sábado, 14 de março de 2020

Como o coronavírus paralisou a Itália


Para conter avanço da covid-19, comércio foi obrigado a fechar as portas, com exceção de farmácias, supermercados e postos de combustível. Linhas de produção e de abastecimento foram interrompidas.

Num discurso dramático no Facebook, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, agradeceu a todos os cidadãos que estão fazendo sacrifícios para conter a propagação do coronavírus no país europeu. "Vamos provar que somos uma grande nação", disse Conte, que anunciou medidas drásticas, como a declaração de quarentena em todo o território nacional, uma espécie de toque de recolher para os 60 milhões de italianos. "Eu consultei a minha consciência. A saúde dos italianos precisa estar em primeiro lugar", disse Conte.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 15 mil pessoas já foram infectadas na Itália com o vírus Sars-Cov-2, que causa a doença pulmonar covid-19. Mais de mil pessoas, em sua maioria idosas, morreram devido à enfermidade. E os números continuam subindo apesar dos esforços do governo italiano de restringir ao máximo a interação social e grandes reuniões de pessoas.

Escolas, universidades, teatros, museus, cartórios e sedes esportivas já estão fechadas há semanas. O governo também decretou o fechamento de todos os restaurantes, bares e do comércio cujos produtos não são necessários para o dia a dia. Supermercados, mercados de construção, farmácias, tabacarias e postos de combustíveis permanecem abertos.

Nos supermercados, pede-se que os clientes mantenham pelo menos um metro de distância uns dos outros. Os funcionários usam máscaras, e alguns vestem luvas de látex. "Só se deveria sair de casa quando se tem um bom motivo", diz Aljoska Stefanato, empresário de turismo de Treviso. "Se a polícia te encontra na rua, você precisa carregar uma autorização de exceção", explica.

A chamada "auto-autorização" pode ser baixada da internet, impressa e preenchida. Não é preciso ter o aval das autoridades – e ainda não se sabe como e se essas "autorizações" são verificadas. Em Roma, de acordo com a agência de notícias Ansa, sete pessoas foram presas e 43 interrogadas por terem violado as regras de restrição de circulação vigentes no momento.


Economia sofre

Autorizações também são necessárias para quem se desloca para o trabalho, de carro ou a pé. A produção industrial deve ser mantida, segundo anunciou Conte – as empresas, porém, foram aconselhadas a operar com o menor número possível de trabalhadores.

Em diversas fábricas no norte da Itália, houve greves porque os funcionários temiam contrair o vírus Sars-Cov-2 no local de trabalho. Linhas de produção e de abastecimento estão interrompidas, e a economia italiana está sofrendo intensamente.

O ministro da Economia, Roberto Gualtieri, espera uma recessão no primeiro semestre deste ano. A bolsa em Milão continua registrando perdas. A Lombardia, região em torno da capital financeira, é o coração econômico da Itália e é a área mais duramente afetada pela pandemia do coronavírus. Nas últimas semanas, a economia italiana já encolheu 15%, segundo disse o economista Lorenzo Codogno à agência Reuters.

O governo em Roma planeja um pacote de auxílio financeiro de cerca de 25 bilhões de euro para combater o declínio econômico, uma medida que deverá ser financiada principalmente por meio de dívidas. O país já altamente endividado espera ajuda adicional da União Europeia (UE).

"Um tsunami de pacientes"

O dinheiro do fundo para combater o coronavírus também deverá ser aplicado no sistema de saúde italiano, sob pressão considerável. "Estamos vivendo um tsunami de pacientes adicionais", disse Giacomo Grasselli, em entrevista à DW. O médico coordena as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais na Lombardia, que conseguiu aumentar a capacidade de leitos em 50%.

"Certamente, há o risco de chegarmos a um ponto no qual os recursos disponíveis não serão mais suficientes para todos. Nesse caso, seria preciso dar acesso à medicina intensiva àqueles que têm as maiores chances de sobrevivência", pontua. Grasselli ainda apelou aos italianos que respeitem as regras de restrição da circulação. "Se todos nós ficarmos três semanas em casa, isso deverá passar. Teoricamente, não haveria mais novas infecções."

Ao mesmo tempo, houve protestos de detentos contra as novas regras em quatro prisões italianas, já que as diretrizes não permitem visitas de parentes. Além disso, os presos temem maior risco de infecção por causa do confinamento em espaços contíguos.

Turismo e escolas

Turistas também estão deixando de ir à Itália. De Veneza à Sicília, acumulam-se os cancelamentos de reservas nos hotéis e nas operadoras que oferecem casas de férias. Os restaurantes já estavam vazios antes de serem fechados. Atrações como a Basílica de São Pedro, em Roma, estão fechadas.

Áustria e Eslovênia até fecharam as fronteiras para o país. A Confederação Geral da Indústria da Itália (Confindustria) exortou a Áustria e a UE a reabrirem o Brenner Pass, passagem fronteiriça entre os dois países, já que a passagem pelos Alpes é a principal via de transporte para produtos de exportação na região.

"A liberdade de movimento para pessoas e produtos precisa ser restabelecida imediatamente", pede a Confindustria, que acredita que a Áustria deveria ser punida por seu fechamento "ilegal" das fronteiras.

Muitas escolas e universidades – que foram fechadas pelo governo – oferecem cursos e palestras online para alunas e alunos. Não ficou claro como serão realizadas as provas. Como todas as crianças do país estão em casa, não podem brincar do lado de fora e, além disso, não há muito o que fazer, o consumo de televisão e mídias eletrônicas vem aumentando. A plataforma digital Amazon reconheceu o fato e está oferecendo o programa gratuitamente em algumas regiões da Itália durante o período de quarentena.

O prefeito de Codogno, pequena cidade na Lombardia onde foi confirmado o primeiro caso de coronavírus no país, vê uma luz no fim do túnel. Após o fechamento completo da cidade, há três semanas, aparentemente não houve novas infecções.

"É preciso ter cuidado ao avaliar essa informação, precisamos observar a evolução nos próximos dias", afirmou Francesco Passerini à agência Ansa. Segundo uma pesquisa de opinião divulgada nos últimos dias, 89% dos italianos concordam com as medidas draconianas do governo para contenção da pandemia.

Bernd Riegert (rk) | Deutsche Welle

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