Presidente da Turquia diz que vaga de migrantes rumo à Grécia só terá fim se Bruxelas declarar apoio às
manobras de Ancara na Síria. Europeus denunciam "chantagem" e fecham
fronteiras temendo nova onda migratória.
O presidente da Turquia, Recep
Tayyip Erdogan, elevou a pressão sobre a União
Europeia nesta quarta-feira (04/03) ao afirmar que a crise na
fronteira de seu país com a Grécia só poderá ser resolvida se a Europa declarar
apoio ao que chamou de "soluções políticas e humanitárias" de Ancara
no norte da Síria.
A declaração de Erdogan veio após
um dia de novos confrontos ao longo da fronteira, quando uma multidão de
migrantes tentou forçar a entrada na Grécia, fazendo com que as forças de
segurança gregas tivessem de intervir para impedir uma invasão em seu
território. Milhares de migrantes e refugiados se acumulam ao longo da
fronteira greco-turca.
A crise teve início após Erdogan
anunciar que seu governo não impediria mais os migrantes abrigados em seu país
de tentar chegar à Europa através da Grécia, numa tentativa de forçar
a UE a aumentar a ajuda ao país, que abriga em torno de 3,6 milhões de
refugiados sírios.
A Turquia realiza operações
militares contra o governo da Síria numa ampla faixa no norte do território
sírio, em uma tentativa de impedir um novo fluxo migratório a partir de Idlib,
região dominada por grupos insurgentes que está sob ataque de tropas de Damasco
apoiadas por Moscovo.
Quase 1 milhão de habitantes
de Idlib foram forçados a deslocar-se devido à violência, mas estão
impedidos de entrar no território turco.
O chefe da política externa da
UE, Josep Borrell, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, se
reuniram com Erdogan em Ancara nesta quarta feira, e prometeram repassar
170 milhões de euros destinados à ajuda aos grupos em condições
vulneráveis na Síria. Borrell afirmou que a UE reconhece as dificuldades que a
Turquia enfrenta, mas que a abertura da fronteira para os migrantes
"apenas agrava a situação".
O ministro alemão do Exterior,
Horst Seehofer, alertou sobre a possível repetição do fluxo migratório que
pegou a Europa de surpresa em 2015.
Em reunião com os demais
ministros do Exterior da UE em Luxemburgo, ele pediu uma política comum de
acolhimento no bloco, sem a qual "há o perigo de a migração descontrolada
ocorrer mais uma vez por toda a Europa". "Já vimos isso antes, e não
quero que aconteça novamente", reforçou.
O ministro francês do Exterior,
Jean-Yves Le Drian, comentou que os europeus não devem sucumbir à
"chantagem" de Ancara, ressaltando que as fronteiras do continente
estão e permanecerão fechadas.
Acusações em meio ao aumento da
violência
As forças de segurança da Grécia
intervieram com bombas de gás lacrimogéneo e de efeito moral nesta quarta-feira
para impedir a entrada ilegal de migrantes. Os confrontos ocorreram próximo às
passagens fronteiriças em Pazarkulee e no vilarejo de Kastanies, ao longo de
uma cerca que cobre parte da fronteira não demarcada pelo rio Evros.
Autoridades turcas afirmaram que
tiros disparados por agentes gregos deixaram um morto e cinco feridos, o que o
governo de Atenas desmentiu. "O lado turco cria e divulga notícias falsas
contra a Grécia", acusou o porta-voz do governo Stelios Petsas. "Não
houve nenhum incidente com armas de fogo por parte das autoridades
gregas", reiterou.
Autoridades da Grécia disseram
que a polícia turca atirou bombas de gás contra os migrantes, e apresentaram
vídeos que supostamente comprovam a alegação.
Jornalistas no lado turco da
fronteira relataram ter visto pelo menos quatro ambulâncias deixando o local. O
chefe do setor de emergências do hospital da Universidade de Trakya, na
Turquia, afirmou a repórteres que seis pessoas foram internadas nesta
quarta-feira, sendo que uma delas morreu antes de chegar ao hospital. Entre os
atendidos, três tinham ferimentos a bala.
Segundo relatos, a movimentação
em massa de migrantes dentro da Turquia poderia ter sido previamente
organizada, com alguns autocarros, táxis e automóveis transportando
migrantes de Istambul até à fronteira. Alguns dos que conseguiram atravessar
para o outro lado afirmaram que as autoridades turcas os orientaram para irem para a
Grécia.
O governo grego considerou a
situação uma ameaça direta à segurança nacional, e impôs medidas de emergência
para acelerar as deportações e suspender o processamento dos pedidos de asilo
durante um mês. Há relatos de migrantes sendo literalmente empurrados de volta
para a Turquia através da fronteira.
Deutsche Welle | RC/ap/rtr/afp
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