sábado, 25 de janeiro de 2020

Partidos, banqueiros e empresários. "Esta gente foi cúmplice" de Isabel dos Santos


Autor angolano acredita que Isabel dos Santos esteja surpreendida com o processo desencadeado à sua volta porque a própria vivia numa "bolha". O escritor angolano José Eduardo Agualusa vê culpas em políticos, banqueiros e empresários - tanto angolanos como portugueses - na forma como Isabel dos Santos conseguiu enriquecer.

Em entrevista ao Diário de Notícias , o autor fala de uma "teia de cumplicidades" que liga todos os partidos portuguesas - "com exceção do Bloco de Esquerda e de uma franja pequena do Partido Socialista" - no apoio à mulher que se tornou na mais rica de Angola.

A título de exemplo, em 2009, o Bloco de Esquerda recusou reunir-se com o então presidente angolano José Eduardo dos Santos, que realizava uma visita de Estado a Portugal, por "divergências" com o Governo angolano "no que diz respeito aos direitos humanos, à liberdade de imprensa e à própria conceção de democracia".

"Todos são cúmplices. Todos eles. Temos banqueiros, temos empresários, temos políticos. Toda esta gente foi cúmplice", afirma Agualusa.

Sobre a fortuna de Isabel dos Santos , que José Eduardo Agualusa diz ter sido "construída através do saque do cofre do Estado, do povo angolano", o escritor faz notar que tal aconteceu "porque Isabel dos Santos e as pessoas que a rodeavam acreditavam" que a empresária, o pai José Eduardo dos Santos e os que os rodeavam "estariam ali para sempre".


Essa crença, acredita o autor, levava-os a "roubar de forma incrível. As próprias declarações de José Eduardo, e outras declarações que a Isabel já tinha feito, antes, surpreendem pela ingenuidade. Quando Isabel dos Santos conta aquela história dos ovos, ou quando José Eduardo dos Santos fala da acumulação primitiva do capital. Isto é de uma ingenuidade incrível".

Em relação à situação em que Isabel dos Santos agora se encontra, Agualusa nota que a empresária pode estar "sinceramente surpreendida ao descobrir que há tanta gente que a odeia, e que, afinal, talvez ela não fosse tão genial quanto aqueles que estavam próximos dela lhe diziam".

"Acredito que ela estivesse numa bolha e que ela própria esteja a surpreender-se com este processo. Ela deve ser aquela que está mais surpreendida com o processo", sublinha.

O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no dia de 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

Isabel dos Santos, entretanto constituída arguida pelo Ministério Público de Angola acusada de má gestão e desvio de fundos da companhia petrolífera estatal Sonangol, disse estar a ser vítima de um ataque político e sustentou que as alegações feitas contra si são "completamente infundadas", prometendo recorrer à justiça.

Na sequência dos 'Luanda Leaks', o nome da empresária foi riscado da lista de participantes do Fórum Económico Mundial de Davos, de que a Unitel, empresa de que é acionista, era patrocinadora.

Gonçalo Teles com Lusa | TSF | Imagem: © Filipa Bernardo/Global Imagens

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