O Governo guineense demitido e
liderado pelo primeiro-ministro, Aristides Gomes, denunciou hoje, em carta
enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, um alegado
aumento de tráfico de droga no país.
Na missiva, a que a Lusa teve
acesso, Aristides Gomes manifesta a António Guterres a sua preocupação pelo
facto de, alegadamente, desde o dia em que o seu Governo foi demitido por Umaro Sissoco Embaló,
se regista "a retoma de descarga de grande quantidade de droga no sul do
país".
Aristides Gomes diz ter
informações em como estariam na Guiné-Bissau "indivíduos de várias
nacionalidades, todos ligados ao narcotráfico e terrorismo, alguns
com mandados de captura internacional".
O primeiro-ministro do Governo
demitido aponta ainda para o facto de aquelas pessoas estarem sob proteção dos
militares que também, disse, estariam a dar cobertura às alegadas descargas de
droga no sul do território guineense.
Aristides Gomes recomenda à
comunidade internacional que faça "uma abordagem mais profunda ao fenómeno
criminal de tráfico de droga, branqueamento de capitais e corrupção" que,
"muitas das vezes é visto e tratado como crise política" na
Guiné-Bissau.
O primeiro-ministro insta o
Conselho de Segurança das Nações Unidas a enviar, com caráter de
urgência, uma missão de avaliação da situação na Guiné-Bissau e exorta ainda a
Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a
União Europeia a avaliarem o "gritante incumprimento pela Ecomib (força
militar oeste africana) do mandato que lhe foi confiado".
O governante pede um pronunciamento
público da CEDEAO, União Africana, União Europeia, Nações Unidas e demais
parceiros do país, no sentido de se saber se o seu Governo é o legitimo e único
que reconhecem na Guiné-Bissau.
A Guiné-Bissau vive mais um
momento de tensão política, depois de Umaro Sissoco Embaló, dado
como vencedor das eleições presidenciais do país pela Comissão Nacional de
Eleições, ter tomado posse em 27 de fevereiro como Presidente do
país, quando ainda decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo
Tribunal de Justiça, apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira,
que alega graves irregularidades no processo.
Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu
Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das legislativas e que tem a
maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian para o cargo.
Após estas decisões, os militares
guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo
Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.
O presidente da Assembleia
Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse como Presidente
interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do
Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou
ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.
Umaro Sissoco Embaló afirmou
que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta
nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.
Mediadora da crise guineense, a CEDEAO voltou
a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional
estabelecida na Guiné-Bissau, acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos
políticos e cancelou uma deslocação de peritos ao país para ajudar a resolver o
contencioso eleitoral, depois de ameaças do Governo de Nabian.
As Nações Unidas, a União
Europeia e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelaram ao
diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da
Constituição do país.
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário