Desde 1951, em Bremen, que os
democratas-cristãos não obtinham um resultado tão mau numas eleições regionais
como obtiveram agora nas eleições do Estado-cidade de Hamburgo.
Amílcar Correia | Público |
editorial
O declínio da CDU alemã está
intimamente associado ao atribulado processo de sucessão de Angela Merkel.
Desde 1951, em Bremen, que os democratas-cristãos não obtinham um resultado tão
mau numas eleições regionais como obtiveram agora nas eleições do Estado-cidade
de Hamburgo. É certo que esta foi a primeira vez que a CDU foi a votos após a
demissão, há duas semanas, da sua líder, Annegret Kramp-Karrenbauer, e
ainda por cima num bastião da SPD (os colegas da grande coligação em Berlim).
Mas como escrevia Wolfgang
Münchau, no Financial Times da semana passada, o processo
de substituição de Merkel, após 15 anos de poder, é também um sinal do
declínio da própria Alemanha. A descrença está bem à vista quando Münchau
descreve os três sucessores da chanceler: um (Friedrich Merz) acha engraçado
que as tempestades mais violentas deste ano tenham o nome de mulheres, outro
(Armin Laschet) nega as alterações climáticas e há um terceiro (Jens Spahn) que
detesta ouvir falar inglês nos restaurantes de Berlim.
Hamburgo não é representativo do
que acontece a nível federal. Mas é esperançoso que o SPD (apesar de uma
descida de oito pontos percentuais face a 2015) tenha
invertido um historial de derrotas históricas com uma campanha
sensata, falando de investimento público e de rendas acessíveis; que os Verdes
estejam em franco crescimento, a ponto de se poderem transformar no esteio
político do país; e que a extrema-direita do AfD tenha perdido votos. Pelo
menos, não se repetiu o bloqueio da Turíngia. A protecção do clima e uma
sociedade mais aberta, por oposição ao ensimesmamento racista e xenófobo, pode
juntar sociais-democratas e verdes numa alternativa política democrata, que
substitua o papel da CDU nas últimas décadas e mantenha a AfD longe do poder
pelo qual procura ansiosamente.
O nacionalismo e o populismo
juntaram-se para descredibilizar a política e os políticos e a táctica resulta:
a AfD já está representada nos 16 parlamentos dos estados federados do país. A
Alemanha de hoje oferece um contexto para actos tresloucados de uma extrema-direita que
nunca terá sido combatida como deveria, na sequência do homicídio de Walter
Lübcke, um político favorável a políticas de acolhimento de refugiados, e como
testemunhamos recentemente com o atentado que vitimou dez pessoas em Hanau. Imagine-se o que seria se esse acto terrorista fosse causado pelo fanatismo
islâmico e não pelo fanatismo da extrema-direita. A culpa seria de Merkel.
Neste caso, de quem é a culpa?
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