Plano apresentado pelo presidente
dos EUA contempla amplamente os interesses de Israel, enquanto palestinos
claramente saem perdendo. Isso não pode acabar bem, afirma o jornalista Rainer
Sollich.
O conflito entre israelitas e
palestinos já dura décadas, sem uma solução à vista. Nem guerras, atentados e
revoltas populares, nem iniciativas internacionais, acordos de paz ou
resoluções da ONU mudaram substancialmente alguma coisa nessa situação. A desconfiança
é grande, e a disposição ou capacidade para acordos históricos é nula em ambos
os lados.
Diante de tudo isso, deveria ser
um impulso promissor se o presidente dos Estados Unidos aparece com uma
visão pacifista e convincente para mudar o cenário no Oriente Médio e
envia o seguinte sinal: estamos num profundo impasse – é hora de tentar
com novas ideias e trilhar um caminho totalmente diferente!
Só que Donald Trump não é um
presidente conhecido por suas visões pacifistas. Para o Oriente Médio, ele também
não tem nem ideias nem abordagens novas. Bem ao contrário: seu anunciado
"acordo do século" nem mesmo é um "acordo" no sentido de um
compromisso duramente negociado entre dois lados em posição de igualdade. É
claramente a tentativa de uma imposição política.
O plano considera – com algumas
restrições de caráter sobretudo simbólico – os interesses de segurança de
Israel de maneira muito unilateral e muito generosa, enquanto os palestinos nem
mesmo participaram da elaboração do plano e são claramente os seus perdedores.
Eles correm o risco de perderem, por anexação, outros territórios ocupados ou
povoados por Israel e que eles poderiam reivindicar conforme o direito
internacional.
O plano prevê, é verdade, um
Estado para os palestinos – só que esse deve se submeter rigorosamente aos
interesses de segurança de Israel e ser completamente desmilitarizado.
Jerusalém deverá ser, para sempre, a capital "eterna e indivisível"
de Israel – como Trump já havia determinado, de forma unilateral, em 2017. Ao
mesmo tempo, porém, e quase como prémio de consolação, algumas partes do lado
árabe e oriental da cidade deverão servir de "capital" aos
palestinos.
Trump declarou que seu plano pode
ser a "última chance" para os palestinos. Ele também poderia ter
dito: aceitem ou deixem para lá – mas uma segunda chance vocês não terão de
mim! Assim jamais haverá uma solução de dois Estados em pé de igualdade. O que
Trump concede aos palestinos é, na melhor das hipóteses, uma solução de um
Estado e meio.
Essa abordagem política não só é
amoral e humilhante – porque apenas um lado é contemplado nos seus
"direitos" – como também perigosa, porque o plano de Trump
praticamente dá carta branca a Israel, com base num suposto "acordo",
para anexar ainda mais territórios palestinos.
Isso tudo favorece o
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pois concessões maiores do que essas há
tempos nenhum chefe de governo israelita havia conseguido extrair de
Washington. Isso lhe dá impulso na campanha eleitoral e coloca as acusações de
corrupção contra ele, ao menos num primeiro momento, em segundo plano.
Do lado árabe-muçulmano pode-se
esperar amplos protestos, ainda que a maioria será apenas da boca para fora.
Forças extremistas, porém, devem estar esfregando as mãos de alegria, pois
o plano dá a elas um pretexto novo e perfeito para o terrorismo. Tudo
isso, com certeza, não vai transformar o Oriente Médio num lugar mais seguro.
Nem Israel.
Rainer Sollich | Deutsche Welle |
opinião
Imagem: O presidente da
Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas (centro), reage ao plano de Trump
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