EUA. Isto não inclui os exércitos por procuração dos EUA.
O papel do Irão como inimigo norte-americano
O que obstaculiza a dolarização, o petróleo e a estratégia militar dos EUA? Obviamente, a Rússia e a China têm sido visadas como inimigos estratégicos de longo prazo por buscarem suas próprias políticas económicas e diplomacia independentes. Mas a seguir a elas, o Irão está na mira dos Estados Unidos há quase setenta anos.
O ódio americano ao Irãoo começa com sua tentativa de controlar sua própria produção, exportações e ganhos de petróleo. Isso remonta a 1953, quando Mossadegh foi derrubado porque pretendia soberania interna sobre o petróleo da Anglo-Persian. O golpe da CIA-MI6 substituiu-o pelo flexível Xá, que impôs um estado policial para impedir a independência iraniana da política dos EUA. Os únicos lugares físicos livres da polícia eram as mesquitas. Isso fez da República Islâmica o caminho de menor resistência para o derrube do xá e a reafirmação da soberania iraniana.
Os Estados Unidos chegaram a termos com a independência petrolífera da OPEP em 1974, mas o antagonismo em relação ao Irão estende-se a considerações demográficas e religiosas. O apoio iraniano à sua população xiita e ao Iraque e outros países – enfatizando o apoio aos pobres e a políticas quase-socialistas em vez do neoliberalismo – tornou-o o principal rival religioso do sectarismo sunita da Arábia Saudita e do seu papel como legião estrangeira americana dos Wahabi.
Os EUA opuseram-se ao general Suleimani, acima de tudo, porque ele estava combatendo contra o ISIS e outros terroristas apoiados pelos EUA na tentativa de romper a Síria e substituir o regime de Assad por um conjunto de líderes locais acomodatícios com os EUA – o velho estratagema britânico "dividir e conquistar". Na ocasião, Suleimani havia cooperado com tropas americanas no combate contra grupos do ISIS que ficaram "fora de linha", o que significa a linha do partido dos EUA. Mas todas as indicações são de que ele estava no Iraque para trabalhar com o governo que procurava recuperar o controle dos campos de petróleo que o presidente Trump jactou-se em alta voz de capturar.
Já no início de 2018, o presidente Trump pediu ao Iraque que reembolsasse os EUA pelo custo de "salvar sua democracia" pelo bombardeamento do remanescente da economia de Saddam. O reembolso era para assumir a forma de Petróleo Iraquiano. Mais recentemente, em 2019, o presidente Trump perguntou: por que não simplesmente agarrar o petróleo iraquiano. O gigantesco campo petrolífero tornou-se o prémio da guerra do petróleo de Bush-Cheney após o 11 de Setembro. "'Foi em geral uma reunião muito comum e discreta", disse a Axios uma fonte que estava na sala. E então, no final, Trump diz algo provocante, com um sorriso afectado no rosto e diz: 'Então, o que vamos fazer acerca do petróleo?' " [1]
A ideia de Trump de que os EUA deveriam "obter algo" dos seus gastos militares na destruição das economias iraquiana e síria reflecte simplesmente a política dos EUA.
No final de Outubro de 2019, o New York Times informou que: "Nos últimos dias, Trump estabeleceu as reservas de petróleo da Síria como uma nova lógica para parecer inverter o curso e enviar centenas de tropas adicionais para o país devastado pela guerra. Ele declarou que os Estados Unidos "asseguraram" campos de petróleo no nordeste caótico do país e sugeriu que a captura (seizure) do principal recurso natural do país justifica que os EUA ampliem ainda mais sua presença militar ali. 'Tomamos e garantimo-lo', disse Trump sobre o petróleo da Síria durante declarações na Casa Branca no domingo, depois de anunciar a morte do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi. " [2] Um funcionário da CIA lembrou ao jornalista que tomar o petróleo do Iraque era uma promessa da campanha de Trump.
Isso explica a invasão do Iraque por petróleo em 2003, e novamente este ano, como o presidente Trump disse: "Por que simplesmente não tomamos o petróleo deles?" Também explica o ataque Obama-Hillary à Líbia – não apenas pelo seu petróleo, mas por investir suas reservas estrangeiras em ouro ao invés de reciclar suas receitas excedentes de petróleo em títulos do Tesouro dos EUA – e, é claro, por promover um estado socialista laico.
Explica porque os neoconservadores dos EUA temiam o plano de Suleimani de ajudar o Iraque a reafirmar o controle do seu petróleo e a resistir aos ataques terroristas ao Iraque apoiados pelos EUA e pela Arábia Saudita. Foi isso que tornou o seu assassínio um impulso imediato.
Os políticos americanos desacreditaram-se ao começarem a sua condenação de Trump dizendo, como fez Elizabeth Warren, quão "má" pessoa era Suleimani, como ele havia matado tropas americanas ao planear a defesa iraquiana de bombardementos rodoviários e outras políticas que tentavam repelir a invasão dos EUA para agarrar o seu petróleo. Ela estava simplesmente a papaguear a descrição de Suleimani como um monstro feita pelos media americanos, desviando a atenção da questão política que explica porque ele foi assassinado agora.
A contra-estratégia dos EUA para a diplomacia do petróleo, do dólar e do
aquecimento global
Esta estratégia continuará até que países estrangeiros a rejeitem. Se a Europa e outras regiões não o fizerem, sofrerão as consequências desta estratégia dos EUA na forma de uma guerra crescente patrocinada pelos EUA por meio do terrorismo, do fluxo de refugiados e da aceleração do aquecimento global [NR] e de condições climáticas extremas.
A Rússia, a China e seus aliados já lideram o caminho da desdolarização como meio de conter a política militar global dos EUA como meio de apoio à sua balança de pagamentos. Mas todo mundo agora está a especular sobre qual deveria ser a resposta do Irão.
A pretensão – ou mais precisamente, o diversionismo – dos media norte-americanos no fim-de-semana foi descrever os Estados Unidos como estando sob ataque iminente. O presidente da municipalidade de Blasio posicionou policias em cruzamentos importantes para nos informar o quão iminente é o terrorismo iraniano – como se fosse o Irão, não a Arábia Saudita que montou o 11 de Setembro, e como se o Irão tivesse de facto efectuado alguma acção contundente contra os Estados Unidos. Os media e os tertulianos da televisão saturaram o público com advertências de terrorismo islâmico. Os âncoras da televisão estão simplesmente a sugerir onde será mais provável que ocorram os ataques.
A mensagem é que o assassinato do general Soleimani foi para nos proteger. Como Donald Trump e vários porta-vozes militares disseram, ele havia matado americanos – e agora eles devem estar a planear um ataque enorme que ferirá e matará muitos mais americanos inocentes. Esta posição tornou-se a postura da América no mundo: fraca e ameaçada, exigindo uma forte defesa – na forma de um forte ataque.
Mas qual é o interesse real do Irão? Se é realmente minar a estratégia do dólar e do petróleo, a primeira política deve ser a retirada das forças militares dos EUA do Oriente Próximo, incluindo a ocupação americana dos seus campos de petróleo. Acontece que o acto precipitado do presidente Trump agiu como um catalisador, provocando exactamente o oposto do que ele queria. Em 5 de Janeiro, o parlamento iraquiano reuniu-se para insistir em que os Estados Unidos saíssem. O general Suleimani era um convidado, não um invasor iraniano. São as tropas americanas que estão no Iraque em violação do direito internacional. Se eles partirem, Trump e os neocons perdem o controle do petróleo – e também da sua capacidade de interferir na defesa mútua iraniano-iraquiana-síria-libanesa.
Para além do Iraque, surge a Arábia Saudita. Tornou-se o Grande Satanás, o defensor do extremismo wahabista, a legião terrorista dos exércitos mercenários dos EUA que lutam para manter o controle das reservas de petróleo e de divisa estrangeira do Oriente Próximo, a causa do grande êxodo de refugiados para a Turquia, Europa e para onde mais puderem fugir das armas e do dinheiro fornecidos pelos apoiantes americanos do Isis, da Al Qaeda no Iraque e das suas legiões aliadas sauditas wahabistas.
O ideal lógico, em princípio, seria destruir o poder saudita. Esse poder jaz nos seus campos de petróleo. Eles já foram atacados por modestas bombas iemenitas. Se os neocons americanos ameaçarem seriamente o Irão, a sua resposta seria o bombardeio e a destruição por atacado dos campos de petróleo sauditas, juntamente com os do Kuwait e xeques aliados do Oriente Próximo. Isto acabaria com o apoio saudita aos terroristas wahabistas, bem como ao dólar americano.
Uma tal actuação seria, sem dúvida, coordenada com um apelo aos palestinos e outros trabalhadores estrangeiros na Arábia Saudita se levantassem e expulsassem a monarquia e seus milhares de vassalos familiares.
Além da Arábia Saudita, o Irão e outros defensores de uma ruptura diplomática multilateral com o unilateralismo neoliberal e neocon dos EUA deveriam pressionar a Europa a retirar-se da NATO, na medida em que esta organização funciona principalmente como uma ferramenta militar centrada nos EUA na sua diplomacia do dólar e do petróleo e, portanto, opondo-se às políticas de mudança climática [NR] e de confrontação militar que ameaçam tornar a Europa parte do turbilhão dos EUA.
Finalmente, o que podem fazer os opositores à guerra dos EUA para resistir à tentativa neocon de destruir qualquer parte do mundo que resista à autocracia neoliberal dos EUA? Esta foi a resposta mais decepcionante ao longo do fim-de-semana. Eles estão debater. Não foi útil para Warren, Buttigieg e outros acusarem Trump de agir precipitadamente, sem pensar nas consequências das suas acções. Aquela abordagem evita o reconhecimento de que a sua acção na verdade tinha uma lógica – trace uma linha na areia, para dizer que sim, a América IRÁ à guerra, combaterá o Irão, fará qualquer coisa para defender seu controle do petróleo do Oriente Próximo e ditará à OPEP a política dos bancos centrais, defenderá suas legiões do ISIS como se qualquer oposição a esta política fosse um ataque aos próprios Estados Unidos.
Posso entender a resposta emocional ou ainda novos pedidos de impeachment de Donald Trump. Mas isso é uma óbvia não-solução, em parte porque tem sido obviamente um movimento partidário do Partido Democrata. Mais importante é a falsa e egoísta acusação de que o presidente Trump ultrapassou seu limite constitucional ao cometer um acto de guerra contra o Irão ao assassinar Soleimani.
O Congresso endossou o assassínio cometido por Trump e é totalmente culpado por ter aprovado o orçamento do Pentágono com a remoção pelo Senado da emenda à Lei de Autorização de Defesa Nacional de 2019 que Bernie Sanders, Tom Udall e Ro Khanna haviam inserido na versão da Câmara dos Deputados, explicitamente não autorizando o Pentágono a travar guerra contra o Irão ou assassinar seus responsáveis. Quando este orçamento foi enviado ao Senado, a Casa Branca e o Pentágono (também conhecido como complexo militar-industrial e neoconservadores) removeram aquela restrição. Era uma bandeira vermelha anunciando que o Pentágono e a Casa Branca realmente pretendiam fazer guerra contra o Irão e/ou assassinar seus responsáveis. Faltou ao Congresso coragem para discutir este ponto no primeiro plano das discussões públicas.
Por trás de tudo isso está o acto do 11 de Setembro de inspiração saudita, que retira o único poder do Congresso de travar guerra – sua Autorização para o Uso da Força Militar, de 2002 (2002 Authorization for Use of Military Force), tirada da gaveta ostensivamente contra a Al Qaeda, mas na verdade o primeiro passo no longo apoio dos Estados Unidos ao próprio grupo que foi responsável pelo 11 de Setembro, os sequestradores sauditas de aviões.
A questão é: como fazer com que os políticos do mundo – EUA, Europa e Ásia – vejam como a política americana de tudo ou nada está a ameaçar novas ondas de guerra, refugiados, interrupção do comércio de petróleo no Estreito de Ormuz e, finalmente, global aquecimento [NR] e dolarização neoliberal impostas a todos os países. É um sinal de quão pouco poder existe nas Nações Unidas que não haja nenhum país a clamar por um novo julgamento de crimes de guerra no estilo de Nuremberga, nenhuma ameaça de retirada da NATO ou mesmo de evitar manter reservas sob a forma de dinheiro emprestado ao Tesouro dos EUA para financiar o orçamento militar dos EUA.
05/Janeiro/2020
Notas:
[1] www.axios.com/... O artigo acrescenta: "Na
reunião de Março, o primeiro-ministro iraquiano respondeu: 'O que quer dizer
isso?' segundo a fonte na sala. E Trump diz: 'Bem, fizemos muito, fizemos muito
por lá, gastamos triliões por lá e muitas pessoas têm falado sobre o petróleo'
"?
[2] Michael Crowly, " 'Keep the Oil': Trump Revives Charged Slogan for new Syria Troop Mission' ", The New York Times, 26/Outubro/2019. https://www.nytimes.com/2019/10/26/us/politics /trump-syria-oil-fields.html . O artigo acrescenta: "Eu disse para ficarem com o petróleo", tornou a dizer Trump. "Se vão para o Iraque, que fiquem com o petróleo. Eles nunca o fizeram. Nunca o fizeram"?
[NR] Hudson sabe muito de economia, finanças e balanças de pagamentos – mas não de climatologia. Aparentemente deixou-se influenciar pela mistificação aquecimentista , agora transformada numa espécie de nova "religião" global. Mas o mundo já tem problemas reais suficientes e não precisa inventar outros adicionais.
O original encontra-se em thesaker.is/america-escalates-its-democratic-oil-war-in-the-near-east/
Este artigo encontra-se em https://resistir.info/
[2] Michael Crowly, " 'Keep the Oil': Trump Revives Charged Slogan for new Syria Troop Mission' ", The New York Times, 26/Outubro/2019. https://www.nytimes.com/2019/10/26/us/politics /trump-syria-oil-fields.html . O artigo acrescenta: "Eu disse para ficarem com o petróleo", tornou a dizer Trump. "Se vão para o Iraque, que fiquem com o petróleo. Eles nunca o fizeram. Nunca o fizeram"?
[NR] Hudson sabe muito de economia, finanças e balanças de pagamentos – mas não de climatologia. Aparentemente deixou-se influenciar pela mistificação aquecimentista , agora transformada numa espécie de nova "religião" global. Mas o mundo já tem problemas reais suficientes e não precisa inventar outros adicionais.
O original encontra-se em thesaker.is/america-escalates-its-democratic-oil-war-in-the-near-east/
Este artigo encontra-se em https://resistir.info/
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