Liliana Costa | TSF
Por todo o Mundo milhares de
portugueses vivem a angústia de um futuro imprevisível e a tensão de um momento
só comparável a um cenário de guerra iminente.
Nunca vivi nenhuma mas as
histórias que me contam de quem teve que fugir de algum lugar assemelham-se
muito à experiência que eu e mais 11 portugueses vivemos em Moçambique nos
últimos dias, depois de a angolana TAAG ter cancelado as ligações a Lisboa.
Apanhados no cilindro destruidor
do quotidiano de toda uma sociedade, vimo-nos "presos" num país longe
de casa, vulneráveis a um vírus pandémico e ainda
O Governo do meu país e,
sobretudo, o nosso dinheiro acabaram por, com mais ou menos dificuldades,
resolver o problema, com a TAP a trazer-nos de volta a Portugal a preços
justos, permitindo que possa estar agora confortavelmente em casa a cumprir uma
quarentena obrigatória de 14 dias, a dez minutos de um hospital público
equipado com melhores meios do que o melhor privado de Maputo.
Para trás deixei um país à mercê
de si próprio, onde uma simples consulta e umas análises rotineiras ao sangue
custam mais do que um Salário Mínimo moçambicano numa unidade privada que
garanta as condições básicas de atendimento.
"Se o 'Corona' chegar aqui
acabou". A frase dita por um amigo moçambicano não me sai da cabeça. Os
receios de uma rápida propagação da doença num país com fragilidades
sanitárias, bairros de elevada densidade populacional e um sistema de
transportes suportado, sobretudo, pelos chamados "chapas" justificam
as preocupações.
Os portugueses residentes em
Maputo estão apreensivos com os impactos da chegada da doença ao país,
nomeadamente em relação aos seus contratos de trabalho e às eventuais
dificuldades de abastecimento alimentar. Muitos portugueses deslocam-se com
regularidade a Nelspruit (África do Sul) para comprar mercearia, produtos de
higiene e medicamentos, o que deixam de poder fazer com o encerramento de
fronteiras.
Os cenários dominam as conversas
em Maputo levando mais portugueses a ponderarem deixar Moçambique nas próximas
semanas, aumentando significativamente a procura por voos de regresso a
Portugal e a pressão sobre a transportadora aérea portuguesa TAP, que anunciou
um último voo para segunda feira, dia 23 de março.
Deixámos Maputo já com os hotéis
vazios, os táxis parados, empresas a enviar trabalhadores para casa, escolas
prontas a encerrar. Desde há vários dias que o país vem tomando medidas de
prevenção, com a colocação de desinfetantes à entrada de supermercados, lojas, escritórios
e hospitais.
O primeiro caso de infeção pelo
novo coronavírus acaba de ser confirmado, este domingo, pelo ministro da Saúde
moçambicano, Armindo Tiago. Trata-se de um homem de 75 anos de idade que
regressou do Reino Unido em meados deste mês.
De Moçambique trago o coração
apertado e três batiques comprados na FEIMA - Feira de Artesanato, Flores e
Gastronomia de Maputo que irei emoldurar na parede para me lembrar, sempre, do
que aprendi naquele que é o maior teste à nossa civilização na era atual.
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