José Carlos Matias | Plataforma Macau | opinião
O céu parecia o limite. No espaço de semanas descemos a uma terra mergulhada num mar encrespado de ansiedade e incerteza. O surto do novo coronavírus virou do avesso a nossa vida, da cidade, do país, da região. Com repercussões cuja profundidade ninguém consegue estimar com exatidão. São dias que começam com a atualização do número de casos de infeções e mortes na China continental e continuam com novas medidas anunciadas em Macau e Hong Kong. São números de pessoas. Reais. Humanas.
Sejamos francos. Não estávamos preparados para viver este tempo. É por isso um período de resistência e resiliência. E o maior teste ainda está para vir. Tal como é referido pelo Chefe do Executivo Ho Iat Seng, na carta aberta que enviou à população esta semana, a prevenção e combate à epidemia “entram agora numa fase ainda mais dura e difícil”. A decisão inédita e corajosa de encerramento temporário dos casinos era inevitável dado o agudizar da crise, podendo, quiçá, ter sido tomada dias antes. Em traços gerais, as autoridades de Macau – começando por Ho Iat Seng -têm sido expeditas e firmes nas medidas e discurso de resposta ao surto, contribuindo para um clima de confiança, essencial nestas alturas, não obstante o exagero de algumas reações.
Há que considerar também a questão das fronteiras com a China continental, uma vez que na cidade vizinha de Zhuhai o número de casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus é particularmente preocupante, sendo quase o dobro de outras cidades vizinhas da Grande Baía.
As medidas de apoio do governo às famílias e à economia estarão apenas no início e serão certamente aprofundadas, graças às reservas acumuladas ao longo de anos a fio de excedentes orçamentais.
A responsabilidade social empresarial comprova-se nestas ocasiões.
Exige-se um contributo às grandes empresas que tanto lucraram com as quase duas décadas de explosão económica de apoio e proteção aos trabalhadores (residentes e não residentes) que tantas vezes são as primeiras vítimas de crises desta magnitude.
A cidade que tem voado de forma esplendorosa deve agora erguer-se com a força proveniente da humildade perante a vida.
José Carlos Matias (07.02.2020)
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