Segundo a PSP, a maior claque do
Vitória de Guimarães terá cerca de 700 elementos, mas só estão registados 11.
Não haverá ligações de membros a grupos violentos organizados de
extrema-direita.
Castiguem quem ousa não ser
seguidor do 'estarolismo-mor'. Arranjem de tudo como é costume: desde
insultarmos a própria cidade, até ao facto de sermos insultados por um preto,
mas o racismo só existir quando nós o insultamos... Nada nos afecta, nem nunca afetará."
A frase faz parte de um post publicado na noite de domingo na página de Facebook
dos White Angels, a maior claque do Vitória de Guimarães, que tomou esta
posição após os incidentes que envolveram o jogador portista Marega no passado
domingo e que já motivaram a abertura de um inquérito pelo Ministério Público.
O internacional pelo Mali, que
alinhou pelo V. Guimarães na temporada 2016-17, abandonou o terreno de jogo após ser alvo de insultos racistas
vindos das bancadas do Estádio Dom Afonso Henriques, durante o jogo V.
Guimarães-FC Porto, gerando com essa atitude uma avalancha de reações ao caso
que teve destaque internacional e pôs o tema do
racismo no futebol e na sociedade portuguesa a ser discutido em vários
quadrantes. Uma dessas reações foi precisamente a dos White Angels, que foi
mais longe neste comunicado considerando que Marega é um "jogador
racista", assim como Sérgio Conceição, atual treinador do FC Porto e
também ex-técnico do V. Guimarães. O futebolista dos dragões voltou a comentar
o assunto nesta segunda-feira, garantido que os insultos racistas começaram ainda no aquecimento.
A claque White Angels foi formada
a 15 de abril de 1999 e é uma das três associadas ao V. Guimarães que a PSP
identifica como estando registadas no Instituto Português do Desporto e
Juventude (IPDJ), juntamente com os grupos Suspeitos do Costume e Insane Guys.
Ainda segundo a PSP, os White Angels terão cerca de 700 elementos, mas destes
apenas 11 estão registados no IPDJ. Em 2018, a polícia contabilizava 20
elementos da claque com registos de prática de crimes associados ao fenómeno da
violência do desporto e outros sete indiciados por outros crimes (principalmente
roubos, furtos, tráfico de droga e agressões violentas). Estavam também
identificados cerca de 70 adeptos ligados a subgrupos de casuals, que
organizam ações violentas, como, por exemplo, em janeiro de 2018, a invasão do centro de treinos do Vitória seguida de agressões
a jogadores do clube.
Os Suspeitos do Costume terão
pouco mais de 500 membros (as contas da PSP são feitas tendo em conta a
presença de adeptos nas bancadas). Os Insane Guys serão pouco mais de uma
centena. Nenhuma destas claques tem elementos registados no IPDJ. Aliás,
de acordo com os números a que o DN teve acesso, o rácio de elementos de
claques vimaranenses registados no IPDJ é de apenas 0,5%, abaixo do que se
passa no Sp. Braga (1,9%) e muito além do que acontece no Sporting (36%) e no
FC Porto (34%) - o Benfica não tem qualquer claque registada.
No top 5 dos incidentes em
estádios
O presidente do maior sindicato
da PSP já veio dizer que insultos racistas contra os jogadores são
"frequentes" nos estádios e que aos elementos da polícia "é pedido para não ligar".
Talvez por isso, e apesar de serem "habituais" estas situações, de
acordo com os últimos dados facultados ao DN pela PSP (relativos
às épocas de 2015-2016 e 2016-2017), foram apenas registados 27 e 31
incidentes, respetivamente, por "incitamento à violência, ao racismo, à
xenofobia e à intolerância" - representando um crescimento de 14,8%.
Durante as épocas referidas, as
claques do Vitória estiveram envolvidas em 9,8% dos incidentes registados em
jogos de futebol da I Liga, menos do que os protagonizados por claques
associadas ao Benfica (28%), ao FC Porto (24,7%) e ao Sporting (23,8%) e mais
do que os que envolvem adeptos do Sp. Braga (5,5%).
O DN já pediu à PSP dados
atualizados e está a aguardar a resposta, incluindo sobre o número de adeptos
identificados pela polícia por proferirem insultos racistas e xenófobos.
Sem ligações a grupos violentos de
extrema-direita
Se há ligações destas claques
vimaranenses a movimentos racistas de extrema-direita, violentos e organizados
(como os Portugal Hammerskins ou os Blood & Honour), ou a nacionalistas
extremistas, a PSP ainda não esclareceu. No entanto, fonte da Frente Unitária
Antifascista, que acompanha estes grupos, disse ao DN que "até agora não
foram detetadas essas ligações" no Vitória de Guimarães.
Uma realidade diferente de
claques de outros clubes onde "há, de facto, elementos que integram grupos
organizados de extrema-direita". "Neste caso [do V. Guimarães]
trata-se simplesmente de pessoas racistas cujo discurso, infelizmente, tende a
ficar normalizado e legitimado. Muitos adeptos fazem isto apenas por pura
provocação aos jogadores, nem sequer têm noção do racismo implícito. Há muita
falta de consciência", conclui a mesma fonte.
Valentina Marcelino e Pedro
Sequeira | Diário de Notícias | Imagem: © Leonel de Castro/Global Imagens
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