Autor angolano acredita que
Isabel dos Santos esteja surpreendida com o processo desencadeado à sua volta
porque a própria vivia numa "bolha". O escritor angolano José Eduardo
Agualusa vê culpas em políticos, banqueiros e empresários - tanto angolanos
como portugueses - na forma como Isabel dos Santos conseguiu enriquecer.
Em entrevista ao Diário de Notícias , o autor fala de
uma "teia de cumplicidades" que liga todos os partidos portuguesas - "com
exceção do Bloco de Esquerda e de uma franja pequena do Partido
Socialista" - no apoio à mulher que se tornou na mais rica de Angola.
A título de exemplo, em 2009, o
Bloco de Esquerda recusou reunir-se com o então presidente angolano José Eduardo
dos Santos, que realizava uma visita de Estado a Portugal, por
"divergências" com o Governo angolano "no que diz respeito aos
direitos humanos, à liberdade de imprensa e à própria conceção de
democracia".
"Todos são cúmplices. Todos
eles. Temos banqueiros, temos empresários, temos políticos. Toda esta gente foi
cúmplice", afirma Agualusa.
Sobre a fortuna de Isabel dos
Santos , que José Eduardo Agualusa diz ter sido "construída através do
saque do cofre do Estado, do povo angolano", o escritor faz notar que tal
aconteceu "porque Isabel dos Santos e as pessoas que a rodeavam
acreditavam" que a empresária, o pai José Eduardo dos Santos e os que os
rodeavam "estariam ali para sempre".
Essa crença, acredita o autor,
levava-os a "roubar de forma incrível. As próprias declarações de José
Eduardo, e outras declarações que a Isabel já tinha feito, antes, surpreendem
pela ingenuidade. Quando Isabel dos Santos conta aquela história dos ovos, ou
quando José Eduardo dos Santos fala da acumulação primitiva do capital. Isto é
de uma ingenuidade incrível".
Em relação à situação em que
Isabel dos Santos agora se encontra, Agualusa nota que a empresária pode
estar "sinceramente surpreendida ao descobrir que há tanta gente que a
odeia, e que, afinal, talvez ela não fosse tão genial quanto aqueles que
estavam próximos dela lhe diziam".
"Acredito que ela estivesse
numa bolha e que ela própria esteja a surpreender-se com este processo. Ela
deve ser aquela que está mais surpreendida com o processo", sublinha.
O Consórcio Internacional de
Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no dia de 19 de janeiro mais de 715
mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros
de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar
dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
Isabel dos Santos, entretanto
constituída arguida pelo Ministério Público de Angola acusada de má gestão e
desvio de fundos da companhia petrolífera estatal Sonangol, disse estar a ser
vítima de um ataque político e sustentou que as alegações feitas contra si são
"completamente infundadas", prometendo recorrer à justiça.
Na sequência dos 'Luanda Leaks',
o nome da empresária foi riscado da lista de participantes do Fórum Económico
Mundial de Davos, de que a Unitel, empresa de que é acionista, era
patrocinadora.
Gonçalo Teles com Lusa | TSF |
Imagem: © Filipa Bernardo/Global Imagens
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