segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Conferência de Munique expõe laços transatlânticos desgastados


Amigos ou inimigos? Difícil definir o status de relacionamento entre os dois lados do Atlântico. Na Conferência de Segurança de Munique, as profundas rachaduras ficaram mais aparentes que nunca, opina Matthias von Hein.

As tensões vinham fervilhando há bastante tempo, e agora elas vieram à tona: na Conferência de Segurança de Munique, as profundas rachaduras na relação transatlântica se tornaram mais aparentes do que nunca.

A resposta do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao discurso de abertura do presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, mostrou que a Europa – ou pelo menos Berlim, e mais ainda Paris – está mais distante de Washington do que jamais esteve.

A delegação dos Estados Unidos, surpreendentemente numerosa para um ano eleitoral, fez todos os esforços para diminuir a distância entre os dois lados do Atlântico – mas a abordagem estava claramente em desacordo com o governo do presidente Donald Trump.

Em um ponto o Congresso e o governo dos Estados Unidos concordam: que a China é o novo inimigo. E há esperanças de que, diante dessa ameaça, europeus e americanos também possam mais uma vez encontrar um terreno comum.


Quase não houve reunião, painel ou discurso em que os EUA não abordassem a futura expansão da tecnologia 5G, incluindo alertas repetidos sobre o envolvimento da empresa chinesa de telecomunicações Huawei. Apesar de todas as preocupações justificadas, o apontar de dedos constante serviu apenas para provocar resistência.

Uma coisa é certa: não haverá um retorno aos bons tempos de relações transatlânticas estreitas. Os europeus acordaram, pelo menos retoricamente. Fala-se muito de a Europa se tornar um poder soberano, estratégico e político. Exige-se que a Alemanha aprenda novamente o idioma do poder, que o presidente francês, Emmanuel Macron, já parece dominar.

No que diz respeito às futuras relações transatlânticas, três posicionamentos surgiram. Primeiro, a visão francesa de independência europeia. Segundo, a posição predominante – especialmente no Leste Europeu – de que se deve estar estreitamente ligado a Washington, aconteça o que acontecer. E terceiro, a indecisão da Alemanha entre essas duas posições.

Contudo, pode-se prever com alguma certeza que, se Trump for eleito em novembro para mais quatro anos à frente da Casa Branca, a visão francesa ganhará impulso maciço – também por parte de Berlim.

Talvez a aparição do presidente francês tenha realmente sido o destaque da Conferência de Munique. Macron traz um dinamismo incrível ao debate europeu. Ele luta pela independência europeia. Ele quer uma política externa e de defesa comum.

E se isso não funcionar com todos os 27 membros restantes da UE após o Brexit, então Paris ficaria feliz em trabalhar com aqueles que de fato apoiam a ideia repetidamente defendida na conferência: a de criar uma Europa capaz de agir diante da "rivalidade das grandes potências".

Macron chegou à conclusão de que apenas ambições não são suficientes neste novo mundo. Habilidades também são necessárias. A reação a essa conclusão de Macron por parte da delegação alemã foi de aprovação – mas resta saber se isso também se refletirá em ações.

Matthias von Hein (ek) | Deutsche Welle | opinião

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