domingo, 9 de fevereiro de 2020

China, Macau | Resiliência


José Carlos Matias | Plataforma Macau | opinião

O céu parecia o limite. No espaço de semanas descemos a uma terra mergulhada num mar encrespado de ansiedade e incerteza. O surto do novo coronavírus virou do avesso a nossa vida, da cidade, do país, da região. Com repercussões cuja profundidade ninguém consegue estimar com exatidão. São dias que começam com a atualização do número de casos de infeções e mortes na China continental e continuam com novas medidas anunciadas em Macau e Hong Kong. São números de pessoas. Reais. Humanas.

Sejamos francos. Não estávamos preparados para viver este tempo. É por isso um período de resistência e resiliência.  E o maior teste ainda está para vir. Tal como é referido pelo Chefe do Executivo Ho Iat Seng, na carta aberta que enviou à população esta semana, a prevenção e combate à epidemia “entram agora numa fase ainda mais dura e difícil”. A decisão inédita e corajosa de encerramento temporário dos casinos era inevitável dado o agudizar da crise, podendo, quiçá, ter sido tomada dias antes. Em traços gerais, as autoridades de Macau – começando por Ho Iat Seng  -têm sido expeditas e firmes nas medidas e discurso de resposta ao surto, contribuindo para um clima de  confiança, essencial nestas alturas, não obstante o exagero de algumas reações.

Há que considerar também a questão das fronteiras com a  China continental, uma vez que na cidade vizinha de Zhuhai o número de casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus é particularmente preocupante, sendo quase o dobro de outras cidades vizinhas da Grande Baía.

 O momento é de solidariedade, no espírito e nos atos. De recusa do estigma e rejeição da ignorância, rumores, preconceito e xenofobia. É a hora da ciência, transparência, compaixão, capacidade de resposta das autoridades e sentido de responsabilidade das pessoas e das empresas.

As medidas de apoio do governo às famílias e à economia estarão apenas no início e serão certamente aprofundadas, graças às reservas acumuladas ao longo de anos a fio de excedentes orçamentais.  

A responsabilidade social empresarial comprova-se nestas ocasiões.

Exige-se um contributo às grandes empresas que tanto lucraram com as quase duas décadas de explosão económica de apoio e proteção aos trabalhadores (residentes e não residentes)  que tantas vezes são as primeiras vítimas de crises desta magnitude. 

A cidade que tem voado de forma esplendorosa deve agora erguer-se com a força proveniente da humildade perante a vida. 

José Carlos Matias (07.02.2020)

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