quarta-feira, 11 de março de 2020

Olhem as estrelas no céu. Lavem as mãos e as carteiras dos interesses minoritários


Raquel Moleiro, jornalista da corrente de informação apossada pelo carismático tio Balsemão Impresa Bilderberg, é a responsável e autora do Curto de hoje. Sem que seja uma alucinação Raquel vê mais estrelas no céu, boa visão. 

Raquel vê o que Rui Veloso não viu. Por isso cantou e oxalá continue a cantar que “não há estrelas no céu”. Parece que entretanto o Rui foi ao oftalmologista e ele receitou-lhe binóculos em vez de óculos. Afinal as mais estrelas que vimos (nós também as vimos) devem-se ao Covid-19. Globalmente são mais de 4 mil a quem o Covid-19 ceifou a vida. É disso que a jornalista fala impregnada de romantismo que nos toca. É, não é?

Recomeçando: Bom dia, este é o seu Expresso Curto, que roubámos da chafarica do tio Balsemão. Sem mais preâmbulos convidamos que o leiam e se atualizem. Pensem, acima de tudo, sobre o significado das palavras inseridas. Não dói nada.

Só mais uma achega: antecipar as férias de Páscoa a nível nacional. Sim ou não? Claro que sim. A ansiedade dos pais e de professores vai em crescendo. As crianças mais tenras também dão mostras dessa mesma ansiedade. Querem ir para a escola… mas não querem por medo do Covid-19. Eles estão nessa inquietação e contam com pais e professores para resolverem o assunto. Porque temos de os proteger. Porque é isso que mais queremos, devemos mandar tudo às urtigas e ser radicais na proteção de todos nós. Que os “mais entendidos” e com poderes de decisão se deixem de andar a tapar o sol com uma peneira e medidas avulsas decididas tardiamente. Ajam, em vez de reagirem por sistema. Ataquem, em vez de só aplicarem defesas tardiamente. Também aos cidadãos convém não andarem a brincar com coisas muito sérias e a contagiarem outros por desleixo. A nossa saúde está primeiro. Muito antes da economia e das charadas político-partidárias de organizações que muitas das vezes têm por objetivo protegerem interesses de minorias.

Ganhem juízo. Não contribuam para existirem mais estrelinhas no céu deste planeta.

Bom dia e muito boas decisões para a proteção da vida do coletivo. Lavem as mãos e as carteiras dos interesses só de uns quantos.

MM | PG



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Há demasiadas estrelas no céu

Raquel Moleiro | Expresso

Bom dia

Não se fala de outra coisa. E quando o tema está tão disseminado quanto o coronavírus, o assunto acaba por chegar às perguntas das crianças. Explica-se com filtros aquilo que a televisão dá de forma mais crua, mas é difícil travar o questionário de um miúdo de sete anos quando até na escola lhe mudam as rotinas para lutar contra a entrada da Covid-19. O acolhimento da manhã é agora ao ar livre, fora do pavilhão habitual; há uma intransigência anormal quanto ao esquecimento da lavagem das mãos e uma obrigação de esfregá-las com um líquido cujo cheiro “arde no nariz”.

Nas notícias contabilizam-se mortes, muitas. “Mais de mil?”, pergunta. Muito mais: 4.015 mortes a nível mundial, 3140 das quais na China (às 8h de quarta-feira). “O céu vai ficar com demasiadas estrelinhas”, concluiu com ar sério. Mas ainda não há nenhuma de Portugal. Fala-se apenas de um caso mais grave, internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa. A nível mundial, quase 65 mil infetados já estão curados.

No recreio criam-se novos jogos. Na ‘apanhada do corona’, quem é apanhado apanha a fingir a doença. E é para que a brincadeira não se torne realidade que António Costa vai reavaliar esta quarta-feira, em reunião com o Conselho Nacional de Saúde Pública, se encerra todas as escolas a nível nacional, numa antecipação das férias da Páscoa que só deveriam arrancar a 27 de março. Na verdade, já há dezenas de estabelecimentos de ensino fechados, de todos os níveis, do Minho ao Algarve, devido ao aparecimento de vários casos de infeção em alunos e professores.

A verificar-se, será uma medida inédita em Portugal. Tal como se for decretado o fecho de fronteiras por questões de saúde, que o Governo também já aflorou como possível. Ainda na terça-feira, a Áustria fechou a linha fronteiriça com Itália, um território em total isolamento por decreto. Portugal ficou-se, por enquanto, pela suspensão até 24 de março das ligações aéreas para todas as regiões italianas, onde voltou a bater-se o recorde de fatalidades - 168 - em apenas 24 horas, todas na Lombardia, num total de 631 vítimas. Entre 10.149 infetados apenas 1.004 já tiveram alta.

"É preciso conter, conter, conter", não se cansa de repetir Graça Freitas, a diretora-geral de Saúde. O último boletim epidemiológico da DGS revela que há em Portugal 41 infeções confirmadas, 375 suspeitas e 667 pessoas em vigilância, a maioria no norte do país.

E à medida que crescem os números, há um país que se isola. Só ontem, terça-feira, foi decidido que todos os jogos da I e II ligas vão jogar-se à porta fechada, a Meia Maratona de Lisboa foi adiada, os desfiles do Portugal Fashion arrancam quinta-feira mas só com acesso para profissionais de moda e jornalistas, foram canceladas as procissões da Semana Santa de Braga, equipamentos públicos encerraram em Gaia e Gondomar, Lisboa e Porto suspenderam atividades desportivas e fecharam museus, bibliotecas, teatros e piscinas, Sintra cancelou todos os eventos públicos, Bloco de Esquerda e CDS-PP reduziram agenda e PS adiou eleições, canais de televisão acabaram com público em estúdio nos programas de entretenimento...

Às portas fechadas somam-se centenas de pessoas fechadas dentro de portas, em quarentena ditada pelas autoridades de saúde ou em isolamento voluntário, principalmente em Felgueiras e Lousada. Mas quando surgem sintomas, a solução não surge rápida com uma chamada para o SNS24. Graça Freitas garante que estão a trabalhar no reforço, mas na terça-feira mais de metade das chamadas recebidas não foram atendidas. Enquanto espera por uma voz do outro lado da linha, consulte aqui o guia do Expresso "E se tiver coronavírus?"

O impacto económico do surto é inevitável. O Governo anunciou já um pacote de apoio às empresas afetadas, mas Costa não vê “qualquer razão” para mudar as medidas aprovadas no Orçamento do Estado. A União Europeia sai também em auxílio com um Fundo de Investimento que pode ir até 25 mil milhões de euros.

Com os acontecimentos a acompanharem a rapidez do surto, siga aqui ao minuto as últimas novidades da Covid-19.

OUTRAS NOTÍCIAS (com Covid-19)

Alcochete, a derradeira palavra. No fim de fevereiro, Bruno de Carvalho foi o último dos 44 arguidos do ataque à academia do Sporting, em Alcochete, a ser ouvido no Tribunal de Monsanto. Esta quarta-feira, é dia de alegações finais. Só falta saber se o vírus manterá as portas abertas ao público, uma vez que o mediatismo e o número elevado de arguidos encherá a sala para lá do razoável em tempos desfavoráveis a ajuntamentos. Ao Expresso, a Comarca de Lisboa explica que a decisão cabe a cada juiz, enquanto não há plano de contingência.

Justiça sem sorteio. Resultados preliminares da investigação do Conselho Superior da Magistratura, a que o Público teve acesso, mostram que centenas de processos foram atribuídos manualmente na Relação de Lisboa nos últimos 15 anos.

Milionários a recibos verdes. Segundo o Jornal de Notícias, há em Portugal sete mil milionários, a maioria advogados e agentes no setor imobiliário, a passar recibos verdes. Ganham mais de 650 mil euros anuais e estão no maior escalão

Weinstein, a sentença. O antigo produtor de cinema Harvey Weinstein, 67 anos, já foi considerado culpado pelos crimes de violação e agressão sexual de duas mulheres, mas só hoje conhece a pena, que pode variar entre os dois e os 25 anos de prisão.

UK, o primeiro orçamento. O recém-empossado ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, apresenta esta quarta-feira o primeiro orçamento pós-Brexit. Em pleno surto epidémico, viu-se obrigado a incluir medidas de emergência de apoio ao serviço nacional de Saúde. O Reino Unido estima que 20% dos trabalhadores do país poderão contrair a Covid-19. Esta semana, a própria ministra da saúde anunciou estar contaminada com o novo coronavírus, o mesmo que obrigou ao adiamento do jogo marcado para esta quarta-feira entre o Manchester City e o Arsenal, por se suspeitar que alguns jogadores possam ter sido infetados pelo dono do Olympiakos durante uma partida da Liga Europa. Segue-se uma quarentena de 14 dias.

EUA, com Biden à frente. Joe Biden ganhou a Bernie Sanders nas primárias do Michigan, Mississipi, Missouri e Idaho e está cada vez mais perto da nomeação como candidato democrata às presidenciais de novembro, onde defrontará Donald Trump. Mas a corrida eleitoral está a sofrer percalços com a expansão galopante da Covid-19 nos Estados Unidos, onde conta já com mais de mil casos de infeção e 31 mortes, disseminados nas duas costas e centro do país.

Síria, uma tristeza sem fim. Alaa Al-Youssef, sírio de 28 anos, relata à Helena Bento como é viver atualmente entre os escombros de Idlib, a cidade de que todos fogem rumo à Turquia, que agora escancarou as fronteiras para a Europa. É o capítulo VII de um conjunto de artigos sobre “um novo desastre humanitário”.

Cofina, o negócio que não chegou a ser. A empresa proprietária do Correio da Manhã e da CMTV informou a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários de que não conseguiu concluir com sucesso o aumento de capital indispensável para a compra da Média Capital e desistiu da compra da TVI e da Rádio Comercial.

FRASES

"Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo", Jair Bolsonaro, presidente do Brasil

“Infelizmente, o estado de saúde do nosso escritor Luis Sepúlveda continua a inspirar cuidados e preocupação”, Porto Editora

"Se não nos encarregarmos de fazer a história da Direita em Portugal, outros, vindos das franjas, com voz de protesto, a farão por nós", Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS

"Não somos sequer uma equipa", José Mourinho, depois do Tottenham ser afastado da Champions pelo Leipzig.

O QUE ANDO A LER

Eu e a Marie Kondo [estrela japonesa das arrumações e do minimalismo] nunca seriamos amigas. Eu gosto de coisas, de muitas coisas. E adoro uma boa feira, perder-me por lá horas, escavar em cada banquinha de tralha e ir para casa cheia de mais coisas. Kitsch quase sempre, vintage quando tenho sorte. O estado oposto ao ‘less is more’ da minha casa proíbe-me de meter os pés na Feira da Ladra, mas a do Relógio, em Marvila, a última a que fui, parecia segura. É mais trapos contrafeitos vendidos aos berros e alimentos frescos (ou mesmo vivos). Os primeiros dispenso e a comida tem residência curta na cozinha.

Erro. Feira é feira.

Entre um vendedor de cãezinhos de brincar feios-que-dói e a delegação local da loja do Benfica, estava um senhor a vender restos do recheio de uma casa. E as casas têm livros. E aquela tinha a "Volta ao Mundo", do António Mattoso e do Oliveira Boléo, um historiador e um geógrafo que juntos escreveram o compêndio de ciências geográfico-naturais para o ciclo preparatório dos anos 50-60, em jeito de história contada ao menino António Maria, 13 anos, que "gostava muito de ler e de se instruir".

Foi a capa que me captou primeiro a atenção, toda ela desenhos de bichos e plantas, e a compra ficou decidida quando li a assinatura do artista: Calvet de Magalhães, o diplomata que dá nome à rua onde se situa o edifício do Expresso, em Paço de Arcos.

Lá dentro, há todo um tratado de um Portugal que já não existe, profusamente documentado por desenhos e fotografias. E os rios, as rochas, as salinas, a pesca do atum, o esforço humano, o recorte da costa, os portos fluviais, as árvores, o solo arável, o fogo e até as estrelas, daquelas que não são demasiadas. Está ultrapassado, claro, mas só a linguagem e o cheiro a biblioteca nacional já valem a leitura.

Um dia talvez vá tentar saber se ainda existe a Escola Técnica Elementar Eugénio dos Santos de onde veio. O nome está na contracapa, escrito a caneta azul, letra ainda infantil, logo debaixo da identificação do seu proprietário original: José Manuel Nunes Vieira, aluno nº 232. Será dele a folha de feto, espalmada há décadas na página 215, entre o aparelho respiratório e o coração?

Tenha um ótima quarta-feira e acompanhe toda a atualidade no ExpressoTribuna e Blitz. Às 18h há Expresso Diário, enquanto vamos preparando a edição impressa do próximo sábado.

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