segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

"Silêncio sobre a morte de Luís é revelador do racismo em Portugal"


Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, diz ser “inacreditável” que “nenhum dirigente do país” tenha vindo a público falar do caso do jovem cabo-verdiano que morreu no dia 31 de dezembro após ter sido alegadamente espancado por um grupo de 15 pessoas, em Bragança. O Ministério dos Negócios Estrangeiros pronunciou-se, pela primeira vez, este domingo à noite.

“Mesmo que não seja uma razão racial que esteja na origem do assassinato, independentemente das circunstâncias da sua morte, o silêncio sobre a morte de Luís é revelador do racismo que existe em Portugal. Não tenho a menor dúvida”, sublinhou Mamadou Ba em declarações ao Notícias ao Minuto. 

Para o ativista, o facto de “nenhum dirigente do país” ter vindo a público falar sobre o crime é “inacreditável”.

“Imaginemos que tinha sido um jovem branco a ser espancado por 15 jovens negros e que essas agressões resultassem numa morte. Teríamos o país inteiro mobilizado, indignado, a exigir Justiça e o apuramento das responsabilidades. Todas as entidades públicas e políticas estariam neste momento já em campo a dizer o que pensavam sobre a situação e a exigir responsabilidades. Não foi o caso”, conjeturou.

Apontando que “o caso ficou 10 dias a marinar e só se soube porque se tornou viral nas redes sociais”, o ex-assessor bloquista reforçou que “se tivesse sido ao contrário” já teriam surgido vozes “da extrema-direita a exigir mão forte contra os criminosos e que se fizesse justiça”, tal como, “responsáveis de tutela a dizer que se tem de garantir a ordem pública”. “É absolutamente revoltante”, acrescentou.


Sem esquecer “as conquistas do último ano” no que diz respeito ao combate contra o racismo em Portugal, Mamadou Ba afirmou que a “indiferença total que se nota neste caso” demonstra falta de “clarividência institucional” e uma incapacidade da sociedade portuguesa em confrontar a “vivacidade do racismo” presente no país.

“As pessoas não querem ouvir falar de racismo, não querem admitir que há racismo no país e parece-me também que há uma espécie de cedência das forças políticas relativamente a esta questão. Somos um país que se quer enganar a si próprio, pensando que não falando da situação ela deixa de existir”, sustentou.

“Não podemos continuar a fechar os olhos, temos de confrontar esta questão é a única maneira de a resolvermos”, concluiu.

Ao Notícias ao Minuto, o ativista confirmou ainda que irá marcar presença numa das várias marchas de silêncio em homenagem ao estudante, que irão decorrer no dia 11 de janeiro, por volta das 15h, no Terreiro do Paço, em Lisboa, na Avenida dos Aliados, no Porto, na Praça da República, em Coimbra, e na Igreja da Sé, em Bragança. O SOS Racismo estará representado na capital. 

Durante a última semana, recorde-se, Joacine Katar Moreira, do partido Livre, as deputadas socialistas Edite Estrela e Isabel Moreira e o bloquista José Soeiro foram algumas das vozes que se insurgiram e vieram a público condenar o homicídio.

Contudo, durante a noite de ontem, após o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, ter pedido "celeridade" no "esclarecimento cabal" pelas autoridades portuguesas da "trágica" morte do estudante e o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, ter adiantado que também estava a acompanhar os contornos da "morte brutal" do estudante, o Governo português reagiu pela primeira vez

"Lamentamos profundamente a bárbara agressão de que resultou a morte, em Bragança, de um estudante cabo-verdiano. Os responsáveis serão identificados e levados à justiça", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal através da sua conta na rede social Twitter.

"Os cabo-verdianos são nossos irmãos e muito bem-vindos em Portugal", acrescentou a tutela. 

Por sua vez, o embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, pedira já, este sábado, a clarificação "cabal" das circunstâncias da morte do estudante cabo-verdiano, informando que o corpo do jovem deverá ser transladado para o seu país natal esta semana.    

Giovani, como era conhecido, estava a viver há apenas dois meses em Portugal para estudar Design de Jogos Digitais no Instituto Politécnico de Bragança. O jovem, de 21 anos, acabou por morrer no Hospital de Santo António, no Porto, no dia 31 de dezembro do ano passado, devido às agressões que sofreu, no dia 21 de dezembro, depois de ter estado 10 dias internado.

A polícia portuguesa já terá identificado dois suspeitos, mas, até ao momento, não houve qualquer detenção. O caso acabou por gerar uma onda de indignação nas redes sociais, manifestando-se em críticas à falta de “comoção nacional” para com o caso e à falta de atuação por parte das autoridades. 

“Mesmo que não seja uma razão racial que esteja na origem do assassinato, independentemente das circunstâncias da sua morte, o silêncio sobre a morte de Luís é revelador do racismo que existe em Portugal. Não tenho a menor dúvida”, sublinhou Mamadou Ba em declarações ao Notícias ao Minuto. 

Para o ativista, o facto de “nenhum dirigente do país” ter vindo a público falar sobre o crime é “inacreditável”.

“Imaginemos que tinha sido um jovem branco a ser espancado por 15 jovens negros e que essas agressões resultassem numa morte. Teríamos o país inteiro mobilizado, indignado, a exigir Justiça e o apuramento das responsabilidades. Todas as entidades públicas e políticas estariam neste momento já em campo a dizer o que pensavam sobre a situação e a exigir responsabilidades. Não foi o caso”, conjeturou.

Apontando que “o caso ficou 10 dias a marinar e só se soube porque se tornou viral nas redes sociais”, o ex-assessor bloquista reforçou que “se tivesse sido ao contrário” já teriam surgido vozes “da extrema-direita a exigir mão forte contra os criminosos e que se fizesse justiça”, tal como, “responsáveis de tutela a dizer que se tem de garantir a ordem pública”. “É absolutamente revoltante”, acrescentou.

Sem esquecer “as conquistas do último ano” no que diz respeito ao combate contra o racismo em Portugal, Mamadou Ba afirmou que a “indiferença total que se nota neste caso” demonstra falta de “clarividência institucional” e uma incapacidade da sociedade portuguesa em confrontar a “vivacidade do racismo” presente no país.

“As pessoas não querem ouvir falar de racismo, não querem admitir que há racismo no país e parece-me também que há uma espécie de cedência das forças políticas relativamente a esta questão. Somos um país que se quer enganar a si próprio, pensando que não falando da situação ela deixa de existir”, sustentou.

“Não podemos continuar a fechar os olhos, temos de confrontar esta questão é a única maneira de a resolvermos”, concluiu.

Ao Notícias ao Minuto, o ativista confirmou ainda que irá marcar presença numa das várias marchas de silêncio em homenagem ao estudante, que irão decorrer no dia 11 de janeiro, por volta das 15h, no Terreiro do Paço, em Lisboa, na Avenida dos Aliados, no Porto, na Praça da República, em Coimbra, e na Igreja da Sé, em Bragança. O SOS Racismo estará representado na capital. 

Durante a última semana, recorde-se, Joacine Katar Moreira, do partido Livre, as deputadas socialistas Edite Estrela e Isabel Moreira e o bloquista José Soeiro foram algumas das vozes que se insurgiram e vieram a público condenar o homicídio.

Contudo, durante a noite de ontem, após o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, ter pedido "celeridade" no "esclarecimento cabal" pelas autoridades portuguesas da "trágica" morte do estudante e o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, ter adiantado que também estava a acompanhar os contornos da "morte brutal" do estudante, o Governo português reagiu pela primeira vez

"Lamentamos profundamente a bárbara agressão de que resultou a morte, em Bragança, de um estudante cabo-verdiano. Os responsáveis serão identificados e levados à justiça", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal através da sua conta na rede social Twitter.

"Os cabo-verdianos são nossos irmãos e muito bem-vindos em Portugal", acrescentou a tutela. 

Por sua vez, o embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, pedira já, este sábado, a clarificação "cabal" das circunstâncias da morte do estudante cabo-verdiano, informando que o corpo do jovem deverá ser transladado para o seu país natal esta semana.  
  
Giovani, como era conhecido, estava a viver há apenas dois meses em Portugal para estudar Design de Jogos Digitais no Instituto Politécnico de Bragança. O jovem, de 21 anos, acabou por morrer no Hospital de Santo António, no Porto, no dia 31 de dezembro do ano passado, devido às agressões que sofreu, no dia 21 de dezembro, depois de ter estado 10 dias internado.

A polícia portuguesa já terá identificado dois suspeitos, mas, até ao momento, não houve qualquer detenção. O caso acabou por gerar uma onda de indignação nas redes sociais, manifestando-se em críticas à falta de “comoção nacional” para com o caso e à falta de atuação por parte das autoridades.

Mafalda Tello Silva | Notícias ao Minuto | Imagem: © Global Imagens

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