Luciano Rocha | Jornal de Angola
| opinião
Os doentes mentais, entregues à
própria sorte na via pública luandense, por mais do que uma vez referidos neste
e noutros espaços do Jornal de Angola, são espelhos das misérias da nossa
sociedade.
Aqueles doentes, na maioria dos
casos, sem culpa de o serem, pelo contrário, vítimas de uma série de
circunstâncias, entre as quais a insensibilidade de uma sociedade
empenhadamente construída por uns quantos, mas que todos estão obrigados a
refazê-la em nome da consciência dos que a têm.
Aos doentes mentais a que nos
referimos juntam-se muitos outros deserdados da sorte, crianças, adultos,
mulheres, homens, novos e velhos. Dormem em qualquer canto da via pública, onde
o cansaço os venceu, vasculham recipientes de lixo à procura de garrafas,
latas, tudo o que possam vender, mas também roupa velha que lhes há-de encobrir
os farrapos que trazem no corpo, porventura, quem sabe?, para se “darem ao
luxo” de trocarem de traje, igualmente, restos de comida sobrada de quem não
lhe sente a falta, beatas de cigarro para saciarem o vício, talvez, também,
para relembrarem os dias em que as deitavam fora.
Os doentes mentais a que nos referimos, mais todos os outros que lhes fazem companhia na via pública, lembre-se, são seres humanos a quem as bassulas da vida deitou por terra e às quais não há quem não esteja sujeito. Ao Estado cabe, em primeira instância, encontrar soluções feitas de acção, sem anúncios, nem aproveitamentos. É forma de corrigir o que está mal.
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