Mike Pompeo tenta apresentar uma
visão positiva para a cooperação dos EUA durante périplo por países africanos,
mas analista considera que administração Trump sinaliza exatamente o contrário.
No último dia de vista a países
africanos, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, fez um discurso
político na Comissão Económica das Nações Unidas para África antes de voar para
a Arábia Saudita.
"Os países devem ter cuidado
com os regimes autoritários e os seus promessas vazias", disse Pompeo em
seu discurso em Adis Abeba, na Etiópia. "Eles criam corrupção, dependência
e instabilidade, não prosperidade, soberania e progresso", completou.
Na terça-feira (18.02),
secretário de Estado encorajou a cooperação entre Etiópia, Sudão e Egito para
um acordo sobre a barragem do Nilo Azul - que provocou uma crise diplomática de
anos entre Cairo e Adis Abeba – mas advertiu que um acordo pode levar meses.
"A nossa missão não é impor uma solução. É fazer com que os três países se
unam em torno de uma solução que eles reconheçam e atenda as suas
preocupações", disse.
A Etiópia diz que o projeto
hidroelétrico é crucial para o seu desenvolvimento económico, mas o Egito
considera que a barragem afetará o fluxo do Nilo, a sua principal fonte de água
doce. O Governo etíope espera que a barragem do Nilo Azul torne o país no maior
exportador de energia de África, produzindo mais de 6 mil megawatts.
Os EUA e a crise no Sahel
Os EUA estão atualmente a
discutir cortes militares na região do Sahel, na África Ocidental. O analista
de segurança do Gana Vladimir Antwi-Danso lembra que se está a
tornar cada vez mais difícil sufocar a rebelião na área. "Os EUA
perderam uma série de tropas no Níger e no Mali e perceberam que talvez esteja
na hora de reorientar e reconstruir a sua relação com África", opina
Antwi-Danso.
No final da sua estadia no
Senegal, primeira paragem da sua viagem por África, Pompeu disse que os EUA
trabalham para definir os recursos militares necessários para combater o
aumento da violência extremista na África Ocidental.
Antwi-Danso diz, entretanto, que
aumentar a presença militar norte-americana não é do interesse de África.
"A maioria dos problemas que
estamos a ter no que diz respeito à segurança deve-se à política dos EUA em
matéria de defesa em África. Expulsar e matar o ditador líbio Muammar Kadhafi,
por exemplo, desencadeou eventos violentos em toda a zona do Sahel. Eles estão
a criar problemas de tal forma que a maioria dos países africanos não sabe o
que fazer. Quanto maior a presença dos EUA, maiores as rebeliões ou o
terrorismo", diz.
O contrapeso chinês
Já na passagem por Angola, Pompeo
não conteve os elogios
à recente campanha anticorrupção de Luanda. Antwi-Danso afirma, no entanto,
que este pode não ter sido o ponto mais importante para o norte-americano e sim
os recursos naturais do país.
"Angola é um país rico e se
os EUA ganharem Angola, estarão a ganhar um enorme país com enormes
recursos. Para os EUA, Angola seria também um país estratégico para contrariar
a influência da China", avalia.
O porta-voz do Departamento de
Estado Morgan Ortagus confirmou que Pompeo e o Presidente João Lourenço
discutiram o papel de Pequim em África. A China seria também uma das razões
pelas quais Pompeo esteve na Etiópia.
"A Etiópia é a porta de
entrada para o Corno de África. Se os Estados Unidos conseguirem se firmar na
Etiópia, poderão também combater a influência da China na região", diz o
analista ganense.
Os EUA perderam o status de
principal parceiro comercial de África para a China há dez anos. Num esforço
para fortalecer os laços económicos, Pompeo também se reuniu com líderes e
empresários dos países que visitou.
Sem ganha-ganha
O secretário de Estado pareceu
decidido a promover o programa americano "Prosper Africa" - concebido
pelo ex-conselheiro de segurança John Bolton.
"As relações económicas de
exploração, por causa do petróleo ou de outras matérias-primas, não são
corretas, tanto com a China como com os EUA. Precisamos de uma relação
económica que ajude a tirar a África do marasmo da pobreza e da estagnação. Então,
o mundo será mais pacífico", adverte Antwi-Danso.
Há algumas semanas, a Nigéria,
Eritreia, Sudão e Tanzânia juntaram-se à Líbia e Somália na lista de países
cujos nacionais estão na sua maioria impedidos de entrar nos EUA por alegadas
razões de segurança.
Cristina Krippahl, com agências,
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