segunda-feira, 23 de março de 2020

O VÍRUS DO TERROR


Liliana Costa | TSF

Por todo o Mundo milhares de portugueses vivem a angústia de um futuro imprevisível e a tensão de um momento só comparável a um cenário de guerra iminente.

Nunca vivi nenhuma mas as histórias que me contam de quem teve que fugir de algum lugar assemelham-se muito à experiência que eu e mais 11 portugueses vivemos em Moçambique nos últimos dias, depois de a angolana TAAG ter cancelado as ligações a Lisboa.

Apanhados no cilindro destruidor do quotidiano de toda uma sociedade, vimo-nos "presos" num país longe de casa, vulneráveis a um vírus pandémico e ainda

O Governo do meu país e, sobretudo, o nosso dinheiro acabaram por, com mais ou menos dificuldades, resolver o problema, com a TAP a trazer-nos de volta a Portugal a preços justos, permitindo que possa estar agora confortavelmente em casa a cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias, a dez minutos de um hospital público equipado com melhores meios do que o melhor privado de Maputo.

Para trás deixei um país à mercê de si próprio, onde uma simples consulta e umas análises rotineiras ao sangue custam mais do que um Salário Mínimo moçambicano numa unidade privada que garanta as condições básicas de atendimento.

"Se o 'Corona' chegar aqui acabou". A frase dita por um amigo moçambicano não me sai da cabeça. Os receios de uma rápida propagação da doença num país com fragilidades sanitárias, bairros de elevada densidade populacional e um sistema de transportes suportado, sobretudo, pelos chamados "chapas" justificam as preocupações.


Os portugueses residentes em Maputo estão apreensivos com os impactos da chegada da doença ao país, nomeadamente em relação aos seus contratos de trabalho e às eventuais dificuldades de abastecimento alimentar. Muitos portugueses deslocam-se com regularidade a Nelspruit (África do Sul) para comprar mercearia, produtos de higiene e medicamentos, o que deixam de poder fazer com o encerramento de fronteiras.

Os cenários dominam as conversas em Maputo levando mais portugueses a ponderarem deixar Moçambique nas próximas semanas, aumentando significativamente a procura por voos de regresso a Portugal e a pressão sobre a transportadora aérea portuguesa TAP, que anunciou um último voo para segunda feira, dia 23 de março.

Deixámos Maputo já com os hotéis vazios, os táxis parados, empresas a enviar trabalhadores para casa, escolas prontas a encerrar. Desde há vários dias que o país vem tomando medidas de prevenção, com a colocação de desinfetantes à entrada de supermercados, lojas, escritórios e hospitais.

O primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus acaba de ser confirmado, este domingo, pelo ministro da Saúde moçambicano, Armindo Tiago. Trata-se de um homem de 75 anos de idade que regressou do Reino Unido em meados deste mês.

De Moçambique trago o coração apertado e três batiques comprados na FEIMA - Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo que irei emoldurar na parede para me lembrar, sempre, do que aprendi naquele que é o maior teste à nossa civilização na era atual.

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