Amigos ou inimigos? Difícil
definir o status de relacionamento entre os dois lados do Atlântico. Na
Conferência de Segurança de Munique, as profundas rachaduras ficaram mais
aparentes que nunca, opina Matthias von Hein.
As tensões vinham fervilhando há
bastante tempo, e agora elas vieram à tona: na Conferência de Segurança de
Munique, as profundas rachaduras na relação transatlântica se tornaram mais
aparentes do que nunca.
A resposta do secretário de
Estado americano, Mike Pompeo, ao discurso de abertura do presidente da
Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, mostrou que a Europa – ou pelo menos Berlim,
e mais ainda Paris – está mais distante de Washington do que jamais esteve.
A delegação dos Estados Unidos,
surpreendentemente numerosa para um ano eleitoral, fez todos os esforços para
diminuir a distância entre os dois lados do Atlântico – mas a abordagem estava
claramente em desacordo com o governo do presidente Donald Trump.
Em um ponto o Congresso e o
governo dos Estados Unidos concordam: que a China é o novo inimigo. E há
esperanças de que, diante dessa ameaça, europeus e americanos também possam
mais uma vez encontrar um terreno comum.
Quase não houve reunião, painel
ou discurso em que os EUA não abordassem a futura expansão da tecnologia
5G, incluindo alertas repetidos sobre o envolvimento da empresa chinesa de
telecomunicações Huawei. Apesar de todas as preocupações justificadas, o
apontar de dedos constante serviu apenas para provocar resistência.
Uma coisa é certa: não haverá um
retorno aos bons tempos de relações transatlânticas estreitas. Os europeus
acordaram, pelo menos retoricamente. Fala-se muito de a Europa se tornar um
poder soberano, estratégico e político. Exige-se que a Alemanha aprenda
novamente o idioma do poder, que o presidente francês, Emmanuel Macron, já
parece dominar.
No que diz respeito às futuras
relações transatlânticas, três posicionamentos surgiram. Primeiro, a visão
francesa de independência europeia. Segundo, a posição predominante –
especialmente no Leste Europeu – de que se deve estar estreitamente ligado a
Washington, aconteça o que acontecer. E terceiro, a indecisão da Alemanha entre
essas duas posições.
Contudo, pode-se prever com
alguma certeza que, se Trump for eleito em novembro para mais quatro anos à
frente da Casa Branca, a visão francesa ganhará impulso maciço – também por
parte de Berlim.
Talvez a aparição do presidente
francês tenha realmente sido o destaque da Conferência de Munique. Macron traz
um dinamismo incrível ao debate europeu. Ele luta pela independência europeia.
Ele quer uma política externa e de defesa comum.
E se isso não funcionar com todos
os 27 membros restantes da UE após o Brexit, então Paris ficaria feliz em
trabalhar com aqueles que de fato apoiam a ideia repetidamente defendida na
conferência: a de criar uma Europa capaz de agir diante da "rivalidade das
grandes potências".
Macron chegou à conclusão de que
apenas ambições não são suficientes neste novo mundo. Habilidades também são
necessárias. A reação a essa conclusão de Macron por parte da delegação alemã
foi de aprovação – mas resta saber se isso também se refletirá em ações.
Matthias von Hein (ek) | Deutsche
Welle | opinião
Sem comentários:
Enviar um comentário