Para conter avanço da covid-19,
comércio foi obrigado a fechar as portas, com exceção de farmácias,
supermercados e postos de combustível. Linhas de produção e de abastecimento
foram interrompidas.
Num discurso dramático no
Facebook, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, agradeceu a todos os
cidadãos que estão fazendo sacrifícios para conter a propagação do coronavírus
no país europeu. "Vamos provar que somos uma grande nação", disse
Conte, que anunciou medidas drásticas, como a declaração de quarentena em todo
o território nacional, uma espécie de toque de recolher para os 60 milhões de
italianos. "Eu consultei a minha consciência. A saúde dos italianos
precisa estar em primeiro lugar", disse Conte.
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), mais de 15 mil pessoas já foram infectadas na Itália com o vírus
Sars-Cov-2, que causa a doença pulmonar covid-19. Mais de mil pessoas, em sua
maioria idosas, morreram devido à enfermidade. E os números continuam
subindo apesar dos esforços do governo italiano de restringir ao máximo a
interação social e grandes reuniões de pessoas.
Escolas, universidades, teatros,
museus, cartórios e sedes esportivas já estão fechadas há semanas.
O governo também decretou o fechamento de todos os restaurantes, bares e
do comércio cujos produtos não são necessários para o dia a dia. Supermercados,
mercados de construção, farmácias, tabacarias e postos de combustíveis
permanecem abertos.
Nos supermercados, pede-se que os
clientes mantenham pelo menos um metro de distância uns dos outros. Os
funcionários usam máscaras, e alguns vestem luvas de látex. "Só se deveria
sair de casa quando se tem um bom motivo", diz Aljoska Stefanato,
empresário de turismo de Treviso. "Se a polícia te encontra na rua, você
precisa carregar uma autorização de exceção", explica.
A chamada
"auto-autorização" pode ser baixada da internet, impressa e
preenchida. Não é preciso ter o aval das autoridades – e ainda não se sabe como
e se essas "autorizações" são verificadas. Em Roma, de acordo com a
agência de notícias Ansa, sete pessoas foram presas e 43 interrogadas por terem
violado as regras de restrição de circulação vigentes no momento.
Economia sofre
Autorizações também são
necessárias para quem se desloca para o trabalho, de carro ou a pé. A produção
industrial deve ser mantida, segundo anunciou Conte – as empresas, porém, foram
aconselhadas a operar com o menor número possível de trabalhadores.
Em diversas fábricas no norte da
Itália, houve greves porque os funcionários temiam contrair o vírus Sars-Cov-2
no local de trabalho. Linhas de produção e de abastecimento estão
interrompidas, e a economia italiana está sofrendo intensamente.
O ministro da Economia, Roberto
Gualtieri, espera uma recessão no primeiro semestre deste ano. A bolsa em Milão
continua registrando perdas. A Lombardia, região em torno da capital
financeira, é o coração econômico da Itália e é a área mais duramente afetada
pela pandemia do coronavírus. Nas últimas semanas, a economia italiana já
encolheu 15%, segundo disse o economista Lorenzo Codogno à agência Reuters.
O governo em Roma planeja um
pacote de auxílio financeiro de cerca de 25 bilhões de euro para combater o
declínio econômico, uma medida que deverá ser financiada principalmente por
meio de dívidas. O país já altamente endividado espera ajuda adicional da União
Europeia (UE).
"Um tsunami de
pacientes"
O dinheiro do fundo para combater
o coronavírus também deverá ser aplicado no sistema de saúde italiano, sob
pressão considerável. "Estamos vivendo um tsunami de pacientes
adicionais", disse Giacomo Grasselli, em entrevista à DW. O médico
coordena as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais na Lombardia,
que conseguiu aumentar a capacidade de leitos em 50%.
"Certamente, há o risco de
chegarmos a um ponto no qual os recursos disponíveis não serão mais suficientes
para todos. Nesse caso, seria preciso dar acesso à medicina intensiva àqueles
que têm as maiores chances de sobrevivência", pontua. Grasselli ainda
apelou aos italianos que respeitem as regras de restrição da circulação.
"Se todos nós ficarmos três semanas em casa, isso deverá passar.
Teoricamente, não haveria mais novas infecções."
Ao mesmo tempo, houve protestos
de detentos contra as novas regras em quatro prisões italianas, já que as
diretrizes não permitem visitas de parentes. Além disso, os presos temem maior
risco de infecção por causa do confinamento em espaços contíguos.
Turismo e escolas
Turistas também estão deixando de
ir à Itália. De Veneza à Sicília, acumulam-se os cancelamentos de reservas nos
hotéis e nas operadoras que oferecem casas de férias. Os restaurantes já
estavam vazios antes de serem fechados. Atrações como a Basílica de São Pedro,
em Roma, estão fechadas.
Áustria e Eslovênia até fecharam
as fronteiras para o país. A Confederação Geral da Indústria da Itália
(Confindustria) exortou a Áustria e a UE a reabrirem o Brenner Pass, passagem
fronteiriça entre os dois países, já que a passagem pelos Alpes é a principal
via de transporte para produtos de exportação na região.
"A liberdade de movimento
para pessoas e produtos precisa ser restabelecida imediatamente", pede a
Confindustria, que acredita que a Áustria deveria ser punida por seu fechamento
"ilegal" das fronteiras.
Muitas escolas e universidades –
que foram fechadas pelo governo – oferecem cursos e palestras online para
alunas e alunos. Não ficou claro como serão realizadas as provas. Como todas as
crianças do país estão em casa, não podem brincar do lado de fora e, além
disso, não há muito o que fazer, o consumo de televisão e mídias eletrônicas
vem aumentando. A plataforma digital Amazon reconheceu o fato e está oferecendo
o programa gratuitamente em algumas regiões da Itália durante o período de
quarentena.
O prefeito de Codogno, pequena
cidade na Lombardia onde foi confirmado o primeiro caso de coronavírus no país,
vê uma luz no fim do túnel. Após o fechamento completo da cidade, há três
semanas, aparentemente não houve novas infecções.
"É preciso ter cuidado ao
avaliar essa informação, precisamos observar a evolução nos próximos
dias", afirmou Francesco Passerini à agência Ansa. Segundo uma pesquisa de
opinião divulgada nos últimos dias, 89% dos italianos concordam com as medidas
draconianas do governo para contenção da pandemia.
Bernd Riegert (rk) | Deutsche
Welle
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